Prefeitura perde dinheiro e revolta população com obras paradas
Obras paradas se acumulam e a população da Capital vem somando prejuízos em áreas fundamentais, como saúde, educação e mobilidade urbana. Até dinheiro a prefeitura perdeu por abandonar a construção do Hospital do Trauma e precisa se defender de denúncia no MPE (Ministério Público Estadual) por ter paralisado 28 obras. A situação vem revoltando os campo-grandenses, que estão cansados de esperar pelas benfeitorias.
No Bairro Oliveira II, os moradores aguardam há anos o fim da construção da UBS (Unidade Básica de Saúde). A promessa, segundo a funcionária pública Wanda Fernandes, 42 anos, era abrir as portas do local em agosto do ano passado. “A maioria do pessoal da região não tem plano de saúde e depende do atendimento público”, frisou.
É o caso da família de Manoel Messias Jesus Santos, 41 anos, vizinha da UBS em construção. Ele, sua mulher e sua filha de 11 anos, hoje, correm para o posto de saúde do Bairro Caiçara, em caso de emergência. “O pessoal daqui espera ansioso pela conclusão da obra, será muito bom ter um posto de saúde por aqui”, comentou Manoel.
Segundo ele, a construção do UBS está abandonada desde o início do ano. “Vi um pessoal trabalhando no início do ano, acho que pintaram parte das paredes”, comentou. Wanda fez coro à dificuldade. “Faz tempo que não vejo ninguém mexendo por lá”, reforçou.
Nos bairros Parati e Aero Rancho, a construção das UBSs também está parada. De acordo com o titular da Seintrha (Secretaria de Infraestrutura, Transporte e Habitação), Semy Ferraz, as empresas vencedoras das licitações abandonaram a obra pela metade e novos processos precisarão ser abertos.
Ainda no setor da saúde, segue sem sinais de evolução a construção do Hospital do Trauma. Da mesma forma que as UBSs, a obra conta com recursos para ser tocada, mas continua abandonada. Pelo menos R$ 3 milhões estariam disponíveis, mas sem a devida prestação de contas, o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) pediu de volta R$ 1,5 milhão, doados em março do ano passado.
Belas Artes - Há mais de 20 anos projetado, o prédio do Centro Cultural de Belas Artes segue em ritmo lento. Atualmente, cerca de seis operários trabalham na obra e seguranças particulares ficam no local na parte da noite. “Imaginam, seis pessoas para o tamanho dessa obra, então, o resultado é esse: a passos de tartaruga”, classificou o empresário Aparecido Francisco do Nascimento, 47 anos.
Ele tem um comércio na frente da obra e sonha com a abertura do espaço. “Trará mais desenvolvimento para a região, além de fomentar a cultura, uma área com poucas opções na cidade”, comentou. A obra começou no início dos anos 90, para ser a nova Estação Rodoviária de Campo Grande, e chegou a ser inaugurada em 1994 pelo então governador, Pedro Pedrossian.
Segundo Semy, o ritmo lento é resultado de erros na execução da obra. “A empresa não seguiu a planilha, por exemplo, fez sala de dança, onde deveria ser a de música. Agora, temos que modificar o projeto e arrumar mais R$ 900 mil para bancar as alterações”, explicou. Para o centro, o Governo Federal liberou quase R$ 3,2 milhões.
Perto dali, está parada a urbanização da Orla Morena II, trecho entre a Eça de Queiroz e o Cabreúva. A obra, inclusive, é listada pelo ex-prefeito Nelsinho Trad (PMDB) em denúncia ao MPE (Ministério Público Estadual), na qual elenca outras 27 ações “abandonadas” pelo prefeito Alcides Bernal (PP) e com risco de gerar prejuízos aos cofres públicos.
Na lista, Nelsinho cita as escolas dos bairros Paulo Coelho Machado e Parati, unidades de saúde em 17 bairros, inclusive três de pronto atendimento nas Moreninhas, Jardim da Lapa e Santa Mônica. No caso das Moreninhas, no mês passado, Bernal anunciou a retomada das obras.
Ceinfs – O ex-prefeito também denunciou ao MPE o abandono dos Ceinfs (Centros de Educação Infantil) em 19 bairros. Segundo ele, o dinheiro para construção já está assegurado por meio do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) Social.
Semy, por sua vez, alegou problemas técnicos em alguns casos. “No Ceinf da Vila Nogueira, a área licitada pelo Nelsinho está invadida. Estamos esperando decisão judicial para dar largada às obras”, explicou. Nos bairros Cristo Redentor e Arnaldo Figueiredo, o problema também envolve o terreno.
“No primeiro caso, a gestão anterior licitou a área em cima do lixão do Itamaracá. Na outra situação, em cima de uma praça feita pelos moradores do Arnaldo Figueiredo, que não aceitam abrir mão do espaço”, detalhou o secretário.
Mobilidade – No quesito mobilidade urbana, vem preocupando a população o atraso de algumas ações. Moradores, por exemplo, da região do Rádio Clube Campo estão cansados de esperar pela liberação de trecho da Spipe Calarge, interditada há 62 dias.
O empresário Sidicrei Ferreira da Silva, 39 anos, perdeu 30% da clientela por conta da redução na circulação de veículos pela região. “Por causa da interdição, moradores de bairros como Coopharadio e Universitário não passam mais por aqui”, citou. “Eles também foram obrigados a desviar muito por perderam essa opção de trajeto”, emendou.
Conforme Semy, o trecho deverá ser aberto ainda esta semana, quando está previsto o início do recapeamento da Spipe Calarge. “Para diminuir os transtornos, vamos interditar de quadra em quadra”, adiantou. O investimento da prefeitura é de R$ 980 mil por meio do projeto “Recape em Ação”, lançado dia 26 de agosto.
Pelo programa, a promessa é recapear 12 avenidas. Do total, apenas na Spipe a obra tem previsão para começar. Na segunda-feira (7), a promessa é abrir a licitação para revitalizar a Avenida Guaicurus. “Nas demais estamos finalizando os projetos para divulgar os pregões ainda este mês”, disse Semy.