"Por ela e por nós": mulheres fazem novo protesto por Mari Ferrer
Cerca de 40 meninas manifestaram-se, nos altos da Afonso Pena, contra a decisão da Justiça que absolveu acusado de estupro
Empunhando cartazes com frases feministas, cerca de 40 meninas participaram de manifestação neste domingo, nos altos da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, contra decisão da Justiça que absolveu empresário acusado de estuprar a blogueira Mariana Ferrer. Protestos, organizados pelas redes sociais, foram realizados simultaneamente em outras capitais brasileiras.

“Use sua voz”; “Até quanto teremos medo”; “Minha roupa não me define”; “Não existe estupro culposo”; “A sociedade ensina ‘não seja estuprada’ ao invés ‘de não estupre’”, “Por ela e por nós”, “Juntas somos mais fortes” e “O abusador estupra nosso corpo e a Justiça goza na nossa cara. Basta”. Impressas em cartazes, as frases foram utilizadas conscientizar as pessoas e chamar a atenção para a dificuldade de se comprovar casos de estupro na Justiça mesmo com provas e testemunhas.

A comoção nacional surgiu a partir a caso da blogueira Mariana Ferrer. Ela acusa o empresário André de Camargo Aranha de tê-la estuprado em dezembro de 2018, durante uma festa em Florianópolis. Além de absorver o acusado mesmo diante da apresentação de provas e de testemunhas, o julgamento foi marcado pela humilhação da vítima pela defesa do réu.
Fisioterapeuta, Karina Rodrigues Kailler Costa, 26 anos, soube da manifestação pelas redes sociais. Ligada a movimentos de direitos humanos, ela acha importante participar de ações deste tipo. “As mulheres querem ser ouvidas. Os movimentos aqui em Campo Grande são muitos fracos porque é uma cidade conservadora. Esse movimento é em prol da mulher para que ela viva numa sociedade melhor”, ressaltou.
Karina lembrou que a deslegitimação por parte das instituições ocorreu mesmo diante da denúncia de uma vítima branca e de classe média, portanto, com alguns privilégios, o que pode indicar silenciamento destes casos quando envolvem mulheres negras e periféricas. “O que mais me revolva nesse caso é a impunidade. Homens brancos e ricos sempre saem ilesos a essas coisas. Não temos voz ativa. Temos que gritar para sermos ouvidas. É um luta infinita”, afirmou.
Para representar as agressões sofridas pela blogueira, parte das manifestantes pintaram os corpos de vermelho e usavam roupas brancas como as de Mariana no dia do estupro.

Ativa nos movimentos feministas, a estudante de Letras, Isabella Fernandes, 19 anos, ressalta a importância da causa. “É um caso que caiu na mídia, ganhou grandes proporções. É uma situação que gera desconforto e acontece sempre e algumas pessoas se identificam com isso”, justifica.
Segundo ela, situações como esta podem representar um desestímulo a denúncias de estupro e agressão. Essa situação é um desestimulo a denuncia de agressões.
“Conheço centenas de meninas que passam por isto e não denunciam. Neste caso, quando a pessoa tem a prova que isso aconteceu, nada é feito. É revoltante porque o menino, por ter dinheiro e conseguir um advogado, que entrou com defesa ridícula, conseguiu se safar. “A Justiça não é cega. Ela é paga para não ver”, afirmou.
Na última sexta-feira, outro protesto em favor da Maria Ferrer foi realizado na Afonso Pena, em frente ao MPF (Ministério Público Federal).
Estupros – De acordo com a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), em 2020, 374 mulheres foram estupradas em Campo Grande e a polícia recebeu denúncias de 1.330 casos em Mato Grosso do Sul. Comparado com o mesmo período do ano passado, os números são menores. Na ocasião, 538 vítimas foram violadas e 1.696 fizeram denúncia.
Mulheres vítimas de agressão podem comunicar o caso pelo número 180.