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Capital

Taxistas falam sobre perigos e choram o colega morto em corrida de R$ 52

Luciano Barbosa Franco foi chamado para levar casal de shopping ao Jardim Carioca, mas perdeu a vida no caminho

Aline dos Santos e Clayton Neves | 28/04/2020 11:02
Sepultamento de Luciano ontem em Campo Grande, o taxista que foi morto com tiro na cabeça durante corrida. (Foto: Henrique Kawaminami)
Sepultamento de Luciano ontem em Campo Grande, o taxista que foi morto com tiro na cabeça durante corrida. (Foto: Henrique Kawaminami)

No vidro traseiro dos táxis, a palavra Luto foi substituída pelas variantes “OBG (Obrigada)” Defurv, PM e Choque na manhã desta terça-feira (dia 28). O agradecimento é pelas prisões dos suspeitos da morte de Luciano Barbosa Franco, o taxista de 44 anos que levou um tiro na cabeça durante corrida com valor de R$ 52.

Em frente à Derfuv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos), em Campo Grande, os profissionais rememoram a angústia das buscas pelo colega e externam os perigos que correm pelas ruas da cidade. A categoria teve a realidade duramente impactada pela tecnologia com a febre dos aplicativos e esperava que ao menos as plataformas digitais oferecessem mais segurança por cadastrar previamente os clientes.

Motorista de táxis desde os 24 anos, Luciano Barbosa também era cadastrado em aplicativo e aceitou uma corrida na noite de sábado (dia 25). O chamado era no Shopping Campo Grande e o destino o Jardim Carioca. De acordo com o delegado Pablo Gabriel Farias da Silva, adjunto da Defurv, o valor da corrida era de R$ 52.

Paulo relata que o crime deixa um amargo sentimento de impotência. (Foto: Henrique Kawaminami)
Paulo relata que o crime deixa um amargo sentimento de impotência. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Era o tipo de corrida que qualquer um faria, era um local público, na principal avenida da cidade. Era uma mulher que chamou para transportar um casal. Além disso, foi em aplicativo e você deduz que quem está chamando é cadastrado”, afirma Paulo Pereira Lima, 50 anos.

Taxista há 16 anos, ele relata que o crime deixa um amargo sentimento de impotência. “Por não termos conseguido evitar a tragédia. Foi uma covardia muito grande com o nosso companheiro. A polícia fez o trabalho dela e estamos aqui hoje para agradecer. Tomara que se faça Justiça daqui para frente”, afirma Paulo.

Trabalhando como taxista há duas décadas, Edinaldo Ribeiro de Lima, 51 anos, avalia que seja no serviço de táxi ou nas plataformas dos aplicativos, os motoristas correm igual perigo e condições adversas de trabalho.

“Está todo mundo no mesmo barco, sofrendo com a insegurança. Existe uma exploração provocada pelos aplicativos, tornando a profissão uma escravidão. Onde o trabalhador precisa se arriscar para levar sustento para os familiares. Já perdemos muitos companheiros por falta de segurança. Já fui a vários velórios”, lamenta Edinaldo.

Para ele, esse é o momento para que a categoria e poder público discutir as dificuldades e regulamentar os motoristas de aplicativos. “Não podemos mais deixar trabalhadores indo embora com foi o Luciano. A família e os trabalhadores estão chorando”, diz Edinaldo.

No vidro traseiro dos táxis, a palavra luto deu lugar a mensagens de agradecimentos após prisões. (Foto: Henrique Kawaminami)
No vidro traseiro dos táxis, a palavra luto deu lugar a mensagens de agradecimentos após prisões. (Foto: Henrique Kawaminami)

O presidente do Sintáxi MS (Sindicato dos Taxistas de Mato Grosso do Sul), Fernando Yonaka, relata a agonia das buscas pelo colega, que já estava morto. Cerca de 80 pessoas se dividiram por Campo Grande, passando por locais onde a vegetação pudesse ocultar o taxista amarrado ou desacordado.

O carro foi rastreado e encontrado sem as rodas. “Nos empenhamos nas buscas, mas infelizmente, o sentimento era de apreensão. É um alívio saber que encontraram os criminosos, são menos três nas ruas”, afirma Fernando.

Presos - Denunciados pela chamada de aplicativo, Stefanie Paula Prado de Oliveira, de 21 anos,  Rayara Laura da Silva Santos, de 19 anos, e o namorado de 17 anos foram presos pelo crime de latrocínio (roubo seguido de morte).

No celular de Stefanie, foi encontrada a solicitação do chamado do táxi da vítima às 23h33 - do Shopping Campo Grande ao Jardim Carioca. Essa foi a última corrida que Luciano fez antes de desaparecer. Eles afirmam que o taxista reagiu ao assalto e foi morto. O carro, um Virtus, seria levado para o Paraguai, mas acabou abandonado.

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