Sem leitos, Hospital Regional atende pacientes em macas no corredor
Superlotação atinge outras unidades de saúde e problema é generalizado na Capital
As cenas gravadas pela assistente social, de 27 anos - que preferiu manter o nome em sigilo por receio de que a atitude gere problemas à mãe, que espera por uma cirurgia na vesícula - mostrou o cenário preocupante e generalizado em Campo Grande: a superlotação das unidades de saúde, públicas e privadas. No HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul), local onde as imagens foram feitas, a falta de leitos é tamanha que pacientes estão sendo atendidos nos corredores.
A jovem ressaltou ao Campo Grande News que o hospital justifica a situação pela falta de leitos na Santa Casa. “Eles falam que por conta da demanda a Santa Casa fechou as portas, daí vem tudo pra cá”.
A assistente social revelou que a mãe, de 47 anos, precisa da cirurgia por conta de pedras e uma inflamação no órgão. A mulher evidenciou a precariedade dos atendimentos. As duas foram encaminhadas da UPA Leblon para o Regional nesta terça-feira (30), por volta das 15h30, realizaram a triagem e aguardam por uma maca até a madrugada desta quarta-feira (31).
"Ela ficou até as 4h40 em uma cadeira de escola. Não tinha maca para todos. Só uma cadeira nesse horário para que ela pudesse tentar descansar. E desde o momento que ela chegou até agora, nenhum médico veio até ela esclarecer o caso ou dizer quando poderá fazer a cirurgia”, disse.
Outro problema evidenciado pela assistente social é que a mãe deveria ter passado pela coleta de urina assim que chegou no hospital, mas o exame só foi realizado às 3h da manhã. “Por falta de comunicação entre os funcionários, pois ela poderia ter colhido desde o momento que ela chegou. Está um caos aqui”.
De acordo com a filha, não há previsão de quando a mãe fará a cirurgia. Por hora, ela e os outros pacientes aguardam em macas nos corredores.
Até agora, ninguém esclareceu nada e quando vamos atrás de respostas é um descaso, falta de educação. É lamentável ver todos passando por isso. Minha mãe sentindo dor a madrugada inteira em uma cadeira escolar", disse.
Resposta - Em nota, o HRMS informou que vem operando com alta demanda e que a situação atual superou a capacidade de acomodação de 67 leitos no PAM (Pronto Atendimento Médico), com 50 pacientes sendo atendidos nos corredores do setor na manhã desta quarta-feira (31).
“É importante frisar que o HRMS oferece toda a assistência necessária aos pacientes encaminhados e que vê a necessidade de melhorias no fluxo quanto à regulação municipal no sentido de minimizar o impacto da superlotação em unidades de saúde”, pontuou.
Colapso - No início do mês de abril, o Campo Grande News noticiou que o Centro Obstétrico da Santa Casa de Campo Grande estava em ponto de colapso. Isso porque 33 leitos de internação destinados ao SUS (Sistema Único de Saúde) estavam ocupados. Segundo nota enviada pelo hospital no dia 11 de abril, durante o início da noite, a ala enfrenta superlotação extrema.
A reportagem do Campo Grande News teve acesso ao número de pacientes internados na quinta-feira (11). Além da escassez de leitos-SUS, 15 pacientes ocupavam quarto destinado apenas a quatro leitos. Cinco recém-nascidos aguardam por leitos de cuidados especiais, uma puérpera aguarda por leito de enfermaria e dois pacientes aguardam por um leito de recuperação/pós-cirúrgico.
No comunicado, a assessoria de imprensa afirma que enviou ofícios ao MPE (Ministério Público Estadual) e aos órgãos competentes para comunicar o risco de desassistência a mulheres grávidas e puérperas. "O hospital segue sem condições técnicas para receber pacientes de forma segura".
UPAs - Nas UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) o cenário não é diferente, a demora pelo atendimento médico, muitas vezes, supera as quatro horas estipuladas pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), como tempo "normal' de espera. Durante todo o mês, o Campo Grande News recebeu reclamações de pessoas que chegaram a aguardar até sete horas nas unidades de saúde.
Diante do cenário crítico, o secretário Municipal de Saúde, Sandro Benites, admitiu nesta segunda-feira (29), durante audiência pública na Câmara de Municipal de Campo Grande, que a falta de médicos tem dificultado a montagem de escalas, resultando na superlotação de pacientes em UPAs e unidades de atendimento da rede municipal de saúde.
Para tentar resolver a situação, o gestor informou que serão convocados 45 médicos inscritos no programa de contratação temporária para reforçar o atendimento e que a situação deverá ser normalizada a partir do dia 1º de junho.