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Capital

Carceragem "especial", 3ª DP tem investigadores e delegados dividindo 2 celas

Unidade no Carandá Bosque é onde estão agentes da lei presos por tráfico, assassinato e envolvimento com milícia

Marta Ferreira | 01/07/2020 06:10
Da esquerda para direita, os delegados Mário Shiro Obara, Éder Oliveira Moraes e Fernando Cruz, que estão presos em delegacia de Campo Grande. (Foto: Montagem com imagens de arquivo)
Da esquerda para direita, os delegados Mário Shiro Obara, Éder Oliveira Moraes e Fernando Cruz, que estão presos em delegacia de Campo Grande. (Foto: Montagem com imagens de arquivo)

Preso desde o dia 17 de junho, quando foi alvo da operação Omertà, sob acusação de receber propina para atrapalhar investigações de assassinatos ao invés de concretizá-las, o delegado Márcio Shiro Obara vai continuar preso, segundo decisão judicial desta semana. Ele está em cela da 3ª Delegacia de Polícia Civil em Campo Grande, no Bairro Carandá Bosque, unidade que hoje abriga mais dois delegados acusados de crime.

Ali também estão outros três agentes da lei, todos implicados na operação contra milícia armada desencadeada em setembro do ano passado. São dois policiais civis e um federal. Soma-se, então, seis policiais na 3ª DP, cuja carceragem é dedicada a custodiar integrantes da Polícia Civil sob suspeita de ir para o lado dos bandidos, mas também recebe, como é o caso no momento, gente de outras instituições de segurança.

Quem está há mais tempo no lugar são dois delegados.  Fernando Araújo da Cruz Junior, 34 anos, réu por assassinar o boliviano Alfredo Rangel Weber, de 48 anos, em 23 de fevereiro de 2019, está na cadeia desde março de 2019 quando foi capturado em Corumbá em ação da Corregedoria da Polícia Civil, ou seja, há quase um ano e meio. Já tentou a liberdade algumas vezes, sem sucesso.

A outra autoridade policial é Éder Oliveira de Moraes, 51 anos, no cárcere desde 24 junho de 2020, há um ano portanto. Ele é processado por tráfico de drogas, por envolvimento no furto de 101 quilos de cocaína da delegacia de Aquidauana, que chefiava, e também porte ilegal de arma.

Responde, ainda, por estupro de vulnerável em processo no aguardo de sentença desde novembro do ano passado, como apurado pela reportagem. Éder chegou a conseguir recentemente o benefício da liberdade com uso de tornozeleira, mas a decisão foi revertida pela Justiça.

Os três delegados estão afastados das funções e vão passar por processo que pode redundar em exclusão da corporação, quando acabarem as ações judiciais. Éder e Obara tiveram, em maio, rendimentos brutos de R$ 29 mil. Fernando, delegado há menos tempo, registra remuneração de R$ 21 mil sem os descontos.

Elvis Elir, à esquerda, Frederico Maldonado, no centro, são policiais civis e também estão presos. À direita, está Everaldo Monteiro de Assis, policial federal implicado na Omertà. (Foto: Montagem com reprodução de vídeo)
Elvis Elir, à esquerda, Frederico Maldonado, no centro, são policiais civis e também estão presos. À direita, está Everaldo Monteiro de Assis, policial federal implicado na Omertà. (Foto: Montagem com reprodução de vídeo)

Omertà - Os outros policiais que dividem a carceragem da 3ª DP com os delegados são os agentes de polícia judiciária Elvis Elir Camargo de Lima e Frederico Maldonado Arruda e ainda o policial federal Everaldo Monteiro de Assis.

Os três são réus por fazer parte da agência de pistolagem investigada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) e pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros).

Todos já tentaram a liberdade e os pedidos têm sito negados reiteradamente, inclusive pelas instâncias superiores, como o STF (Supremo Tribunal Federal). Os três policiais estão na prisão desde 27 de setembro do ano passado, quando houve a primeira fase da Omertà.

Preso na terceira fase, sob suspeita de recebimento de propina de R$ 100 mil, o delegado Márcio Shiro Obara, ex-titular da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios) teve o primeiro pedido de liminar em habeas corpus negado esta semana, pelo juiz substituto em segundo grau Waldir Marques, com quem estão ficando todas as análises de pedidos de soltura de envolvidos com a organização criminosa.

Na segunda-feira (22), foi mantida a prisão. Agora, o pedido vai para análise do colegiado do qual Marques faz parte, a 2ª Câmara Criminal.

Também alvo da terceira fase da operação, o investigador Célio Rodrigues Monteiro está em outra carceragem por motivos de segurança, descobriu a reportagem.

Regra -  A 3ª Delegacia de Policia Civil tem, segundo levantado pelo Campo Grande News, duas celas, cada uma com quatro vagas, se respeitado o espaço projetado. Presos por outros crimes não ficam ali, justamente em razão de ser, por regulamentação estadual, a unidade dedicada a custodiados que fazem parte da corporação estadual. Haveria risco para integridade dessas pessoas se criminosos "comuns" ficassem junto.

Os presos ligados à PM (Polícia Militar) ficam no presídio mantido pela corporação militar, no complexo penal na saída para Três Lagoas.

Na primeira fase da Omertà, também foram presos os policiais civis Márcio Cavalcanti da Silva, o "Corno", e Vladenilson Olmedo, o "Vlad", tidos como gerentes do grupo criminoso. Eles foram transferidos para o sistema prisional federal, por serem considerados do núcleo de gerência da máfia especializada em mortes de inimigos.

Estão em Mossoró, Rio Grande do Norte. Em suas tentativas de voltar para Campo Grande já alegaram que deveriam estar no prédio do Carandá Bosque, sêm exito.

A reportagem indagou a Polícia Civil sobre as condições ofertadas aos policiais presos na carceragem onde ficam e obteve a resposta de que questões relacionadas ao dia-a-dia desses presos não podem ser repassadas para "para preservar a segurança orgânica do prédio".

Segundo informado, a repartição da segurança púlica custodia politiciais. Demais presos ficam nas Depacs (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) no Centro e no Bairro Tiradentes, na Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), na 2ª Delegacia de Polícia Civil, no Monte Castelo, para onde costumam ir as mulheres, e na Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Furtos e Roubos). Há carceragem também na 4ª Delegacia de Polícia Civil, onde alvos de mandados de prisão ou quem é flagrado cometendo crime fica até que seja encaminhado ao sistema penitenciário.

Com os agentes de segurança pública, o trajeto normal é ficar na delegacia enquanto são presos provisórios. Quando passam a cumprir pena, vão para um presídio, onde também existem alas separadas para quem é oriundo das forças de segurança.

Delegacia no Bairro Carandá abriga policiais suspeitos de envolvimento com o crime. (Foto: Henrique Kawaminami)i)
Delegacia no Bairro Carandá abriga policiais suspeitos de envolvimento com o crime. (Foto: Henrique Kawaminami)i)


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