Policiais penais também são investigados por ajudar na fuga de presos
Imagens de dois internos saindo pela porta da frente da unidade foram divulgadas nesta manhã
As investigações que resultaram na Operação La Catedral, que prendeu nesta manhã (6), cinco policiais penais por corrupção, começaram após dois presos fugirem da Unidade Penal Ricardo Brandão pela porta da frente. A fuga “fácil” é apenas uma das irregularidades encontradas no presídio durante as apurações. Celas completamente reformadas, além de diversas bebidas alcoólicas, foram encontradas nas ações de hoje.
Segundo nota da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), no ano passado, a Direção Geral e a Corregedoria-Geral receberam informações sobre grande quantidade de bebida apreendida dentro de uma das celas do presídio. Dois dias depois, os presos envolvidos no flagrante fugiram da unidade. A situação desencadeou uma “Correição Extraordinária” para apurar os fatos.
Nesta manhã, o vídeo da fuga dos presos foi divulgado. O caso acontece no dia 2 de fevereiro. Nas imagens do próprio sistema de segurança da unidade, é possível ver um dos internos se aproximar da policial penal que cuida a “portaria” do presídio e conversar com ela. Os dois falam por alguns segundos, até que outro preso se aproxima.
Neste momento, o primeiro suspeito rende a policial, a segura pelo pescoço e abre o portão de entrada da unidade. Em seguida, ele e o colega fogem a pé.
Essa, no entanto, não foi à única fuga da unidade no ano passado. Dias depois, em 18 de fevereiro, Manoel Edvaldo Ortiz Gil, que estava no presídio desde julho de 2020, escapou sozinho do presídio. Condenado por tráfico de drogas, o interno ainda responde por vários processos na Justiça de Mato Grosso do Sul e até do Rio Grande do Sul.
Em julho, trio de presos escapou do presídio da mesma maneira que os dois primeiros, pela porta da frente.
Conforme divulgado na época, Nédio Marques Brito Filho e Celso Gonçalves Sanguina renderam uma funcionária e sob ameaças conseguiram forçar a saída, diante dos policiais penais. Do lado de fora, a dupla embarcou em uma caminhonete branca. O terceiro homem escapou na sequência, entretanto, nem a identidade dele ou as circunstâncias da fuga foram reveladas.
Em outubro, foi a vez de Johnatan Silva de Araújo. Com uma faca, ele rendeu a servidora da portaria, que chegou a ser arrastada e ficou ferida, depois escapou da unidade. No mês seguinte, Paulo Rodrigo Martins Ferreira e o catarinense Diego Cardoso também fugiram.
A informação repassada em novembro do ano passado foi de que os dois trabalhavam na cozinha e foram “esquecidos” para fora da cela durante uma forte chuva. Aproveitaram a oportunidade para sair da unidade sem serem notados.
Entre os crimes cometidos pelos servidores alvos da ação, está justamente o auxílio na fuga dos internos. No entanto, a polícia não divulgou detalhes dos casos.
Luxo na cela – Além das fugas frequentes, as investigações identificaram uma vida de “luxo” em algumas das celas do presídio. Reformas foram feitas para adaptar o espaço, que ganhou tomadas novas, prateleiras, pintura nas paredes, piso no chão e até forro. O banheiro foi completamente refeito, recebeu azulejo e instalação de chuveiro elétrico.
Várias caixas de cerveja, vinhos, pingas e até uísque foram apreendidas nas celas. Além disso, celulares também foram encontrados pelos policiais que participavam da ação.
Com as investigações, foi descoberta a participação de pelo menos cinco policiais penais no esquema de corrupção. Eles recebiam para “facilitar” a vida dos presos, permitiam a entrada de celulares, bebidas e as mudanças nas celas.
Nesta manhã, os cinco foram presos temporariamente. Também foram cumpridos mandados de busca e apreensão nos imóveis dos servidores públicos e Unidade Penal Ricardo Brandão, localizada na Rua Baltazar Saldanha.
Segundo a Agepen, apesar das prisões terem acontecido hoje, os servidores já estavam afastados do trabalho na unidade penal desde que as irregularidades foram descobertas. “Com o trabalho conjunto entre a Corregedoria e o Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), foi possível chegar aos elementos de informação de materialidade e autoria suficientes à deflagração da operação”.
No total, são apurados ao menos 19 crimes cometidos pelos agentes investigados, que vão desde propina para trocas de celas até a entrada de celulares. Os nomes deles não foram divulgados pela polícia.