Matriarca do tráfico e bandido foragido comandavam quadrilha de "luxo"
Maria Muniz da Silva, matriarca de uma família de traficantes, e um criminoso brasileiro, com dois mandados de prisão no estado de São Paulo e escondido no Paraguai, eram os principais articuladores da quadrilha desmantelada pela Operação Dublê, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). Iniciada há oito meses, a operação cumpriu hoje mandados de prisão, de busca e apreensão de se sequestro de bens em Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo.
Segundo o promotor Marcos Alex Vera de Oliveira, coordenador do Gaeco em Mato Grosso do Sul, o bandido que está escondido no território paraguaio, na região de Capitán Bado, encomendava os veículos e fornecia a maconha, que saía de Coronel Sapucaia em utilitários de luxo – principalmente modelos Tucson e Santa Fé – passava pelo entreposto existente em Dourados e depois seguia para São Paulo.
Já Maria Muniz, que foi presa hoje no estado de Goiás, comandava a outra ponta do esquema. Cabia a ela e a seu grupo arranjar os carros encomendados pelo criminoso foragido, geralmente veículos roubados. Esses carros ganhavam placa e documentos falsos (cópias de outros veículos legais, por isso o nome de Operação Dublê) e chegavam a Mato Grosso do Sul principalmente em caminhões-cegonha, em meio a veículos legais.
Alguns carros eram usados como moeda para pagar a maconha fornecida pelo bandido foragido e outros eram recheados com centenas e até milhares de quilos da droga e seguiam para outras cidades, principalmente no Estado de São Paulo.
“Esse criminoso que ainda está foragido é extremamente perigoso, por isso sua prisão é de extrema importância. Estamos solicitando apoio da Interpol [Polícia Internacional] para conseguir localizá-lo em território paraguaio com o apoio da polícia do país vizinho”, afirmou Marcos Alex, em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira, na sede do Ministério Público em Dourados.
Também participaram da coletiva a promotora do Gaeco em Dourados, Claudia Loureiro Ocariz Almirão, o promotor Marcos Roberto Ditz, de Campo Grande, e o coronel Estevão, do DOF (Departamento de Operações de Fronteira).
A quadrilha tinha a participação de criminosos que já estavam presos e mesmo dentro dos presídios ajudavam a organizar o roubo dos carros e envio de maconha, usando telefones celulares. Segundo os promotores, vários aparelhos de telefone celular e grande quantidade de maconha foram encontrados em celas da penitenciária de Dourados, onde três internos foram autuados, numa cela no presídio de Guarulhos (SP) e em celas do Instituto Penal de Campo Grande.
Em Dourados foi preso um homem identificado como Jairo Rodrigues, acusado de fazer parte da quadrilha. Na casa dele foi encontrada uma caminhonete S-10 branca, dublê de outro veículo semelhante que roda legalmente no estado de Goiás.
O sobrinho de Maria Muniz, Wagner Muniz, também foi preso hoje, em Coronel Sapucaia, onde existia uma das bases da quadrilha. Segundo o Gaeco, duas filhas de Maria Muniz estão presas por tráfico e o filho dela, que teria começado o esquema, foi assassinado recentemente na fronteira com o Paraguai.
Como funcionava o esquema – Conforme o Gaeco, os carros de luxo roubados ou furtados ganhavam novos documentos em Goiás, chegavam a Mato Grosso do Sul e depois seguiam para a fronteira, onde eram recheados com maconha, voltavam para Dourados e depois eram levados para São Paulo.
Para conseguir passar pela polícia, a quadrilha usava batedores e “olheiros”, que ficavam em postos de combustíveis ao longo das estradas observando a movimentação da polícia e passavam informação aos condutores dos veículos.
Segundo a promotora Cláudia Almirão, a quadrilha tinha um sofisticado esquema para fraudar documentos e outros itens de identificação dos veículos, dificultando que os carros fossem descobertos pelos policiais.
O Gaeco não sabe ainda quantas pessoas participavam da quadrilha, mas a promotora afirma se tratar de uma das maiores organizações criminosas já desmanteladas pelo grupo que atua contra o crime organizado. “A quadrilha tinha um grande poder de se reorganizar. Toda vez que um veículo era apreendido com droga, as escutas mostraram que no dia seguinte eles já mandavam outro carro para substituir aquele apreendido”, afirmou Cláudia Almirão.