Em Rio Brilhante, explosão de casos de covid pode segurar população em casa
Em uma semana, casos passaram de quatro para 62 e prefeito diz que isso deve assustar. "Nunca vi gostar de passear desse jeito"
Há uma semana, Rio Brilhante, a 164 quilômetros de Campo Grande, tinha quatro casos confirmados de infectados pelo novo coronavírus (covid-19), situação que não chamava atenção no mapa de infecção em MS. Mas, hoje, a realidade é outra: o boletim municipal já terá 62 casos confirmados da doença, uma explosão descoberta a partir da testagem em massa de funcionários do frigorífico instalado em Dourados, e pode piorar com a falta de compromisso da população.
De Rio Brilhante, 194 pessoas seguem regularmente para trabalho no frigorífico da JBS em Dourados, mas, a rotina foi quebrada com a chegada da pandemia e 58 estão afastados dos trabalhos. Depois do primeiro caso confirmado da doença de funcionária da empresa, foi iniciada a testagem em massa e o cenário preocupante foi se formando.
Segundo o prefeito Donato Lopes da Silva (PSDB), dos 62 casos confirmados hoje, 58 são de funcionários do frigorífico e outros quatros relacionados à Usina Biosev (álcool e açúcar), sendo três funcionários e um empresário, prestador de serviço.
Em Rio Brilhante, todos os funcionários das empresas que passaram pela testagem ficaram de atestado por quatro dias; os que tiveram resultado positivo para doença, 14 dias e isolamento social, sendo monitorados todos os dias pelas equipes de saúde do município.
Silva diz que ainda faltam 48 exames dos funcionários do frigorífico e ele acredita que, pela média, 18 devem ser confirmados para a doença.
A preocupação, segundo ele, é que não há como estancar ainda essa disseminação, pois, agora, o risco também são os familiares dessas pessoas. “Tem gente que está bem, sem sintomas, mas mora com a avó de 72 aos de idade; ou que a mulher da pessoa, que não sabia, tomou tereré com a vizinha, a ramificação é muito grande”.
O prefeito disse que esse comportamento é a grande preocupação, pois, até agora, os casos confirmados vieram de ambientes conhecidos, mas, sem o comprometimento da população, pode se alastrar indiscriminadamente.
“Nunca vi gostar de passear desse jeito”, critica, ao comentar o índice de 48% de isolamento social, que chegou a colocar Rio Brilhante nas últimas posições no ranking estadual. Silva acredita que o transporte de ônibus coletivo e de funcionários das empresas pode ser um dos focos de maior atenção e, por isso, as barreiras sanitárias foram implantadas assim que o País entrou em alerta com a pandemia da covid-19.
No dia 19 de maio, em uma dessas barreiras, dois ônibus de funcionários da JBS foram parados e 16 deles tiveram que ficar em isolamento, depois que 4 apresentaram sintomas da doença.
Agora, com explosão de casos, acredita que a população possa ficar atenta. “O povo assusta, espero que passe a colaborar”. A cidade impôs toque de recolher das 22h às 5h, funcionamento restrito do comércio, apenas para serviços essenciais até 19h e uso obrigatório de máscara dentro de ambientes fechados.
A reportagem entrou em contato com a assessoria da JBS para saber se o funcionamento do frigorífico será mantido e aguarda retorno.
O MPT (Ministério Público do Trabalho) acompanha a situação dos frigoríficos no Estado que, até sexta-feira (29) reuniam 168 casos confirmados da doença em unidades de Dourados, Bonito e Guia Lopes da Laguna.
Até a semana passada, a avaliação do procurador do MPT, Jeferson Pereira, considerou que a abertura das empresas anda era viável por ser atividade essencial e que estão sob constante vigilância e que ainda não se sabe se o foco da disseminação seriam esses frigoríficos ou o contato externo da população. A reportagem entrou em contato para atualizar o posicionamento e aguarda retorno.