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Interior

Traficante resgatado de hospital tem 82 anos e seis meses de cadeia a cumprir

Nelson de Oliveira Leite Falcão foi levado para um hospital de Dourados entre bandidos “comuns”; quadrilha aproveitou falhas na segurança e resgatou traficante há quatro dias

Helio de Freitas, de Dourados | 31/07/2018 17:12
Nelson Falcão foi resgatado sexta-feira de hospital de Dourados (Foto: Arquivo)
Nelson Falcão foi resgatado sexta-feira de hospital de Dourados (Foto: Arquivo)

Nelson de Oliveira Leite Falcão, 53, chefe de uma bem estruturada quadrilha de traficantes, está condenado a 82 anos, seis meses e 15 dias de reclusão por uma série de crimes, principalmente tráfico internacional de cocaína e organização criminosa.

O somatório das penas é citado na ficha disciplinar dele na PED (Penitenciária Estadual de Dourados), onde Falcão ficou preso do dia 14 de junho deste ano até 12h55 de sexta-feira passada, dia em que foi resgatado por homens armados com roupa de enfermeiro do Hospital da Vida, na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul.

A Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul) afirma que uma cópia da ficha disciplinar do traficante foi enviada à Polícia Militar junto com o pedido de escolta até o Hospital da Vida, onde Falcão seria medicado de dores lombares.

A condenação superior a oito décadas de reclusão não inclui a prisão em flagrante de Nelson Falcão e outras cinco pessoas, no dia 23 de março deste ano, na BR-262, em Água Clara, quando ação conjunta da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Polícia Federal apreendeu 889 quilos de cocaína levados no fundo falso de um caminhão. Esse caso ainda não teve sentença.

“Preso comum” – Mesmo já condenado a 82 anos de reclusão e com chance de ver essa pena chegar a um século por causa da carga de cocaína descoberta em março, Nelson Falcão foi levado da PED até o hospital entre presos “comuns”, sem nenhum reforço especial no serviço de escolta.

Comparsas de Nelson Falcão aproveitaram a fragilidade da segurança, invadiram o hospital, renderam os policiais militares da escolta e o levaram para local desconhecido até agora. Em Dourados os rumores são de que o bandido fugiu para a Bolívia, onde tem fazendas.

Empurra-empurra – A Polícia Militar alega que a Agepen não fez nenhum pedido de escolta diferenciada. Já a agência afirma que a cópia da ficha disciplinar do traficante foi enviada junto com o pedido de escolta.

A fuga de Nelson Falcão está sendo investigada pela Polícia Militar e pela Polícia Civil. Na sexta-feira o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública Antonio Carlos Videira garantiu que a Corregedoria também vai apurar o caso. Entretanto, até agora não há nenhuma pista do traficante e dos demais envolvidos no resgate.

Cocaína apreendida em março, no dia em que Falcão voltou a ser preso (Foto: Divulgação)
Cocaína apreendida em março, no dia em que Falcão voltou a ser preso (Foto: Divulgação)

Semiaberto – Natural de Aquidauana, Nelson Falcão tem vários processos em andamento na Comarca de Campo Grande e ações por tráfico e outros crimes na esfera federal.

Mesmo com uma extensa ficha criminal e altas sentenças, no dia 23 de maio de 2014, o então juiz da 1ª Vara de Execução Penal da Capital, Gil Messias Fleming, deferiu a progressão de regime e mandou Nelson Falcão cumprir a pena no semiaberto.

Para ter o benefício, ele tinha de exercer trabalho interno no Centro Penal Agroindustrial da Gameleira durante o dia. Não havendo vagas para trabalho interno, deveria trabalhar nos locais designados pela direção do presídio.

Também deveria permanecer no local informado durante o repouso noturno, quando estiver usufruindo de saída para visita periódica ao lar ou saída temporária.

Liberdade e fuga – No dia 27 de agosto de 2014, após vários pedidos anteriores negados, o então juiz substituto da 2ª Vara de Execução Penal da Capital, Alexandre Antunes da Silva, autorizou a saída temporária de Nelson Falcão por sete dias, com efeitos a partir de 30/08/2014, “devendo permanecer por todo o período no endereço informado e sair apenas para se dirigir ao estabelecimento em que se encontra recolhido”.

Só que o traficante não voltou mais. Ele aproveitou a saída temporária e fugiu. No dia 9 de dezembro de 2014, o juiz Albino Coimbra Neto, então titular da 2ª Vara de Execução Penal, suspendeu o regime semiaberto e determinou a prisão em regime fechado.

Uma semana depois foi expedido o mandado de prisão, só que Nelson Falcão desapareceu e só voltou a ser preso em março deste ano, flagrado com a carga de cocaína. Para escapar da Justiça, ele usava o nome do irmão.

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