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Capital

Preso em operação contra “engravatados” é acusado de ameaçar vizinho de morte

Advogado criminalista investigado pelo Gaeco teria dito que poderia encomendar “serviço” de cliente

Anahi Zurutuza, Ana Beatriz Rodrigues e Jhefferson Gamarra | 25/03/2022 18:20
De terno, advogado Bruno Ghizzi, um dos investigados pelo Gaeco por fazer parte da "Sintonia dos Gravatas". (Foto: Henrique Kawaminami)
De terno, advogado Bruno Ghizzi, um dos investigados pelo Gaeco por fazer parte da "Sintonia dos Gravatas". (Foto: Henrique Kawaminami)

Preso na Operação Courrier, que mira advogados a serviço de facção criminosa, Bruno Ghizzi é acusado de fazer ameaças a vizinhos no condomínio onde mora. De acordo com boletim de ocorrência, registrado no dia 29 de julho do ano passado por uma das vítimas, tudo aconteceu no Acqua Verano, prédio na Avenida Rachid Neder, em Campo Grande, onde o criminalista investigado teria dito para outro morador que “trabalha com criminosos” e poderia pedir a algum de seus clientes que fizesse “o serviço”.

O homem de 56 anos, que foi à Polícia Civil, entendeu o recado como uma ameaça de morte. O denunciante admitiu que teve desentendimentos com outros moradores e disse aos policiais que, na noite do dia 28 de julho, se encontrou com Ghizzi na porta do elevador. O advogado teria aproveitado a oportunidade para dar o ultimato. Segundo o depoimento, disse que se o vizinho tentasse voltar para cargo que ocupou na administração do residencial, poderia ter “prejuízos maiores” do que simplesmente perder a função na gestão condominial e fez ameaças a familiares do depoente, que também moram em apartamentos no edifício.

Na 1ª Delegacia de Polícia, as quatro pessoas manifestaram o desejo de representar criminalmente contra Bruno Ghizzi. Por isso, o caso foi parar na Justiça em 17 de fevereiro deste ano.

O advogado foi à delegacia no dia do registro da ocorrência e entregou imagens do circuito interno de segurança do prédio e do olho mágico digital, que ele tem instalado na porta do próprio apartamento. Ghizzi disse à polícia que os vídeos provam ser mentirosa a versão do vizinho, porque naquele dia e horário, ele não dirigiu uma palavra sequer ao morador que o denunciou. Na Justiça, o profissional do Direito não se manifestou ainda.

Prisões – O criminalista foi preso nesta manhã, depois que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e o Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) vasculharam o apartamento e o escritório dele. Conforme apurado pelo Campo Grande News, Bruno Ghizzi foi levado para o Presídio Militar, no Complexo Penal do Jardim Noroeste, onde outros três advogados alvos da força-tarefa também estão custodiados.

No fim da tarde desta sexta-feira (25), funcionários da OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil Seccional de Mato Grosso do Sul) entregaram quatro colchões na unidade penal destinada a militares presos, mas também a quem tem direito a cela especial. A entidade, por meio da Comissão de Defesa e Assistência das Prerrogativas dos Advogados, acompanhou toda a ação.

Funcionário da OAB-MS entregando colchões para advogados que passarão a noite em presídio. (Foto: Kísie Ainoã)
Funcionário da OAB-MS entregando colchões para advogados que passarão a noite em presídio. (Foto: Kísie Ainoã)

No total, seis advogados são investigados pelo Gaeco por fazerem parte de núcleo chamado “Sintonia dos Gravatas”, responsável por dar suporte ao PCC (Primeiro Comando da Capital) levando mensagens de presidiários para faccionados que atuam de fora da cadeia e vice-versa. Os nomes dos investigados não foram divulgados.

A reportagem apurou que além dos advogados, Jonathas Wilson Moraes Cândido, que é agente penitenciário, também foi preso. Outro suspeito de fazer parte do núcleo de “apoio jurídico” da organização criminosa, conforme apurado, é o chefe do cartório da 1ª VEP (Vara de Execuções Penais) da Capital, Rodrigo Pereira da Silva Correa. Há ainda um servidor da Defensoria Pública supostamente envolvido no esquema.

Ao todo, segundo o Gaeco, foram cumpridos hoje 38 mandados judicias em Campo Grande, Dourados, Jardim e Jaraguari. Parte deles é de prisão preventiva (por tempo indeterminado). As ordens, de acordo com o apurado pelo Campo Grande News, são do juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian, da 2ª Vara Criminal.

Na Capital, a força-tarefa esteve no Acqua Verano e em um coworking (onde várias companhias compartilham a estrutura para operar), localizado na Avenida Afonso Pena, entre a Rui Barbosa e a Pedro Celestino, endereços onde Bruno mora e trabalha, respectivamente. Equipes também vasculharam casa na Rua Sebastião Lima, no Jardim Monte Líbano, de onde homem saiu preso. Pelo menos uma arma foi apreendida durante as buscas na Capital.

Integrantes do Gaeco chegando com arma apreendida à sede do Garras, após dia de buscas. (Foto: Paulo Francis)
Integrantes do Gaeco chegando com arma apreendida à sede do Garras, após dia de buscas. (Foto: Paulo Francis)

Atentado - Conforme as investigações iniciais, os advogados “valem-se, criminosamente, de suas prerrogativas constitucionais para transmitirem recados de faccionados presos a outros membros da organização criminosa, inclusive, referentes a planejamento de atentados contra a vida de agentes públicos”. As ameaças estavam direcionadas a um promotor do Gaeco e um juiz.

“Courrier” é palavra francesa que na tradução literal para o português significa “correspondência”. O nome da operação faz referência, portanto, ao “leva e traz” de informações de dentro para fora de penitenciárias.

Além do Gaeco e Garras, foram às ruas de Mato Grosso do Sul para dar cumprimento aos mandados, policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário).

Manifestações - A OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Mato Grosso do Sul) criou Comissão Especial para acompanhar as investigações da Operação Courrier. Mansour Elias Karmouche, membro vitalício da ordem e conselheiro federal, afirma que a entidade precisa “dar respostas enérgicas, porque o caso é gravíssimo”. Foi ele quem propôs a formação de comissão especial.

A Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) informou que "está acompanhando o caso e colaborando com as investigações". "O suporte está sendo oferecido, inclusive, pela Gisp".

Por meio da assessoria de imprensa, a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul informou que não há defensores públicos investigados, mas que "acompanha o caso" do servidor "citado" e "aguarda por mais informações a respeito da operação". O órgão afirmou, via assessoria de imprensa, que "está à disposição para colaborar com as instituições que realizam a investigação no que for necessário".

O TJMS (Tribunal de Justiça) foi consultado pela reportagem, mas não se manifestou até o fechamento da matéria.

Com colaboração de Gabrielle Tavares e Aline dos Santos.

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