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Interior

Deputado vive tensão em confronto entre índios e produtores

Antônio Marques | 29/08/2015 22:46
Deputado ficou no meio do confronto entre índios e produtores rurais. (Foto: Arquivo/CG News)
Deputado ficou no meio do confronto entre índios e produtores rurais. (Foto: Arquivo/CG News)

O deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM), que acompanhou o senador Waldemir Moka (PMDB) e a deputada federal Tereza Cristina (PSB), ambos da bancada ruralista no Congresso Nacional, em reunião no Sindicato Rural de Antonio João na manhã desse sábado, 29, esteve no meio do conflito entre os produtores e os índigenas na Fazenda Piquiri e depois na localidade em que houve a morte do índio Semion Vilhava. “Fiquei com flecha a um palmo do meu olho”, contou.

Mandetta relatou ao Campo Grande News que, após o término da reunião no sindicato, no final da manhã, quando a presidente Roseli Maria Ruiz fez seu “desabafo emocionada e amargurada” com a lentidão das autoridades do governo federal e do STF (Supremo Tribunal Federal) para resolver a situação das ocupações das propriedades pelos índios, ele decidiu acompanhar os produtores até a fazenda ocupada para tentar mediar um acordo e evitar o conflito, uma vez que havia muita tensão na região.

Segundo Mandetta, a ideia, conforme conversado com o senador e a colega deputada, era gravar a conversa com os produtores e depois com os indígenas para um posterior relatório e apresentar uma intermediação. “A sugestão era que nós três fôssemos até os índios sozinhos para ouvi-los, mas lamentavelmente não tivemos a oportunidade”, contou.

Diante do convite da presidente do sindicato aos presentes na reunião, encerrando sua fala dizendo que não queria mais ouvir ninguém, para que a seguissem para retomar a posse da sua propriedade, Mandetta decidiu segui-la com o propósito de ser um mediador entre as partes.


Além dos produtores, o deputado disse que ainda havia cerca de 60 famílias do Distrito Campestre, também no município, que tiveram suas casas ocupadas pelos indígenas e estariam somente com a roupa do corpo e desesperados diante do impasse.

De acordo Mandetta, ao entrar no carro de um dos produtores, a intenção era evitar o iminente conflito em razão dos ânimos acirrados por parte dos fazendeiros. “Quando pegamos a estrada de chão em direção a fazenda vi um comboio de uns 50 carros.” Conforme o deputado havia “gente de idade, senhoras e crianças”, todos seguindo para a propriedade da presidente Roseli Ruiz.

Ao chegar próximo da sede da propriedade, Mandetta contou que já havia uma linha de índios com arco flecha preparados para o enfrentamento. O deputado disse que levantou a camisa e se apresentou aos indígenas como deputado federal e que estava ali para dialogar. “Pedi para os fazendeiros não entrarem na sede até que os índios se acalmassem, mas duas pessoas de cada lado faria a conversa sob a minha intermediação”, explicou.

A conversa iniciada por volta do meio dia levou cerca de uma hora. Mandetta contou que chegou a ligar até ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, para informar o que estava acontecendo e também ao secretário estadual Márcio Monteiro, para pedir reforço policial no local, considerando que não havia qualquer autoridade policial no momento, “só estava os produtores de um lado, eu e os índios do outro e o clima cada vez mais tenso”, revelou.

Também acompanhava a conversa dois jornalistas da região que falavam o Guarani, língua dos indígenas. Mandetta contou que os dois lados estavam irredutíveis e as mulheres, as mais inflamadas, de ambas as partes. “Fiquei com flecha a um palmo do olho, enquanto tentava mediar a conversa”, lembrou o deputado, que acrescentou nunca ter passado por uma situação parecida na vida parlamentar.

De repente, os fazendeiros entraram com os carros por uma lateral da sede e foram descendo dos veículos próximo a casa. Neste momento, segundo Mandetta, iniciou o confronto. “Era índio e produtor correndo. Teve paulada, pedrada e até barulho de tiro, mas ninguém ferido gravemente”, comentou, lembrando que apenas um rapaz da parte dos fazendeiros lhe mostrou que havia levado uma paulada no braço.

O deputado disse ainda que conseguiu gravar toda a situação. Com a ação dos produtores, os índios ficaram mais no fundo da fazenda. Neste momento, Mandetta disse ter ligado ao senador Moka e a colega Tereza Cristina para relatar o ocorrido. No local não havia nem os homens da Força Nacional e nem do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), revelou o deputado.

Depois de retomada a sede da fazenda, por volta das 14h30min chegaram as caminhonetes com cerca de 30 homens da Força Nacional e uns 15 policiais do DOF. Com o reforço, um grupo de fazendeiros se deslocou para outra propriedade, na tentativa de resguardar uma ponte, pois havia a informação de que os índios colocariam fogo para derrubá-la.

No local, conforme o deputado, aconteceu novo conflito e os produtores disseram que uma das camionetes estava com buraco de bala na porta. “Ao me aproximar do veículo pude observar que realmente havia uma marca correspondente a um projetil. Os índios estavam a uma distância de aproximadamente 100 metros em um imóvel do caseiro, mais abaixo de onde nos encontrávamos”, relatou Mandetta, que afirmou ter visto armas de fogo nas mãos dos índios e dos produtores.

O deputado disse que, de repente, escutou o barulho de um tiro de arma de pequeno calibre próximo a casa em que estavam os indígenas. “Em seguida, os índios vieram em direção a ele e os policiais carregando um corpo de outro indígena. No primeiro momento pensei que o índio carregado estivesse ferido”, relatou.

Mandetta contou que havia cerca de 80 índios em volta do corpo e eles não o teriam deixado se aproximar, mesmo ele dizendo que era médico e que gostaria de ajudar, mas logo percebeu que a pessoa já estava morta. Mesmo assim, conseguiu chegar a apenas 10 metros de distância do corpo, espaço suficiente para diagnosticar que o mesmo apresentava sinal de rigidez cadavérica (endurecimento das articulações) que caracterizava o óbito há mais de oito horas e não naquele instante. “Um dos policiais do DOF informou que havia o sinal de um tiro no crânio.”

“Tudo foi muito triste. Sai com sensação de desesperança, uma vez que eu esperava uma resultado com maior civilidade”, declarou, dizendo que por ser terra da União e os índios serem amparados pela União, o estado brasileiro já deveria ter agido no sentido de uma solução pacífica. “Durante a semana enviei ofícios aos ministérios da Defesa e o Exército para alertá-los sobre o possível conflito que poderia acontecer na fronteira”, lembrou o deputado.

Mandetta disse ainda que para deixar a fazenda onde o índio morreu, por volta das 16h30min, ele e os fazendeiros precisaram ser escoltados pela Força Nacional, considerando que os índios estavam espalhados nas invernadas da fazenda em grupos de 30 a 40 indígenas.

O deputado disse que chegou a ligar ao senador Delcídio do Amaral, líder do governo no Senado Federal, para pedir apoio do Exército no local, considerando ser área de fronteira e que o clima poderia ficar ainda mais tenso depois da morte do indígena. “Como se trata de uma extensão reivindicada pelos índios no lado brasileiro e do lado paraguaio já é terra indígena, não é possível saber o quantitivo de índios no local”, observou ele.

“Temos que entender que nem o índio e nem o fazendeiro devem ser prejudicados nessa situação. Cabe apenas ao governo federal apresentar uma saída rápida e pacífica, que possa beneficiar as duas partes”, cocluiu Mandetta.

A área reivindicada pelos índios corresponde a 10 mil hectares na faixa de fronteira com o Paraguai, mas a decisão sobre quem ficará com a terra está a cargo do STF há anos e houve um acordo para os indígenas aguardarem o julgamento do recurso numa área de cerca de 320 hectares, mas a demora na resposta fez com que os índios ocupassem as propriedades na semana passada, quando o clima ficou mais tenso no município.

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