Gaeco aponta ligação de esquema na polícia da fronteira com réus da Omertà
Cinco investigados na operação da semana passada possuem relação com alvos do caso envolvendo família Name
A Operação Codicia (ganância em castelhano) – deflagrada na semana passada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado contra policiais civis de Ponta Porã – revelou curiosa ligação de alguns alvos com a Operação Omertà, que desmantelou a organização criminosa chefiada por Jamil Name (já morto) e pelo filho dele, Jamil Name Filho, o Jamilzinho.
Pelo menos cinco investigados na Codicia estão de alguma forma ligados a alvos da Omertà, iniciada em setembro de 2019.
Ricardo Alexandre Olmedo e João Batista Olmedo Júnior, presos na semana passada acusados de comprar drogas supostamente desviadas do depósito da polícia, são irmãos do policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, o “Vlad”, já condenado no âmbito da Omertà.
Além dos irmãos Olmedo, o delegado Patrick Linares da Costa, outro investigado na Operação Codicia e que está afastado das funções por ordem da Justiça, teve ligações com alvos da ação que desmontou o esquema criminoso da família Name.
Além dele, os escrivães Valdenei Peromalle e Jonatas Pontes Gusmão, o “Jhow”, mantêm ligações semelhantes. Os dois estão presos.
Segundo o Gaeco, o delegado entregou ilicitamente uma caminhonete Toyota Hilux que estava apreendida na 2ª DP de Ponta Porã para o investigador de polícia Elvis Elir Camargo Lima, preso na primeira fase da Omertà acusado de apoiar o grupo de extermínio na fronteira. Ele saiu da cadeia em novembro de 2020, monitorado por tornozeleira eletrônica.
A investigação no âmbito da Operação Codicia revela que o escrivão de polícia aposentado Valdenei Peromalle, o “Nei” – preso na semana passada e apontado como um dos “cabeças” do esquema de cobrança de propina na 2ª DP – foi testemunha no termo de entrega da Hilux para Elvis Elir Camargo Lima. A caminhonete estava com o policial no dia em que ele foi preso, em 27 de setembro de 2019, em Campo Grande.
Conforme o Gaeco, o ex-escrivão de polícia Rafael Grandini Salles, outro preso na Operação Omertà, também mantinha ligação com o esquema de cobrança de propina e desvio de veículos apreendidos na 2ª DP de Ponta Porã.
Rafael Grandini estaria, segundo a investigação, envolvido no desvio de veículo de dentro da delegacia e depois vendido para terceiros e regularizado com a participação de despachante da fronteira usando procuração falsa. O carro tinha sido apreendido, mas o verdadeiro dono nunca foi encontrado.
Preso outras duas vezes após a Operação Omertà – por contrabando e tráfico de drogas - Rafael Grandini foi demitido da Polícia Civil em fevereiro de 2022.
A investigação do Gaeco revela ainda que uma caminhonete S10 apreendida em 2017 foi mantida por um ano na delegacia sem instauração de inquérito, “para que pudesse ser utilizado (até mesmo alugado) pelos policiais corruptos da 2ª DP de Ponta Porã”, entre eles, Jonatas Gusmão.
Presos – Seis policiais civis da ativa e aposentados presos no dia 25 de abril completam hoje oito dias na cadeia. Adriana Jarcem da Silva, Valdenei Peromalle, Marcio André Molina Azevedo, Mauro Ranzi, Rogério Insfran Ocampos (perito criminal) e Jonatas Pontes Gusmão são investigados por cobrar propina para liberar veículos recuperados e até tráfico de drogas desviadas do depósito da polícia.
Além dos seis policiais, também continuam presos os irmãos Ricardo Alexandre Olmedo e João Batista Olmedo Júnior e Marcos Alberto Alcântara.
João Batista Olmedo Júnior, Adriana Jarcem da Silva e Valdenei Peromalle foram transferidos para Campo Grande na semana passada. Jonatas Pontes Gusmão, que estava de férias no dia da operação, foi preso em Goiás e deve ser removido para Mato Grosso do Sul nesta semana.
Além dos oito presos, aparecem entre os investigados o delegado de polícia Patrick Linares da Costa, que chefiou a 2ª Delegacia de Polícia (onde os crimes eram praticados, segundo o Gaeco), a escrivã aposentada Doelza Lopes Ferreira, Elisandro Ostergerg e o policial civil aposentado Ronaldo Medina. O Gaeco também queria a prisão desses quatro investigados, mas o pedido foi negado pelo juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian, da 2ª Vara Criminal da Capital (tramita a ação penal).
Outro lado – Patrick Linares da Costa alega inocência. Em nota enviada no dia da operação, a defesa dele afirma que o policial foi “surpreendido espantosamente com essas medidas investigativas envolvendo seu nome” e sustentou que a única ligação com os demais investigados é o fato de Patrick ter sido titular da 2ª DP de Ponta Porã durante períodos mencionados na investigação.
Segundo o advogado Diego Marcos Gonçalves, o delegado não tem nenhuma ligação com qualquer fato ilícito da delegacia relatados no procedimento e que nada irregular foi localizado no apartamento do delegado durante as buscas. Também não há, segundo o defensor, nenhuma troca de valores entre Patrick com os demais investigados.