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Interior

Cheias do rio que, em 1920, levou de barco convidados à Igreja Matriz

Liana Feitosa | 16/01/2016 08:16
Cheia atingiu cidades irmãs de Aquidauana e Anastácio nesta semana. (Foto: Fernando Antunes)
Cheia atingiu cidades irmãs de Aquidauana e Anastácio nesta semana. (Foto: Fernando Antunes)
Evandro Alves Corrêa, de 80 anos, neto de fundador de Aquidauana, lembra que no passado que toda ajuda a vítimas era oferecida e executada por vizinhos, familiares e amigos. (Foto: Fernando Antunes)
Evandro Alves Corrêa, de 80 anos, neto de fundador de Aquidauana, lembra que no passado que toda ajuda a vítimas era oferecida e executada por vizinhos, familiares e amigos. (Foto: Fernando Antunes)

Enchente de rio, como a registrada nesta semana em Aquidauana, não são raridades do curso d’água que separa as cidades irmãs Aquidauana e Anastácio, distantes 135 quilômetros de Campo Grande. Há quem relatos de que, antes mesmo da década de 1960, essas águas chegaram a ultrapassar 10 metros de altura.

Por volta dos 7 anos de idade, Marianna Helena Assumpção Alves Corrêa, hoje com 74 anos, levou uma bronca da mãe porque resolveu brincar no rio dentro do próprio quintal de casa, local onde funciona, hoje, a Câmara de Vereadores de Aquidauana.

Lembrança - “Nunca esqueci da lição que levei. O rio havia subido muito e mamãe ficou enfurecida porque nos pegou brincando nas águas, que entram no terreno de casa”, conta, saudosa, Marianna.

Andando pela cidade e conversando com moradores da região, a equipe do Campo Grande News ouviu muito a frase de que: "cheia é coisa que de três em três, quatro em quatro anos, pode esperar que ocorre."

Evandro Alves Corrêa, de 80 anos, marido de Marianna há 53, lembra que no passado não existiam abrigos para moradores e que toda ajuda era oferecida e executada por vizinhos, familiares e amigos. “Quem tinha barco, quem tinha caminhonete, ajudava quem tinha a casa alagada”, se recorda.

Em 1990, cheia maior do que a registrada nesta semana, quase engoliu a Ponte Velha Roldão de Oliveira e a água chegou até o terreno da casa dele, que fica na rua Marechal Mallet, distante cerca de uma quadra do Parque Pirizal, área às margens do Rio Aquidauana.

Danos - Neto de Estevão Alves Corrêa, um dos fundadores do município, Evandro viu em março de 2011 outra grande enchente assustar a população, quando mais de 600 pessoas foram desabrigadas. Nessa ocasião, inclusive, o então ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, sobrevoou áreas atingidas para avaliar os danos causados pelas chuvas.

Para historiador muito mais do que enchentes, o Rio Aquidauana foi responsável pelo desenvolvimento da região. (Foto: Fernando Antunes)
Para historiador muito mais do que enchentes, o Rio Aquidauana foi responsável pelo desenvolvimento da região. (Foto: Fernando Antunes)
Em 2011, Exército construiu ponte provisória para permitia pasagem de pedestres. (Foto: Reprodução)
Em 2011, Exército construiu ponte provisória para permitia pasagem de pedestres. (Foto: Reprodução)

Bem antes disso, por volta de em 1920, outra cheia histórica atingiu a região. Marianna relata que a mãe dela contava a história de um casamento, na Igreja Católica Matriz da cidade, onde só foi possível chegar de barco devido à quantidade de água que havia transbordado a calha do rio.

“Minha mãe herdou da mãe dela uma casa ali ao lado da igreja, onde ela foi morar. Um dia, lá por volta de 1920, minha mãe era bem jovem e lembra que, para ir ao casamento de uma parenta dela, chamada Aracilda, precisou ir de canoa até à igreja. Então, enchente é coisa antiga”, conclui.

Importância - Para o historiador Carlos Martins, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em Aquidauana, muito mais do que enchentes, o rio foi responsável pelo desenvolvimento da região.

“Na verdade, o Aquidauana não é o problema porque os alagamentos são resultado de ocupações irregulares”, antecipa. “Na verdade, ele teve importância para a origem da cidade e para o trânsito de mercadorias”, afirma.

História - “No passado, em Anastácio, na região do porto geral, existiam casas comerciais que recebiam mercadorias que chegavam apenas pelo rio, por embarcações, vindas de Corumbá pelo Paraguai, em seguida passando pelo Miranda e, finalmente, chegando em Aquidauana”, detalha o professor.

Segundo ele, o rio acabou desempenhando papel de ligação da mercadoria como entreposto de Corumbá, para Montevidéu, no Uruguai, e Assunção, no Paraguai. Além disso, foi uma cidade estratégica para a defesa da fronteira brasileira, já que Corumbá ficava perto demais da Bolívia. "Inclusive, guarnições do Exército do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, que existe té hoje na cidade, participaram da 2º Guerra Mundial. Portanto, o rio não é um problema, ele já foi solução”, finaliza.

Enchente de rio, como a registrada nesta semana em Aquidauana, não são raridade na região. (Foto: Fernando Antunes)
Enchente de rio, como a registrada nesta semana em Aquidauana, não são raridade na região. (Foto: Fernando Antunes)
"cheia é coisa que de três em três, quatro em quatro anos, pode esperar que ocorre." (Foto: Fernando Antunes)
"cheia é coisa que de três em três, quatro em quatro anos, pode esperar que ocorre." (Foto: Fernando Antunes)
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