ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  16    CAMPO GRANDE 27º

Interior

TJ impede botão do pânico em cidade onde 164 mulheres foram agredidas em um ano

No Paraná, pedido de socorro é por aplicativo; Campo Grande avalia iniciativa

Maristela Brunetto | 30/01/2023 15:35
Quando o companheiro vira algoz. Celeste foi morta na frente dos 3 filhos. (Foto: Correio Mídia News)
Quando o companheiro vira algoz. Celeste foi morta na frente dos 3 filhos. (Foto: Correio Mídia News)

O TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) concedeu medida cautelar e derrubou a execução de lei aprovada em Ribas do Rio Pardo criando medidas de segurança para mulheres sob risco de violência doméstica. Um dos mecanismos previstos era a criação do chamado botão do pânico, para acionar a polícia em casos de agressão ou ameça.

O fundamento foi de que a iniciativa criava obrigações para a prefeitura e não poderia ter sido proposta pelo Legislativo, mas somente pelo Executivo, o que configura vício na lei. Foi a segunda iniciativa do tipo assinada pelo TJ na área de defesa da mulher na cidade, ambas a pedido da prefeitura. A outra previa a criação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e cabia à prefeitura criar estrutura para o grupo atuar, sendo esta parte da lei afastada por inconstitucionalidade.

A iniciativa da lei com mecanismos de proteção foi da vereadora Tânia Mara Ferreira Dias (Solidariedade). Quando apresentou o projeto, em maio do ano passado, argumentou que não bastava a aplicação da punição quando a violência já ocorria. Era necessário agir antes.

“Acredita-se que tal ineficiência se deve à ausência ou modicidade de medidas preventivas e assistenciais, na falta de atendimento adequado e qualificado, bem como na ausência de adoção de soluções práticas já testadas e aprovadas em outros locais, como é o caso do ‘botão do pânico”, ponderou. O mecanismo deveria ser instalado em um prazo de 90 dias. Além disso, a lei previa também a criação de uma estrutura de atendimento para as mulheres em situação de violência.

A lei foi aprovada por unanimidade, houve o veto pelo prefeito João Alfredo Danieze, e a derrubada do veto pela Câmara. O prefeito argumentou que além de impor despesas ao Município, havia atribuições que seriam do Executivo estadual, como a assessoria jurídica para as vítimas. Com a manutenção da lei, o caminho foi a apresentação da Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade), tendo a medida cautelar deferida por unanimidade.

Vidas em risco - A briga jurídica acaba colocando em segundo plano um drama das mulheres que vivem ou viveram uma relação abusiva e não conseguem se ver livres da ameaça do agressor. Em Ribas, onde começou o imbróglio, no ano passado ocorreram dois feminicídios e 164 ocorrências enquadradas pela Lei Maria da Penha, conforme dados do sistema Sigo, da Secretaria de Justiça e Segurança Pública.

Em MS, foram 19.604 ocorrências de diferentes delitos e 44 homicídios de mulheres pelos companheiros, os chamados feminicídios, assassinato com pena mais elevada (12 a 30 anos). Em 2021, o Estado teve o terceiro maior número deste tipo de crime, proporcionalmente à população, com 37 mortes e 132 tentativas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Neste ano, já foram registrados três casos de assassinatos de mulheres pelos companheiros. O mais recente foi na semana passada, em Sidrolândia. Uma venezuelana de 23 anos, Celeste Josefinia Gonzales Misel, foi morta a facadas na frente dos três filhos pequenos. O autor foi preso na sequência, quando tentava fugir da cidade.

No Estado, não há uma iniciativa a respeito do botão do pânico, conforme a Sejusp e o Judiciário. O sistema penitenciário chegou a divulgar que acompanhava, via tornozeleira eletrônica, a movimentação de alguns agressores. Não foi possível apurar como está o sistema atualmente.

Na Casa da Mulher Brasileira, que esta semana completa oito anos, há serviços para atendimento de mulheres que já sofreram a violência e precisam de auxílio e proteção.

Entretanto, segundo a subsecretária de Políticas para Mulher de Campo Grande, Carla Stephanini, a adoção do sistema envolve solução tecnológica e envolvimento de outros entes públicos. Ela admite o interesse, informa que foi solicitado estudo para a equipe de tecnologia do município, mas nada ainda de concreto sobre o tema.

No Paraná, o socorro chega por um click no celular para mulheres com medidas protetivas. (Foto: Kísie Ainoã)
No Paraná, o socorro chega por um click no celular para mulheres com medidas protetivas. (Foto: Kísie Ainoã)
  1. Socorro via App - No Paraná, o sistema funciona sem a necessidade de compra de aparelhos como controle remoto, como se pensou no passado. O governo estadual desenvolveu um aplicativo que as mulheres baixam no celular, aquelas que já estão cadastradas por terem medidas protetivas disparam o alerta se sentirem que estão sob iminência de sofrer alguma violência e a polícia vai ao socorro da vítima. A iniciativa já atende cerca de 2 mil mulheres no estado vizinho, conforme dados divulgados este mês.
Nos siga no Google Notícias