Procurador teria dado álcool a adolescentes e prometia até viagens
Prometendo viagem à Alemanha e embebedando as vítimas, o procurador aposentado Carlos Alberto Zeolla, 51 anos, abusou de um adolescente de 13 anos e de dois garotos, um de 10 e outro de 11 anos, conforme depoimentos feitos à polícia, de acordo com o delegado Mario Donizete Ferraz de Queiroz, da DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente). O procurador foi preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) na manhã desta sexta-feira (24), suspeito de estuprar um adolescente.
Responsável pelo caso, o delegado Mario Donizete disse que as investigações sobre Zeolla começaram a ser feitas em 2015, quando o adolescente de 13 anos foi até a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) e denunciou que era abusado por um homem conhecido como “Carlos Xará”, que seria procurador aposentado. Na época, a delegada Daniela Kades era responsável pelo caso e identificou mais duas crianças, um menino de 10 e outro de 11 anos.
Donizete explicou que a forma de agir de Zeolla era sempre a mesma: ele ia até o bairro Loteamento Nova Serrana, que fica próximo ao Jardim Noroeste, na região leste de Campo Grande, com o pretexto de ajudar famílias carentes para se envolver com as vítimas. Segundo dados das investigações, o procurador dava presentes às crianças e ao adolescente, como celulares e perfumes.
Como as famílias do bairro fotografavam as placas do veículo do procurador, diante de acesso a sistema de verificação de placas a delegada Daniela constatou que o automóvel estava registrado em nome de Zeolla. A par dessa identificação e de outros indícios da investigação, Cadis pediu a prisão preventiva do suspeito, sendo esta decretada apenas em abril deste ano.
Ainda de acordo com o delegado Mario Donizete, os depoimentos das três vítimas foram dados à delegada no ano passado. O adolescente de 13 anos teria dito que Zeolla prometeu levá-lo à Alemanha para passear, enquanto as outras duas crianças confirmaram que eram embebedadas pelo procurador, que depois praticava abuso contra elas.
Investigações prejudicadas – O delegado disse que a DPCA ficou sabendo da prisão de Zeolla apenas hoje cedo. Ele foi encaminhado ao Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Campo Grande.
Essa medida prejudicou as investigações, de acordo com Mario Donizete, pois o procurador ainda não foi ouvido pelo delegado. Agora, o juiz do processo será oficializado pela DPCA para que Zeolla seja transferido para a delegacia para prestar depoimento. “O que falta no caso é ele ser interrogado e indiciado”, observou Mario.
O depoimento de Zeolla na DPCA será feito provavelmente na segunda-feira (27), segundo o delegado. Ofício encaminhado hoje ao juiz solicita o deslocamento do procurador à delegacia.
Caso seja comprovado que Zeolla realmente abusou das três vítimas, inclusive as embebedando com álcool, ele pode ser condenado por três tipos de crime: estupro de vulnerável, com pena de oito a 15 anos de prisão; exploração sexual de adolescente, com pena de quatro a dez anos de prisão, e fornecimento de bebida alcoólica a adolescentes, com pena de seis meses a dois anos.
Defesa – A defesa de Zeolla é feita pelos advogados José Belga Trad e Rodrigo Passos. Trad disse que assumiu o caso nesta sexta-feira e relatou não saber sobre qual crime o cliente está sendo acusado. “Não tenho a mínima a ideia”, declarou.
Os advogados foram até a DPCA, pois ficaram sabendo que Zeolla seria ouvido hoje e caso isso acontecesse, eles iriam até o Centro de Triagem para conversar com o procurador e repassar as orientações.
José Trad ressaltou que Zeolla dispõe de várias prerrogativas por ser aposentado como membro do MPE (Ministério Público Estadual). Uma delas é que ele tem direito a ser recolhido em uma cela de Estado Maior ou prisão domiciliar. Esse direito é concedido aos membros do ministério.
O advogado também falou que no Centro de Triagem não existe Sala de Estado Maior e que independentemente da acusação e do crime, vai pedir que o cliente seja transferido para cela de Estado Maior. Caso não haja esse tipo de cela em Campo Grande, pedirá prisão domiciliar ao cliente.