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Interior

Em protesto, assistente de acusação abandona júri de indígenas; “impunidade”

Advogado chamou de “palhaçada” fala de procurador que pediu sentença leve a acusados de matar policiais

Por Helio de Freitas, de Dourados | 28/02/2024 17:50
Sandra Arévalo Savala no momento em que era interrogada, nesta quarta-feira (Foto: Reprodução)
Sandra Arévalo Savala no momento em que era interrogada, nesta quarta-feira (Foto: Reprodução)

O assistente de acusação no julgamento dos indígenas Valmir Júnior Savala, 36, e Sandra Arévalo Savala, 40, abandonou a sessão nesta quarta-feira (28), terceiro dia do júri. Mauricio Nogueira Rasslan chamou de “palhaçada” o discurso do procurador federal Gustavo Torres.

Responsável em pedir a condenação dos réus durante o julgamento, o procurador teria, segundo o advogado, adotado tom a favor dos indígenas, defendendo inclusive que, se condenados, não fiquem presos.

O júri ocorre no TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, em São Paulo. Valmir e Sandra são réus pelo assassinato dos policiais civis Ronilson Magalhães Bartie e Rodrigo Lorenzatto e pela tentativa de homicídio contra o também policial Emerson José Gadani. Os crimes ocorreram em 1º de abril de 2006 em Dourados e ficaram conhecidos como “Chacina de Porto Cambira”.

Os dois réus, o procurador responsável pela acusação e os advogados de defesa acompanham o julgamento presencialmente na capital paulista. As testemunhas e o assistente de acusação participam de forma remota.

“O procurador da República falou por duas horas e 40 minutos, me deixou só dez minutos para falar. Pediu um monte de benesses para os réus, alegou violenta emoção, alegou que são indígenas e defendeu que fiquem em liberdade assistida. Não aguentamos mais tanta impunidade. É falta de respeito com a população de Mato Grosso do Sul”, afirmou Mauricio Rasslan ao Campo Grande News.

Segundo ele, os outros quatro réus, condenados em 2019 a penas somadas de 101,6 anos, também foram beneficiados pela Justiça Federal e permaneceram soltos mesmo com sentenças tão altas.

“A lei determina que, no caso de condenação pelo Tribunal do Júri igual ou superior a 15 anos de reclusão, seja determinada a execução provisória da pena. É o que os familiares das vítimas esperam, que a lei seja cumprida”, afirmou.

“Na sexta-feira, a filha do Lorenzatto vai fazer 20 anos. Ela tinha dois anos quando ele foi morto e não teve chance de conhecer o pai. Ela estava ali na antessala acompanhando o júri, esperando pela prisão dos criminosos, o que não vai acontecer”, desabafou o advogado douradense.

Mauricio Rasslan afirmou que no julgamento de 2019, o mesmo procurador defendeu que os réus cumprissem as penas no “Tekoha Passo Pirajú” (onde ocorreram os crimes), o que, segundo ele, não aconteceu. “Não tem mais ninguém lá, foram todos embora. A Sandra mesmo, tem casa própria em Aral Moreira. O Valmir mora em Dourados, como poderá cumprir uma eventual pena no tekoha?”, questionou.

Valmir foi interrogado ontem à noite e Sandra prestou depoimento nesta quarta-feira. Os dois negaram envolvimento direto nos assassinatos. O julgamento começou segunda-feira (16) com previsão de terminar apenas na sexta-feira (1º), mas deve ser encerrado ainda hoje.

Em 7 de junho de 2019, quatro indígenas foram condenados pela chacina – Ezequiel Valensuela (34 anos e 5 meses), Jair Aquino Fernandes (26 anos e 8 meses), Lindomar Brites de Oliveira (19 anos e 2 messe) e Paulino Lopes (20 anos e 3 meses).

Os policiais foram atacados a golpes de faca e a pauladas quando circulavam de carro pela estrada de acesso ao Porto Cambira. A estrada passava em frente à área, na época invadida pelos indígenas.

Segundo a Polícia Civil, eles procuravam o suspeito de matar um pastor em Dourados, dias antes. Já os indígenas afirmaram que os policiais foram ao local para ameaçá-los, já que estavam em área invadida, e alegam terem agindo e legítima defesa.

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