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Interior

Jovem e mãe de 3, venezuelana teve convulsão, sintoma raro para covid-19

Evolução rápida fez vítima fatal, fora do grupo de risco, e deixou consequências neurológicas que autoridades ainda investigam

Izabela Sanchez | 30/05/2020 18:10
Rulesis com o filho de um ano, os filhos de 3 e 5 e o marido de 29 anos, em Dourados (Foto: Reprodução)
Rulesis com o filho de um ano, os filhos de 3 e 5 e o marido de 29 anos, em Dourados (Foto: Reprodução)

Rulesis Esther Hernandez, tinha apenas 27 anos e uma vida pela frente, parte dela mal começada, há um ano, em Dourados, a 233 km de Campo Grande, para onde foi morar junto com o marido de 29 e os filhos de 1 ano, 3 e 5, depois de deixarem o caos político e social da Venezuela para trás. Ainda amamentava quando se tornou a 19ª vítima fatal da covid-19 em Mato Grosso do Sul.

Ela, agora, indica ser a vítima mais emblemática da doença no estado porque foge ao que se entendia, até então, sobre o novo coronavírus e sua evolução em Mato Grosso do Sul. Rulesis era jovem, não tinha registro de doença segundo sabia a família, e por último, apresentou sintoma pouco comum à infecção: convulsão.

A evolução do quadro clínico da jovem foi meteórico e é isso que ainda tentam entender os médicos e autoridades em saúde de Dourados.

Médico do Hospital da Vida e do Hospital Universitário, dois locais por onde passou Rulesis, Frederico de Oliveira Weissinger explica que ela apresentou o que a literatura médica chama de “status epilepticus”, uma emergência neurológica com crises convulsivas cujos registros alcançam índice de mortalidade de cerca de 20%.

“A vigilância ainda está rastreando o que de fato aconteceu, temos uma dificuldade de buscar o histórico por ser estrangeira. Queremos entender se ela realmente não tinha nenhuma comorbidade. Ela deu entrada no Hospital da Vida com crise convulsiva, foi transferida entubada para o HU”, comentou o médico.

Frederico afirma que na terça, ela procurou a UPA já em estado grave e foi levada ao Hospital da Vida.

Ao suspeitarem de que se tratava de um caso de covid-19, a equipe médica decidiu pela transferência ao Hospital Universitário, referência para tratamento de covid-19 na cidade. “Até então não se tinha essa informação de nenhum quadro respiratório dela, ela não fazia parte dos casos confirmados. Lá no HU que se apurou um pouco mais da história, mas ela já chegou convulsiva”, explicou.

“Há poucos relatos de crise convulsiva por coronavírus, não é uma manifestação comum, ela foi direcionada pela urgência neurológica”. Ela foi transferida na madrugada de quarta-feira (27), quando foi diagnosticada com a doença. Dois dias depois faleceu.

Incógnita - “No HU foi para a UTI e teve parada cardíaca. Ela foi reanimada, a princípio se estabilizou, mas acabou por agravar o quadro”, comentou o médico. “Acionamos toda a parte da saúde, vigilância, suporte. Fica uma incógnita, a vigilância está trabalhando, tentando identificar”, comentou.

O marido, funcionário da JBS em Dourados, segue com sintomas leves por enquanto e está em isolamento em casa, com dispensa temporária da empresa, desde o dia 26, segundo nota da JBS. Não pôde velar a esposa e está longe dos filhos.

Público vulnerável – Assistente social da comunidade imigrante de Dourados junto à Prefeitura, o haitiano Jean Kenson contou que as crianças estão agora com uma tia, mas que está se discutindo a possibilidade de trazer, da Venezuela, a mãe dela- que ainda está no país vizinho -, para cuidar das crianças.

Ele estima que vivam, hoje, em Dourados, 2,5 mil imigrantes entre cidadãos da Venezuela e do Haiti, todos fugindo de situações sociais extremas e em busca de melhores oportunidades no país que, nas palavras de Jean, “é muito acolhedor”.

ONU quer saber – Conforme levantou a reportagem, integrantes da ONU (Organização das Nações Unidas) já questionaram a equipe de saúde em Dourados para saber o que ocorreu com a imigrante. Isso porque o casal e os filhos pequenos vieram em meio à um programa criado em 2018 pelo governo federal em parceria com a ONU.

A Operação Acolhida envolve outras 100 organizações da sociedade civil para socorro humanitário de uma população que agora, mais do que nunca, está desesperada para sair. Sem o mínimo de estrutura para lidar com a covid-19, a Venezuela foi palco, nos últimos dias, até de apagão elétrico em hospitais.

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