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Interior

“Nunca fui bandido”, afirma policial réu por ser cúmplice de delegado em morte

Investigador foi afastado do cargo durante as prisões e, atualmente, trabalha em Coxim

Aline dos Santos | 22/12/2020 11:35
Emmanuel (ao centro) durante homenagem na Câmara Municipal de Corumbá. 
Emmanuel (ao centro) durante homenagem na Câmara Municipal de Corumbá.

Aos 32 anos, sendo os últimos seis na profissão de policial civil, Emmanuel Nicolas Contis Leite tenta se livrar de júri popular em que é acusado de ser cúmplice do delegado Fernando Araújo da Cruz Junior, que atuava em Corumbá e foi denunciado por matar um homem dentro de ambulância, em fevereiro de 2019.

O processo tramita em sigilo, o que limita o conhecimento sobre os pormenores da denúncia. Em entrevista ao Campo Grande News, Emmanuel se apresenta como alguém que "luta contra o sistema" que, em sua argumentação, já conseguiu comprovar que não estava em Corumbá no dia do assassinato e que não ameaçou testemunha.

O que eles queriam, na prática, era forçar uma delação premiada. Eu tinha proximidade de trabalho com ele [delegado], conhecia desde 2015. Mas como vou falar se nem estava lá? O sistema é covarde. O meu advogado está recorrendo para não ir a júri. Se o juiz fosse sério, já tinha me tirado disso”, diz Emmanuel.

A investigação, que levou Contis ao banco dos réus junto com Fernando de Araújo Cruz Junior, diz que o policial agiu para apagar vestígios da participação da autoridade policial no crime, inclusive coagindo testemunhas. Há no material imagens captadas dos dois juntos, em estabelecimento comercial de uma testemunhas do caso.

Também há na apuração a informação de que  o investigador tentou pressionar colega para registrar boletim de ocorrência de outra testemunha no qual ela desmentia o que havia falado à polícia anteriormente. Contis, conformea a apuração, era bastante próximo do delegado, com fotos postadas nas redes sociais em momentos de lazer.

Ele afirma diz que era próximo ao delegado Fernando, mas não amigo.

É um colega, nunca fui amigo. Mas ele é um baita policial, um baita de um delegado”, elogia.

O investigador foi preso por duas vezes. O primeiro período foi entre 29 de março e 17 de maio de 2019. “Consegui comprovar que não tive vínculo com o homicídio e nem em Corumbá eu estava. Mas a corregedoria [Polícia Civil] inventou coação à testemunha”, acusa.

Sobre as provas que recolheu, o policial cita imagens da BR-163, mostrando sua passagem por São Gabriel do Oeste por volta das 17h30 de 23 de fevereiro de 2019 (data do homicídio), a caminho de Coxim. A outra prisão de Emmanuel foi entre maio e setembro do ano passado por ameaçar testemunha.

Ele relata que estava caminhando e viu um conhecido que, recentemente, tinha perdido uma tia. “Era o meu caminho e desejei meus sentimentos”, diz. A pessoa é testemunha e a câmera da conveniência registrou a presença do policial.

“Na audiência, meu delegado perguntou se ele se sentiu ameaçado. Ele respondeu que em nenhum momento”, afirma.

O policial foi afastado do cargo durante as prisões e, atualmente, trabalha em Coxim. “Nunca fui bandido, assassino, corrupto. Vou te falar que amo essa profissão de policial, por mais que tenha acontecido essa covardia”.

Emmanuel recebeu três moções da Câmara Municipal de Corumbá por bons serviços prestados, congratulação da polícia boliviana e agradecimento da PF (Polícia Federal) por colaborar na apreensão de R$ 129 mil, num dia que estava de folga.

Conforme decisão judicial, o policial será julgado como cúmplice do crime, por ter ajudado Fernando Araújo a atrapalhar as investigações e divulgação de montagens com fotos para culpar outras pessoas. A Corregedoria da Polícia Civil informou que  não vai se manifestar sobre as declarações.

Delegado Fernando é acusado de homicídio e teve prisão mantida pelo Tribunal de Justiça. (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)
Delegado Fernando é acusado de homicídio e teve prisão mantida pelo Tribunal de Justiça. (Foto: Anderson Gallo/Diário Corumbaense)

Delegado – Com a prisão mantida pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), em decisão de dezembro, o delegado Fernando Araújo da Cruz Junior também subiu o tom contra o juiz do caso, André Luiz Monteiro, em pedido de habeas corpus. Sem citar nomes, reclamou que “estamos diante de um magistrado deliberadamente cego”.

Fernando Araújo responde por homicídio doloso qualificado por motivo torpe e por emboscada contra o boliviano Alfredo Rangel Weber, 48 anos.

Conforme a denúncia, o crime aconteceu no dia 23 de fevereiro de 2019, depois de uma briga nas eleições para presidente da associação de agropecuaristas na Bolívia. Houve discussão entre Alfredo e outros participantes do evento.

O delegado é acusado de pegar uma faca e desferir golpes contra o boliviano, que foi socorrido para um hospital local, mas, devido à gravidade, acabou transferido para Corumbá.

Em Mato Grosso do Sul, a ambulância foi fechada por uma caminhonete. O condutor, apontado como sendo o delegado, desceu e atirou no paciente. O homem morreu e o motorista da ambulância retornou com o cadáver ao País vizinho.

(Matéria editada às 18h25 para acréscimo de informação)

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