Prefeitura admite que 20 comunidades vivem como em favela que pegou fogo
Números mais recentes do IBGE indicam quase o dobro de locais com barracos em áreas irregulares na Capital
Campo Grande tem centenas de pessoas vivendo na mesma situação que a dos moradores da Comunidade do Mandela, localizada na região norte, que tiveram seus barracos queimados em incêndio no fim da manhã de ontem (17).
Os últimos dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística) mostram que, entre 2010 e 2019, o número de favelas na Capital saltou de apenas três para 38. A prefeitura contesta. Segundo a Emha (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários), cerca de 20 áreas públicas estão ocupadas de maneira irregular, em processo de regularização fundiária.
Ainda conforme a Emha, na atual gestão, mais de 5 mil processos de regularização foram concluídos ou já estão em fase de finalização. “A agência irá realizar um novo levantamento sobre as ocupações, uma vez que nos últimos anos houve alteração significativa de demanda e redução da irregularidade”, informou, por meio de nota.
Na Comunidade Esperança, favela localizada no Bairro José Teruel Filho, na região do Dom Antônio Barbosa, na saída para Sidrolândia, muitas famílias, por necessidade financeira, passaram a ocupar a área recentemente. O servente de pedreiro William do Nascimento Soares Júnior, de 33 anos, construiu o barraco e há três semanas vive com a esposa e os quatro filhos de 2, 6, 8 e 13 anos no local.
Segundo o pedreiro, a esposa tem cadastro na Emha há 12 anos e nunca conseguiu nada. “Logo, logo, em nome de Jesus, a gente vai sair daqui”, disse. A única renda fixa da família é o benefício de R$ 600 que a esposa recebe do Bolsa Família. William trabalha de forma autônoma e quando consegue fazer serviço recebe R$ 380 por semana.
Ele reclama que as pessoas costumam atear fogo para queimar lixo, jogado no entorno pelos próprios moradores da região. “Aqui os barracos são feitos de lona e qualquer faísca pode acabar com tudo”, disse.
Trabalhando com reciclagem e sem alternativa de moradia, Danilda Ferreira Souza, de 52 anos, teve que se mudar há três meses com o filho para um dos barracos da Comunidade Esperança. Ela tenta receber algum benefício do governo, porque atualmente não consegue trabalhar todos os dias. “Vivo com HIV, depressão e fibromialgia”, contou.
Segundo Danilda, tem inscrição na Emha, mas até hoje não foi contemplada. “Aqui a gente passa por tudo, nosso desafio é diário, primeiro porque a gente não sabe até quando vamos poder ficar aqui. A gente não tem condições de pagar aluguel, não tem outro jeito, por isso viemos pra cá”, destacou.
A dona de casa Daniela da Silva, de 28 anos, mora com o esposo e três crianças, de 2, 7 e 10 anos, na favela. Ela tem bolsa família de R$ 600, o marido está desempregado, mas faz bico para ajudar nas despesas. “Ninguém está aqui porque quer. A gente está aqui porque precisa. Não temos condições de pagar aluguel e comprar comida ao mesmo tempo. A gente vive com medo de perder o pouco que já conquistamos com tanto suor. Porque nada do que está aqui foi de graça”, contou.
Segundo Daniela, tem mês que a família não tem nem o que comer e precisa pedir ajuda para se alimentar. Ela cita como exemplo o filho mais novo que não pode tomar nada derivado do leite, mas a família não tem condições de comprar um alimento especial para ele.
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