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Interior

Confrontos acabaram com um século de paz entre índios e sitiantes

Local de confronto desta sexta-feira é barril de pólvora desde 2016, quando pequenas propriedades começaram a ser invadidas

Helio de Freitas, de Dourados | 03/01/2020 14:56
Policiais do DOF no acesso ao local onde seguranças e índios trocaram tiros hoje (Foto: Sidnei Bronka/Ligado na Notícia)
Policiais do DOF no acesso ao local onde seguranças e índios trocaram tiros hoje (Foto: Sidnei Bronka/Ligado na Notícia)

O confronto com quatro baleados em troca de tiros e várias pessoas feridas por munição menos letal ocorrido nesta sexta-feira (3) nos arredores da reserva indígena de Dourados era tragédia anunciada há quase quatro anos.

Desde 2016, áreas particulares localizadas entre o perímetro urbano de Dourados e as aldeias Bororó e Jaguapiru se tornaram epicentro de conflitos entre pequenos sitiantes e índios que por um século foram vizinhos e viveram em paz – a reserva local foi criada em 1917.

Os primeiros conflitos ocorreram no dia 5 de março de 2016. Pelo menos sete pequenas propriedades vizinhas do Anel Viário foram invadidas e moradores expulsos pelos índios. Daquele dia em diante a tensão se instalou no local. Cinco propriedades permanecem ocupadas até agora.

No dia 1º de outubro de 2018, os conflitos se estenderam até a região oeste do município e grupos de índios passaram a cobrar a saída de moradores de outros 30 sítios localizados entre a Bororó e a Avenida Guaicurus.

O local já foi palco de vários confrontos envolvendo até policiais militares e índios que acusam os sitiantes de contratar seguranças para atacá-los. Em setembro de 2019, um morador da aldeia foi ferido com tiro de espingarda no braço esquerdo.

Naquele mês, sitiantes procuraram a Polícia Civil e registraram boletim de ocorrência denunciando ameaça e violação de domicílio, que se torna crime qualificado quando praticada à noite, em local ermo, com emprego de arma, por duas ou mais pessoas.

Os proprietários apontaram o capitão da Bororó como o líder das invasões contra as propriedades. Gaudêncio Benites negou as denúncias, criticou índios e proprietários das terras e cobrou providências para conter os dois lados.

“Tem pessoas lá, muitas das vezes nem são da nossa aldeia, que estão ingerindo bebida alcoólica e vão confrontar com os seguranças. E os seguranças estão dando tiro por cima da aldeia atual. Como líder, eu tenho feito minha parte, mas não consigo segurar essas pessoas”, afirmou, na época.

Vários grupos indígenas de outras aldeias da região, até do Pantanal, vieram para Dourados, para tentar ocupar os sítios nos arredores da reserva atual, de 3.600 hectares, e onde vivem pelo menos 18 mil pessoas.

Em 2016, quando começaram as invasões, a Funai e o MPF alegaram em recurso ao TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região (São Paulo) que os sítios ocupados pelos índios seriam extensão da reserva, pois dos 3.600 hectares da área indígena criada em 1917, apenas 3.539 foram registrados no cartório de imóveis, 49 anos depois.

Também citaram levantamento feito pela Funai em 2013 apontando que a reserva conta com 3.515 hectares, ou seja, 85 hectares a menos do tamanho total definido em 1917. O argumento foi rejeitado pelo juiz federal Renato Toniasso, da 1ª turma do TRF.

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