Sem lixão, catadores perdem 90% da renda e pedem ajuda para sobreviver
Enquanto o impasse sobre a ampliação da coleta seletiva de lixo na cidade continua, trabalhadores que atuavam no lixão continuam sem assistência do poder público, e veem a situação financeira se agravar a cada dia. Com pouco lixo para reciclar na UTR (Unidade de Tratamento de Resíduos), famílias carentes perderam até 90% da renda e agora recorrem a ajuda de parentes e até do padre da comunidade para sobreviver.
Jéssica Benitez Guerreiro tem 25 anos e cria cinco filhos no Bairro José Teruel Filho, a 500 metros da BR-262. Por ter perdido os documetnos pessoais, não pode se recadastrar e acabou perdendo os pouco mais de R$ 100 do Bolsa Família. Por sorte a mãe a ajuda na criação dos cinco filhos. Hoje, sem ajuda do governo e dinheiro da reciclagem, ela está sem água em casa e a luz será cortada dentro de poucos dias.
Benitez trabalhou no lixão por sete anos, e desde que ele foi fechado, atua na UTR, mas percebeu que não havia lixo suficiente para reciclar. “Tinha lixo acumulado de seis meses na UTR, e em menos de três dias nós reciclamos tudo”.
Diante disso, ela não acredita que uma provável expansão da coleta seletiva de lixo pela Solurb, de 9 para 18 bairros de Campo Grande, vá solucionar o problema na região. Para a trabalhadora, somente a reabertura da área de transição do lixão pode resolver a questão definitivamente.
O padre Agenor Martins da Silva pertence a Paróquia Nossa Senhora da Guia, na região do Dom Antônio Barbosa, e relata a situação de extrema necessidade de muitas famílias que estão sem a renda do lixão. “As famílias me procuram e dizem 'padre eu estou sem leite, me ajude', e então nós vamos até as outras comunidades e pedimos doações para que essas pessoas não morram de fome”, revelou.
Na tarde dessa terça-feira (22), durante audiência no MPT (Ministério Público do Trabalho), Rodrigo Leão, uma das lideranças dos recicladores chorou ao relatar as dificuldades vividas pelas famílias que foram expulsas do lixão.
Isabel da Silva, 60, também mora no José Teruel Filho com mais duas pessoas, e atualmente sobrevive somente com o dinheiro do Vale Renda (Programa de transferência de renda do governo Estadual) .
Ela relata que na época do lixão ganhava até R$ 800 por semana. Hoje, na UTR, a renda caiu para R$ 90 semanais. “Sou idosa mas tenho que ter forças para trabalhar no lixo e no sol quente, pois não tenho aposentadoria, preciso disso para viver”, relatou.