Mesmo com liminar que obriga internação, 3 morrem por falta de UTIs em Dourados
Desrespeito à liminar que obrigava o encaminhamento de pacientes a hospitais particulares, quando não houvesse vaga disponível na rede pública, pode ser a causa das mortes de 3 pessoas em Dourados
O promotor de Justiça da Saúde Pública de Dourados, Ricardo de Mello, afirmou que deverá pedir majoração de multa ao poder público, e ainda explicou que, diante dos fatos, vai solicitar o bloqueio de verbas que são destinadas ao Município, Estado e União para pagarem leitos em UTI’s particulares.
A promotoria deve também denunciar o caso ao MPF (Ministério Público Federal). Por falta de leitos em UTI’s três pacientes morreram na última semana, segundo o Conselho Municipal de Saúde. As vítimas aguardavam vaga no Hospital da Vida.
Nos três casos, há suspeita de negligência do HU (Hospital Universitário), que se negou a dar atendimento às vítimas, alegando falta de lençóis, já que a lavadora estaria quebrada.
De acordo com um relatório do MPE (Ministério Público Estadual), Dourados tem um déficit de 57% no número de vagas em UTI’s, nos hospitais conveniados ao SUS (Sistema Único de Saúde). Sendo assim, o município não possui estrutura adequada para cumprir as exigências do Ministério da Saúde.
Segundo o balanço, atualmente o número de leitos no município chega a 55, sendo que o mínimo recomendado seriam 126 vagas.
Retornando das férias nesta terça-feira (18), a secretária Estadual de Saúde, Beatriz Dolbashi, disse a reportagem do Campo Grande News que “vai tomar pé da situação”, mas garantiu que o município não teria procurado a pasta.
Ainda conforme o relatório, Dourados atende uma macroregião que compreende 34 cidades. Conforme a portaria 1.101/2002 do Ministério da Saúde, estima-se um total de três leitos para cada mil habitantes, e 10% do total de leitos hospitalares para leitos de UTI. Assim, além do déficit de UTI, o Ministério Público constatou que Dourados deveria disponibilizar 1.941 leitos hospitalares, quando oferece apenas 1.184.
Mortes: Na última quinta-feira (13), a aposentada Eva Ramos Araújo, 75 anos, morreu no corredor do Hospital da Vida esperando uma vaga na UTI. A vítima passou por uma cirurgia de risco no estômago, na noite de quarta-feira (12). O hospital solicitou vaga na UTI do HU, que negou a internação.
Também na quinta-feira, no mesmo hospital, o jovem Jean Michel Aguero Frazão, de 26 anos, morreu esperando uma vaga na Unidade de Tratamento. Funcionário do HU, Jean teve traumatismo craniano depois de sofrer um acidente, no sábado (8).
O Conselho Municipal de Saúde teria proposto uma troca de leito com o Hospital Universitário, mas a instituição não aceitou.
Na madrugada de domingo (9), a aposentada Mariana da Silva, de 86 anos, também morreu a espera de vaga na UTI.
HU: Ao ter atendimento solicitado, o HU informou que havia vagas na enfermaria e na UTI, porém, o problema seria a falta de lençóis.
Em nota, o HU afirmou que “desde o início da semana, vem adotando uma série de medidas emergenciais para minimizar os impactos provocados pela quebra de uma máquina secadora da lavanderia da instituição”. Segundo a instituição, na segunda-feira todos os leitos de UTI foram liberados.
De acordo com o site Dourados Agora, uma parte do enxoval utilizado diariamente pelo hospital está sendo encaminhado a uma lavanderia terceirizada. O restante, em torno de 600 quilos, está sendo lavado no próprio HU/UFGD e levado para secagem no Hospital Evangélico. A demanda diária de enxoval no HU/UFGD é de 970 quilos, incluindo lençóis, toalhas de banho, roupas para os pacientes e privativo – uniforme utilizado pela equipe para os procedimentos.
Desde o ano passado, o hospital também adotou a utilização de campos cirúrgicos descartáveis, para reduzir o volume de enxoval a ser lavado e higienizado pela instituição.