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Interior

Sem vigilância externa, PED tem tumulto e drone arremessando droga

Drone fez duas “entregas” destinadas ao pavilhão onde ficam 900 presos do PCC

Liniker Ribeiro e Helio de Freitas, de Dourados | 09/12/2020 17:59
Penitenciária Estadual de Dourados, maior presídio de MS (Foto: Arquivo)
Penitenciária Estadual de Dourados, maior presídio de MS (Foto: Arquivo)

Agentes penitenciários denunciam, mais uma vez, a situação precária em relação à vigilância na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), maior presídio de Mato Grosso do Sul com pelo menos 2.700 presos. O caso foi mostrado em primeira mão pelo Campo Grande News na sexta-feira (4).

Segundo os agentes, após a saída de policiais militares das torres instaladas na muralha, há uma semana, a unidade está muito mais suscetível a problemas de grande proporção, como a fuga de detento no fim de semana e tumulto registrado na manhã de ontem (8), ocasião em que foi flagrado drone sobrevoando o espaço e arremessando produtos para dentro da cadeia.

Conforme apurado pela reportagem, o tumulto generalizado ocorreu por volta das 8h45 nos raios I, II e III. Sobre o raio II, onde ficam 900 presos do PCC (Primeiro Comando da Capital), drone que sobrevoava o local soltou malote no pátio. Interno não identificado pegou o pacote e levou para o lado B do raio, segundo boletim de ocorrência registrado na 2ª Delegacia de Polícia Civil.

Pouco tempo depois, por volta das 9h06, o drone voltou a sobrevoar o local, tendo novamente arremessando malote para dentro do espaço. O pacote caiu no lado A do raio, mas um dos presos conseguiu pular o muro que divide os espaços e recuperar o objeto.

Drone que os agentes encontraram nos arredores do presídio. (Foto: Direto das Ruas)
Drone que os agentes encontraram nos arredores do presídio. (Foto: Direto das Ruas)

Tumulto –  Quando o sinal para que os detentos retornassem à cela tocou, por volta de 8h55, eles começaram a provocar tumulto e não se recolheram. No momento do banho de sol, cerca de 400 presos estavam em apenas uma dos raios, o de número II, destinados a membros de facção. Outros 600 detentos estavam nos raios I e III.

De acordo com o boletim de ocorrência, as torres de segurança estavam desguarnecidas, sem nenhum policial militar. No período da tarde de ontem, pouco depois das 13h, os agentes fizeram buscas do lado de fora da unidade e encontraram equipamentos eletrônicos e peças de drone.

Hoje (9), mais uma situação que demonstra a falta de segurança na PED. Por volta de 1h45 da madrugada, os agentes viram pelo sistema de câmeras o momento em que preso da cela 26 do raio II serrou a grade da janela e correu em direção à muralha, recolheu três pacotes e voltou para a cela.

O preso identificado como Emerson Pereira dos Santos confirmou ter saído para pegar droga, jogada sobre o muro por outro integrante da facção. No boletim de ocorrência também registrado na 2ª DP, os agentes informaram que no momento as torres 1, 2 e 4 estavam desguarnecidas.

A falta de segurança externa no presídio é motivo de preocupação do Sinsap (Sindicato dos Servidores da Administração Penitenciária de Mato Grosso do Sul). Na segunda-feira (7), a entidade enviou ofício ao secretário estadual de Justiça e Segurança Pública Antonio Carlos Videira questionando quais providências estão sendo tomadas para resolver o problema.

Suail fugiu na madrugada de domingo (Foto: Arquivo)
Suail fugiu na madrugada de domingo (Foto: Arquivo)

Fugas - Assinado pelo presidente do sindicato, André Luiz Garcia Santiago, o documento relata que os meses de dezembro e janeiro são períodos críticos nos presídios devido ao aumento de fugas. No domingo (6), Suail Nascimento Souza, 50, que também usa nome falso de Cláudio Pereira da Silva, fugiu da PED.

Condenado a 13 anos por tráfico de drogas, ele cuidava dos três cães da raça Rottweiler mantidos pela direção do presídio e aproveitou a falta de vigilância externa para fugir por buraco aberto em uma das casinhas de cachorro, ao lado do muro.

Segundo servidores da PED, a fuga ocorreu na “linha de tiro” da torre 2, mas não foi percebida porque não havia nenhum policial no local. Até agora Suail não foi recapturado.

Morte – Nesta quarta-feira, o preso Rodrigo Machado de Araújo, 33, que estava na cela 76 do raio I junto com outros sete detentos, foi encontrado morto. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Os outros presos da cela não souberam informar o que aconteceu com Rodrigo, porém, relataram que o companheiro teria tentado tirar a própria vida em ocasião anterior. Em um celular encontrado na cela, que segundo os outros presos era de Rodrigo, havia mensagem enviada à mãe dele, indicando suposta crise de depressão.

Sejusp e PM – Em nota, a Polícia Militar nega ter deixado a segurança externa. A corporação alega ter adotado medidas de “otimização dos recursos humanos e materiais”, com revezamento entre policiamento nas torres e rondas ostensivas no perímetro externo ao presídio.

Nesta quarta-feira, a assessoria da Segurança Pública informou que a responsabilidade sobre a situação é da Polícia Militar e da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário).

Agepen – Também em nota enviada nesta tarde ao Campo Grande News, a Agepen confirma o relato dos servidores penitenciários de plantão sobre manifestação de internos de diferentes pavilhões da PED, com gritos, após drone sobrevoar o presídio e descartar materiais no raio 2, durante o banho de sol dos detentos.

“O alarme da unidade prisional foi acionado para que o banho de sol fosse interrompido e os internos adentrassem para as celas, para a realização das medidas de segurança, o que não foi acatado de imediato, mas rapidamente a situação se resolveu”, diz a agência.

Conforme a Agepen, os servidores identificaram os internos envolvidos no recolhimento dos objetos arremessados pelo drone e estão todos isolados. “Não houve maiores alterações”.

A nota da agência continua: “após o sobrevoo do drone, os servidores identificaram na parte externa do presídio, em uma vegetação próxima ao rodoanel, uma maleta contendo uma bateria TB48, uma câmera, cartão de memória, um suspensório para controle do drone, um cabo USB, um carregador para bateria, uma chave de fenda, um controle para drone, uma hélice, entre outros itens, que foram encaminhados para investigação”.

Muralha – Em relação à guarda das muralhas da Penitenciária Estadual de Dourados, a agência reafirma que o serviço é de responsabilidade da Polícia Militar, “não havendo nenhum acordo, compromisso ou determinação para que a Agepen execute este serviço no momento, tendo em vista a impossibilidade por falta de material humano e equipamentos para isso, o que é de conhecimento e entendimento por parte da Secretaria de Justiça e Segurança Pública”.

Segundo a Agepen, toda e qualquer situação que envolva a rotina de segurança e disciplina da PED está sendo relatada ao Poder Judiciário. “A situação na unidade prisional é de tranquilidade no momento”.

Torres vazias na muralha da penitenciária de Dourados (Foto: Arquivo)
Torres vazias na muralha da penitenciária de Dourados (Foto: Arquivo)


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