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Interior

Menino perde os dedos em explosão de granada da polícia após conflito

Na sexta-feira, houve confronto entre índios e seguranças; Menino recolheu granada por curiosidade

Aline dos Santos | 06/01/2020 12:57
Menino teve dedos da mão esquerda decepados por explosão de artefato e foi levado para o Hospital da Vida. (Foto: Direto das Ruas)
Menino teve dedos da mão esquerda decepados por explosão de artefato e foi levado para o Hospital da Vida. (Foto: Direto das Ruas)

O local de conflito fundiário em Dourados por onde passaram índios, seguranças de sitiantes e equipes da PM (Polícia Militar) também atraiu a curiosidade das crianças e o desfecho foi de mais uma vítima: um menino de 12 anos teve os dedos da mão esquerda decepados ao manipular uma granada.

De acordo com o apurado pelo Campo Grande News, o dispositivo é usado pela polícia, sendo do modelo de luz e som, também chamada de atordoamento, um explosivo não letal capaz de desorientar temporariamente os sentidos.

Tio do menino, Genésio Araújo, de 29 anos, relata que ele achou a granada na estrada, na sexta-feira (dia 3), ficou curioso e levou para a casa, na aldeia Bororó. Escondido, foi para o fundo do imóvel, cortou o dispositivo, que tem pólvora, e acendeu um isqueiro. “Explodiu na mão dele, ficou só no osso”, diz. Ainda conforme Genésio, outras crianças recolheram o artefato. “Muita gurizada pegou por curiosidade”.

Diante do ferimento, a família pediu ajuda para uma agente de saúde, que fez o contato com o Corpo de Bombeiros. O menino foi transportado em carro de órgão ligado à proteção dos indígenas até o anel viário, seguindo com os bombeiros até o Hospital da Vida.

De acordo com a Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde de Dourados), o menino segue internado e teve três dedos amputados. A reportagem fez contato com a Polícia Militar, mas não teve retorno até publicação da matéria.

A terra - A área de conflito fica entre o anel viário e a Avenida Guaicurus, na região Oeste do Dourados, a 233 km de Campo Grande. Grupos indígenas vindos de várias partes de Mato Grosso do Sul estão acampados nos arredores dos sítios desde outubro de 2018. Eles reivindicam a inclusão das terras na reserva de Dourados, criada em 1917.


Na última sexta-feira (dia 3), os índios guarani-kaiowa teriam feito outra tentativa de invasão e houve confronto com seguranças particulares contratados pelos sitiantes. Policiais militares e equipes do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) foram para o local após a troca de tiros.

Granada de luz e som tem carga explosiva de baixa potência. Criança abriu e acendei isqueiro. (Foto: Direto das Ruas)
Granada de luz e som tem carga explosiva de baixa potência. Criança abriu e acendei isqueiro. (Foto: Direto das Ruas)

No confronto, os índios Modesto Fernandes, 47 anos, Gabriel Vasque e Paulo Gonçalves Rolim ficaram feridos. Modesto levou um tiro no rosto, passou por cirurgia e segue internado no Hospital da Vida. Gabriel levou tiro na perna, foi atendido e liberado. Paulo Rolim, socorrido pelos próprios índios, levou uma pancada na cabeça e teve alto no último sábado (4).

O segurança Wagner André Carvalho, 31 anos, atingido com tiro no tórax, também passou por cirurgia.

A comitiva - Seguindo a crônica anunciada de grandes reuniões de autoridades a cada conflito indígena regado a sangue em Mato Grosso do Sul, representantes do governo federal participaram de encontro, na manhã desta segunda-feira (dia 6), no parque de exposição de Dourados.

De acordo com o secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Luiz Antônio Nabhan Garcia, índios e não índios são cidadãos brasileiros e todos têm direitos, mas invasão é crime.

“Em qualquer circunstância, invasão é crime e nós não podemos, como governantes, aceitar que o Brasil passe por situação dessa. Um incidente como esse tem repercussão internacional. A quem interessa isso? Tentar denegrir o Brasil, criar hostilidade entre índios e não índios. O nosso objetivo institucional é fazer com que paz prevaleça , que o respeito à propriedade prevaleça”, afirma.

Presidente em exercício da Funai, o delegado Alcir Amaral Teixeira afirma que é preciso procurar solução para o conflito. “Nós temos que procurar uma solução para que haja paz e harmonia entre índios e não índios”, afirma.

Policiais do DOF em área de confronto com índios, em Dourados (Foto: Sidnei Bronka/Ligado na Notícia)
Policiais do DOF em área de confronto com índios, em Dourados (Foto: Sidnei Bronka/Ligado na Notícia)
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