Peixes morrem após despejo de veneno em lavoura vizinha a fazenda
Indígenas que ocupam uma fazenda em Rio Brilhante, a 163 quilômetros de Campo Grande, denunciaram contaminação por agrotóxico em um rio da região. A liderança do acampamento Laranjeira Ñhanderu, que preferiu não se identificar, afirma que os peixes do rio conhecido como Valetão morreram depois que a aeronave passou despejando o veneno.
Segundo o indígena, o agrotóxico foi lançado sobre a lavoura de soja da Fazenda Do Inho, que é vizinha a Fazenda Santo Antônio, onde os índios permanecem acampados desde 2008, reivindicando a terra tradicional. Conforme a liderança, o córrego era fonte de água para a comunidade com 120 pessoas. “Ficamos sem água para beber e fizemos um poço, mas ali era fonte para nossa criação de galinha e pato, além dos cachorros que bebem água e passam mal”, relatou.
O filho do proprietário da Fazenda Do Inho, Raul das Neves Júnior, confirma o uso de agrotóxico por meio de avião, mas nega qualquer dano ao meio ambiente ou investida contra os índios. “Os defensivos agrícolas são aplicados de forma legal como mandam a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Agricultura e eu não acredito que isso tenha contaminado o córrego. Ali perto, tem apenas o córrego Cadeado e ainda assim, não fica muito perto”, disse Raul.
Para justificar a foto enviada pelos índios, o fazendeiro disse que a morte de peixes é frequente em época de cheia dos rios. “Depois que o nível volta ao normal, os peixes ficam ilhados e acabam morrendo”, disse.
O líder do acampamento disse que já denunciou o caso, ocorrido no início do mês, ao MPF (Ministério Público Federal) e Funai (Fundação Nacional do Índio), mas ainda não obteve resposta. Integrante do Cimi (Conselheiro Indigenista Missionário) esteve ontem (28) no local registrando danos no córrego. Segundo o Cimi, fotos e vídeos foram entregues ao antropólogo do MPF, Marcos Homero.
Laranjeira Ñhanderu – Em 2003, os índios tiveram problemas com a administração da fazenda vizinha ao acampamento, segundo o MPF. O órgão teve que solicitar à Justiça que os únicos acessos a propriedade ocupada fossem liberados pelo proprietário para que fosse feito atendimento médico, distribuição de remédios e alimentos, apoio policial e até mesmo o transporte escolar.
O fazendeiro já tentou a reintegração de posse da área em ação na Justiça Federal, mas o despejo foi suspenso pelo TRF-3 (Tribunal Regional Federal da Terceira Região), em São Paulo.
(Matéria editada no dia 01/02/2016 para correção de informação)