Homem preso por pedofilia também vai responder por estupro de vulnerável
O servidor público Jeferson Porto da Silva, 33, preso domingo em Dourados, a 233 km de Campo Grande, acusado de aliciar adolescentes e pagar para que fizessem sexo com ele, também vai responder por estupro de vulnerável após a polícia descobrir entre as vítimas um menino menor de 14 anos. Até agora, dos 20 adolescentes localizados, todos tinham de 14 a 16 anos, o que não configura o crime de estupro de vulnerável.
Com prisão preventiva decretada pelo juiz César de Souza Lima após dois meses de investigação da Polícia Civil, Jeferson já estava sendo acusado de favorecimento à prostituição, pedofilia prevista no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), crime de perigo de contágio de moléstia grave (ele é soropositivo) e falsificação de documento, por apresentar um exame falso para atestar que não tinha doença sexualmente transmissível. Agora será indiciado por mais esse crime.
A delegada responsável pelo caso, Marina Lemos, informou ao Campo Grande News que um garoto abusado por Jeferson quando tinha 12 anos, no início de 2013, já procurou o 1º Distrito Policial acompanhado da mãe e contou que foi ao encontro com um amigo, também com 12 anos na época, mas esse segundo menino ainda não prestou depoimento. “Mais cedo ou mais tarde ia aparecer, porque o Jeferson não fazia diferença de idade”, afirmou.
Segundo a policial, usando o nome verdadeiro (ele mantinha também um perfil falso em rede social, com nome de mulher), Jeferson fez contato com o garoto através do Facebook dizendo que ia apresentar umas amigas, mas antes o garoto tinha que sair com ele. “Interessados nas meninas, os garotos toparam sair com ele. Na época a mãe do menino que nos procurou viu as mensagens no Face, tentou fazer uma denúncia anônima, conversou com o filho e acabou desistindo. Agora ela nos procurou e confirmou a história toda”, contou a delegada.
Marina Lemos informou também que dois garotos já fizeram exame de sangue voluntariamente e o resultado deu negativo para o teste de HIV. Jeferson confessou que mantinha relações sexuais com a maioria dos adolescentes sem que eles usassem camisinha. Segundo ele, os próprios garotos não faziam questão de usar e apenas alguns pediam para ver o exame que ele tinha falsificado.
Todos que já foram ouvidos confirmam terem recebido dinheiro de Jeferson, que pagava de R$ 30 a R$ 50 a cada encontro. A polícia suspeita que ele tenha aliciado mais de 200 meninos nos últimos três anos. O servidor estava sendo investigado desde o início de agosto, depois que a mãe de um adolescente encontrou conversas do menor com o acusado numa rede social e procurou a polícia.
Homossexual assumido, Jeferson também mantinha relações com homens adultos e alguns casados. Ele tinha dois perfis no Facebook, um se passando por “Jéssica Alessandra”, que ele usava para atrair os adolescentes, e outro com seu nome verdadeiro, através do qual ele se comunicava com homens adultos. Ele está recolhido em uma cela isolada do 1º Distrito Policial, mas será levado para a Phac (Penitenciária de Segurança Máxima Harry Amorin Costa) ainda nesta semana.
A defesa de Jeferson divulgou nota na segunda-feira afirmando serem inverídicas as acusações feitas pela Polícia Civil. A advogada Sebastiana Roque Ribeiro informou que seu cliente está em tratamento médico ambulatorial por ter, segundo ela, sofrido abuso sexual na infância “e desde então se submete a rigoroso tratamento clínico-psicológico”. A delegada Marina disse estranhar as declarações da advogada. “Ela estava presente no interrogatório e presenciou ele confirmando e confessando que mantinha relação com esses meninos por dinheiro. Ela estava lá no interrogatório dele”.
Nesta quarta-feira, o secretário municipal de Administração João Azambuja informou através de nota oficial que determinou a abertura de uma sindicância para apurar se em algum momento Jeferson Porto da Silva utilizou a estrutura de seu local de trabalho para a prática de crimes. “Caso haja qualquer indício neste sentido a sindicância será transformada em processo”.
Ainda conforme o secretário, Jeferson não foi alvo de nenhuma investigação ou procedimento administrativo anteriormente e que a única irregularidade cometida por ele como servidor foi em relação a um documento, “geralmente é comum em órgão público, o que gerou apenas advertência”.