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Capital

Trabalhador acusa polícia de tortura ao ser confundido com ladrão de condomínios

Trabalhador procurou a Corregedoria da Polícia Civil de MS e o Ministério Público

Dayene Paz | 29/04/2022 15:53
Hematomas no corpo de Diego, que passou por exame de corpo de delito. (Foto: Arquivo pessoal)
Hematomas no corpo de Diego, que passou por exame de corpo de delito. (Foto: Arquivo pessoal)

Confundido com integrante de quadrilha que furtava casas em condomínios de luxo de Campo Grande, Diego Cardoso Roberto, de 32 anos, procurou a Corregedoria da Polícia Civil e o Ministério Público para denunciar que foi torturado na sede da Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos e Furtos), em Campo Grande.

O empresário Junior Cardoso, de 33 anos, primo de Diego, explicou que o rapaz está em estado de choque e se recuperando em casa. "Não conseguiu nem ir trabalhar", lamenta.

Diego é motorista de aplicativo durante o dia e à noite, trabalha como entregador. Nesta quinta-feira (28), o primo conta que Diego levou uma passageira até um mercado na Avenida Gunter Hans, por volta das 6h40, quando foi abordado por três policiais. Ele estava em um VW Gol prata, veículo parecido com o da quadrilha investigada pela polícia. "A passageira desceu e então pararam o carro dele, apontando a arma."

Os policiais, conforme documento registrado no Ministério Público, deram voz de prisão e o algemaram. "Falavam que ele tinha que entregar todo mundo, colocaram dentro de um carro e levaram para a Derf", diz Junior. Na delegacia, o primo conta que Diego ficou em uma sala algemado. "Torturaram o meu primo das 7h até às 10h com socos, chutes, colocaram um saco na cabeça e ele desmaiou três vezes. Até com uma mangueira bateram no pé para ele falar".

Hematoma no pé de rapaz. (Foto: Arquivo pessoal)
Hematoma no pé de rapaz. (Foto: Arquivo pessoal)

Por volta das 10h, Júnior conta que foi o momento que o primo descobriu o motivo de sua prisão, com a chegada do delegado na sala, e então permitiu que olhassem o celular dele para que os policiais vissem os registros de onde tinha andado.

Nesse momento, confirmaram que Diego não tinha envolvimento com o crime. "Disseram que a prisão foi um equívoco e que ele deveria entender a situação", afirma. "Eu não acreditei. Meu primo é trabalhador, pai de duas crianças, nunca foi preso e não pode sair ilesa uma situação dessa", pondera.

No mesmo dia, ao sair da delegacia, Diego e a família procuraram a Corregedoria da Polícia Civil e o Ministério Público. O rapaz ainda estava com marcas de agressões pelo corpo e passou por exame de corpo de delito no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal).

Também no mesmo dia, às 20h08, foi feito um boletim de ocorrência de desacato e resistência contra Diego Cardoso. No boletim, os policiais descrevem que o rapaz foi abordado como suspeito e ao ser levado para a sede da delegacia, apresentou nervosismo, passando a xingar os investigadores. Por esse motivo, precisou ser algemado. Também salientam que Diego apresentou contradição sobre a utilização do VW Gol.

O delegado que fez a prisão da quadrilha, Fábio Brandalise, afirmou que os policiais cumpriram rigorosamente a legislação vigente. "Aparentemente, ele não tem nada a ver com o crime investigado e por uma infeliz coincidência, tinha um carro bastante semelhante ao utilizado pelos criminosos. Ele reclamou da abordagem, que apontaram a arma para ele e que nunca tinha passado por isso. Expliquei que a abordagem policial de um grupo criminoso, que, inclusive, tinha subtraído armas de fogo, seguiu o padrão indicado pela doutrina".

Prisão de quadrilha - Conforme a investigação, o grupo investigado pela Derf invadia os condomínios nos sábados e feriados utilizando geralmente terrenos baldios, que dão acesso aos residenciais. Em um dos casos, por exemplo, registrado no Condomínio Golden Gate, no Carandá Bosque, pelo menos quatro membros da quadrilha, em VW Gol prata, desembarcaram e acessaram o condomínio por um terreno baldio aos fundos. Eles cortaram a concertina e entraram em uma das residências.

Para ter acesso a informações privilegiadas, um dos integrantes se passava por pedreiro. "Um deles exercia a atividade de pedreiro, mas já no intuito de obter informação e avaliar eventuais atividades do sistema de segurança do condomínio", explicou o delegado Fábio Brandalise.

Nesta quinta-feira (28), cinco pessoas foram presas por associação criminosa: Solange Ferreira Lima, 47 anos, o filho dela, Luiz Gustavo Brunetto, 24 anos, Valdeir Pereira de Moraes, 27 anos, Rafael Ferreira Dernandes, 27 anos, e Bruno Norberto Artur, 21 anos.

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