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Interior

Índios denunciam tortura e ataque de pistoleiros durante a madrugada

Caroline Maldonado | 18/09/2015 12:44
Índios pediram socorro à Funai e permanecem em estrada, próximo a fazenda (Foto: Divulgação/Cimi)
Índios pediram socorro à Funai e permanecem em estrada, próximo a fazenda (Foto: Divulgação/Cimi)

Indígenas Guarani Kaiowá, da comunidade Pyelito Kue, afirmam ter sofrido ataque de pistoleiros na madrugada de hoje (18), nas proximidades da sede da fazenda Maringá, em Iguatemi, a 466 quilômetros de Campo Grande. Eles relatam que foram alvo de tiros de arma de fogo. Segundo um deles, cerca de 26 pessoas foram colocadas em caminhonetes e levadas para a beira da estrada, enquanto os demais fugiram para as margens do Rio Jogui. Algumas delas foram torturadas e ficaram com hematomas e cortes pelo corpo.

Tudo aconteceu depois que cerca de 100 indígenas ocuparam a sede da fazenda Maringá e fizeram reféns um tratorista e outros quatro funcionários do local, na quarta-feira (16), segundo o Kaiowá Ademir Riquelme Lopes, 26 anos, que faz parte do grupo. Ele explicou que os índios forçaram os funcionários a permanecer ali, porque primeiro foram ameaçados pelo tratorista. “Fomos para perto da sede e começamos nossos rituais e rezas com intenção de continuar ali, pacificamente, mas veio o funcionário ao nosso encontro dizendo 'voltem para aldeias seus vagabundos' e tentou agredir uma mulher que rezava com o ñanderu (rezador)”, contou.

O índio disse que o grupo permaneceu na sede até as 16h do mesmo dia e voltou para as proximidades da fazenda, no ponto inicial de ocupação. Neste local, ele relata, que os índios sofreram ataque de pistoleiros de outra fazenda, por volta das 3h de hoje. “Eles vieram armados com armas de calibre 12 e começaram a disparar. Todos sairam correndo em direção ao rio e alguns foram amarrados e colocados nas caminhonetes, inclusive eu. Um dos pistoleiros correu atrás de uma mulher e torturaram ela. O corpo dela está todo cortado. Ela voltou para Pyelito Kue”, disse.

Ele conta que 26 pessoas foram levadas para a beira da estrada que da acesso ao município de Tacuru. “Jogaram nós ali. Nós avisamos a Funai (Fundação Nacional do Índio) e pedimos socorro, porque muitos foram torturados. Ainda não tem como saber se tem gente baleada”, relatou Ademir.

Conforme o MPF (Ministério Público Federal) o procurador de Naviraí, Franciso Calderano, segue para a área onde estão os índios, neste momento. Há relatos de que agentes da (Coordenação Técnica Local) da Funai e o delegado da polícia civil de Iguatemi, Thiago de Lucena, estiveram no local e constataram as agressões denunciadas pelos índios, mas essa informação não foi confirmada, pois a reportagem não conseguiu contato com o delegado e a Funai, até então.

Ontem (17), o comandante do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), coronel Ari Carlos Barbosa, informou que, de fato, os índios estiveram na sede da fazenda Maringá para avisar que iriam ocupar o local e ficaram até o fim da tarde, fazendo reféns, mas que não houve violência. Equipes da PM (Polícia Militar) também permaneceram na propriedade.

Disputa - Pyelito Kue é o nome da comunidade que ocupa, atualmente, área de 10 mil hectares da Fazenda Cambara, conforme determinado pela Justiça em 2012. A decisão diz que os índios devem ficar ali até o término do procedimento administrativo de delimitação e demarcação das terras na região, sem estender o espaço em nenhuma hipótese. No entanto, cansados de esperar pela ação do Governo Federal e alegando diversos ataques de fazendeiros, os indígenas resolveram ocupar, nesta semana, a fazenda Maringá, que também é área reivindicada pelas famílias.

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