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Interior

Estradas e pontes seguras facilitam a retirada do gado do Pantanal na cheia

Nas MS-184 e MS-228, fluxo de caminhões e boiadas foi intenso até a semana passada e praticamente todo o gado da região da Nhecolândia foi transferido

Silvio Andrade | 12/03/2018 10:27
Boiada atravessando a região de Nabileque. (Fotos Edemir Rodrigues)
Boiada atravessando a região de Nabileque. (Fotos Edemir Rodrigues)

O Pantanal sul-mato-grossense registra uma cheia atípica já no mês de março, reflexo principalmente do excesso de chuvas em todo o Estado, mas a retirada antecipada do gado das áreas de inundação está sendo acelerada pelas boas condições das estradas e pontes, as quais tem manutenção permanente do Governo do Estado. Os caminhões boiadeiros trafegam sem dificuldades de acesso e grande parte do rebanho está a salvo.

A enchente é um fenômeno natural que o pantaneiro enfrenta há séculos, contudo, as maiores dificuldades sempre foram na transferência do gado para partes altas devido às pontes quebradas e os atoleiros, impedindo o transporte rodoviário. O presidente do Sindicato Rural de Corumbá, Luciano Leite, lembra que os caminhoneiros percorriam desvios de 150 km para chegar à BR-262 quando as MS-184 e MS-228 estavam intransitáveis ou alguma ponte caiu.

"Sem dúvida, a trafegabilidade das nossas estradas e a qualidade das pontes, nessa época de muita água na região, nos dá uma segurança de que o gado chegará ao seu destino sem perdas de animais ou sem onerar o produtor com o custo alto do frete", diz o dirigente ruralista. "O governador Reinaldo Azambuja tem nos dado todo apoio, inclusive abrindo novas estradas no Pantanal, e isso facilita o escoamento desses animais e minimiza nossos prejuízos", acrescenta.

Recursos do Fundersul

Nas MS-184 e MS-228 (Estrada Parque, em Corumbá), o fluxo de caminhões e boiadas foi intenso até a semana passada e praticamente todo o gado da região da Nhecolândia, centro criatório de bovinos da planície, foi transferido. Também na MS-243, que liga a BR-262 a sub-região do Nabileque, entre Miranda, Corumbá e Porto Murtinho, a movimentação de animais ganhou fluidez em um corredor importante com a recuperação da estrada de muita pedra.

"A maior dificuldade tem sido atravessar os alagados, que exigem muito do gado, mas quando estamos no seco encontramos estradas boas e pontes seguras, o que permite a chegada rápida dos animais no seu destino", conta João Luiz de Oliveira, 46, dono de uma comitiva de Aquidauana, que leva uma boiada de 900 touros da Fazenda Rio Vermelho, na Nhecolândia, para a parte alta do Taquari. "Agora ficou mais fácil cruzar esse Pantanalzão", observa ele.

Ponte na Estrada Parque, que assegura a travessia das comitivas.
Ponte na Estrada Parque, que assegura a travessia das comitivas.

Com recursos do Fundersul (Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário), O Estado investiu R$ 1,5 bilhão na recuperação de 5 mil km de estradas e pontes em três anos, garantindo infraestrutura para escoamento da produção agropecuária e, em especial, o atendimento aos pantaneiros. Na planície, acessos em implantação cortam o centro do Pantanal e interligam as regiões de Coxim, Rio Verde, Aquidauana, Corumbá e Porto Murtinho.

Água chega e impressiona

A comitiva do aquidauanense João Luiz Oliveira deixou a Fazenda Rio Vermelho com a boiada de 900 touros na chegada das águas dos rios Aquidauana e Miranda, que atingiram seu pico mais alto na última semana de fevereiro, às regiões da Nhecolândia e Abobral, em direção ao Rio Paraguai. Na longa viagem de 15 dias até a Estrada Parque dois animais morreram afogados. "Foi uma semana dentro d'água", diz o experiente condutor Lourenço Almeida, 78.

Esse volume de água das cheias do Miranda e do Aquidauana, cujo rio atingiu 10,42 metros, vai impactar uma das regiões de menor declive do Pantanal, ameaçando deixar submersa a MS-184 na localidade do Passo do Lontra. O Rio Miranda, que passa por ali, já transbordou e invadiu as pousadas e hotéis, cujas construções são de palafitas. Os campos que margeiam a estrada estão inundados e a correnteza é muito forte nas pontes de vazão (de madeira).

Apesar do solo encharcado e as chuvas que não cessam, a pista da MS-184 está em ótimas condições de tráfego. No último sábado (09), dezenas de caminhões transportaram um lote de bovinos da Fazenda São Bento e está sendo aguardada uma boiada de 300 animais da Fazenda Ema, para seguir pela estrada até invernadas na parte alta (seca). Com a saída rápida do gado pantaneiro, o maior movimento, pela MS-184, é de veículos de transporte de turistas.

Camalote 'invade' o Paraguai

A chegada das águas do Aquidauana e Miranda vão concentrar mais caminhões e bois na estrada, enquanto a boiada do Rio Vermelho segue em marcha rumo Norte, até o Taquari. O gado dormiu na Fazenda Santa Clara e seguiu, no sábado, pela estrada com destino ao novo pouso, a Pousada Arara Azul, de onde partiu no domingo (10) para enfrentar um caminho alagado. "A gente estima mais 30 dias de viagem", diz o peão Adilson Vieira, 49, o "Alfoge".

A curta distância entre os dois pousos da comitiva revelou a dificuldade na condução dos 900 bois, mesmo pela estrada. Ao pressentir a presença da onça-pintada, que é vista com frequência na região, pode haver um estouro da boiada, relata o condutor Lourenço Almeida. Outro desafio é atravessar as estreitas pontes de madeira. Ao cruzar o Rio Abobral, cujo nível subiu mais de três metros, um touro caiu na água e nadou por cerca de 50 metros.

Os fazendeiros e empresários de turismo da região esperam uma segunda cheia, a do Rio Paraguai, que corta a MS-228 no Porto da Manga, entre maio e junho. O transbordamento do rio, no entanto, deve ocorrer até o fim deste mês e, dependendo da intensidade, pode deixar a estrada submersa e, às vezes, interditada. A quantidade de camalotes encobrindo o leito do Paraguai é indicativo de que o seu nível sobe ao receber águas dos afluentes Taquari e Negro.

Embrapa avalia emergência

A pedido do Sindicato Rural de Corumbá, município que detém o maior rebanho bovino (dois milhões de cabeças) do Estado, a Embrapa Pantanal prepara um laudo sobre os efeitos da enchente deste ano para a pecuária. O presidente da entidade, Luciano Leite, disse que o objetivo do documento é se preparar para uma grande cheia e dar embasamento técnico ao pedido dos pantaneiros para que o município declare estado de emergência.

"Com a sequencia das chuvas, o Rio Paraguai vai transbordar ainda este mês em Corumbá, a 60 dias da chegada das águas do Norte (Mato Grosso)", prevê o dirigente. A régua fluviométrica de Ladário, referência para indicar o nível de cheia, registrou que o Rio Paraguai está em 3,86 metros e deve atingir 5 metros na primeira semana de abril. Para a Embrapa, este nível correspondente a uma cheia normal, mas ainda se espera as águas de Cáceres (MT).

O nível do Paraguai na cidade mato-grossense começa a cair, depois de atingir seu pico máximo (4,80 metros), em 1º de março, inferior ao de 2017 (5,16 metros, em fevereiro). A preocupação dos pantaneiros é com o volume das chuvas, que já deixa Porto Murtinho em alerta: o rio atingiu 6,34 metros e voltou a baixar. No entanto, há previsão de chegar a 8 metros, com o acúmulo das águas de Cáceres e dos afluentes Aquidauana e Miranda.

"Ficou mais fácil cruzar esse pantanalzão", diz João Luiz de Oliveira, dono de comitiva.
"Ficou mais fácil cruzar esse pantanalzão", diz João Luiz de Oliveira, dono de comitiva.

Confira a galeria de imagens:

  • Estradas e pontes asseguram travessia das comitivas no Pantanal em meio à chefia. Fotos: Edemir Rodrigues
  • Foto: Edemir Rodrigues
  • Foto: Edemir Rodrigues
  • Rio Paraguai no Porto da Manga.
Foto: Edemir Rodrigues
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