Vereador é gravado propondo rachadinha com salário de assessora
Áudios revelam “Tucura” mandando assessora dar parte do salário a publicitário de Rio Brilhante
O vereador Carlos Roberto Segatto (PTB), o “Tucura”, é suspeito de adotar prática de “rachadinha” no salário dos assessores de seu gabinete na Câmara de Rio Brilhante, cidade a 161 km de Campo Grande.
A “rachadinha” é prática antiga em órgãos públicos, principalmente do Legislativo e do Executivo de pequenas cidades, mas ficou mais conhecida após denúncias revelarem o esquema envolvendo o atual senador Flávio Bolsonaro (PL) e Jair Bolsonaro, quando o ex-presidente era deputado federal.
Áudios que começaram a circular nesta semana em grupos de aplicativo de conversa e redes sociais revelam diálogos entre o vereador, uma ex-assessora identificada como Sandra e o publicitário Helysom Rodrigues.
Tucura estava contratando os serviços de Helysom Rodrigues para cuidar de suas redes sociais e para acompanhá-lo em algumas visitas. Entretanto, o pagamento seria feito com parte do salário de Sandra, então nomeada no gabinete do vereador.
O diálogo, gravado pela ex-assessora, ocorreu no dia em que Tucura a chamou para informar que Helyson passaria a ajudá-la a cuidar do marketing digital dele e que o pagamento teria de ser feito por Sandra, com parte do salário recebido por ela da Câmara de Vereadores.
Sandra então perguntou qual o valor combinado. No momento em que Helysom respondeu, um celular tocou e o som abafou a resposta, mas é possível ouvir ele falando “600”. Ao fundo, é possível ouvir o vereador falar: “você sabe que o salário aumentou né?”.
“É aquilo que conversei com você, eu te falei, isso [rachadinha] não pode, é peculato. Você disse que o Juarez falou que pode, você vai confiar no Juarez?”, questiona Sandra a Tucura Segatto. “Quem vai pagar é você, não é o Juarez, não é ninguém”, responde o vereador.
“Não estou falando que não vou pagar, tô falando que é peculato, é peculato. Eu quero recibo”, afirmou ela. O vereador responde: “o dinheiro é seu, você ta pagando um cara para fazer o seu serviço”.
Sandra insistiu dizendo que só aceitaria usar parte do salário para pagar o publicitário se ele fornecesse um recibo. Durante a conversa, o vereador ligou para outra pessoa para perguntar se o esquema seria ilegal. Após o fim do diálogo, todos concordam que seria melhor “deixar quieto”.
Tucura Segatto ainda reclamou de Sandra, pelo fato de a assessora ter concordado com o esquema inicialmente. “Você deveria ter falado que não ia aceitar”. Helysom Rodrigues é o atual assessor do vereador.
O Campo Grande News teve acesso aos áudios.
Ouça abaixo:
Rachadinha e homofobia – Durante a sessão de terça-feira (28), o vereador Rodrigo Laboisier (PSDB) levou o caso ao plenário da Câmara. Sem citar o nome de Tucura Segatto, ele disse que todos os 13 vereadores da cidade sabem do crime político que está acontecendo no Legislativo.
“Não adianta a gente passar a mão na cabeça e falar que não está acontecendo. Se não levar para frente um processo de cassação grave nesta Câmara, eu quero ver o que a população de 40 mil pessoas vai falar”, disse Rodrigo Laboisier, ao anunciar que levaria a denúncia ao Ministério Público.
Homossexual assumido, Laboisier disse que muitos duvidam se ele teria coragem de fazer a denúncia. “Falam que o cara é viado e não tem coragem, mas eu tenho muita coragem. Rachadinha é crime, gente! Da onde vocês têm coragem de falar que não estão sabendo?”.
No discurso, Rodrigo Laboisier também denunciou crime de homofobia contra ele, afirmando ter ouvido que “gay tem que morrer”. “Prefiro ser um gay que nem falou, mas nunca roubei”. O Campo Grande News procurou Rodrigo Laboisier para saber se ele já fez a denúncia ao Ministério Público, mas o vereador ainda não se manifestou.
O presidente da Câmara Paulo César Alves (MDB) disse hoje (3) que não teve acesso aos áudios da conversa de “Tucura” Segatto com os assessores. Afirmou também que qualquer pessoa residente no município pode protocolar pedido de cassação de vereador, mas até agora nenhuma denúncia foi protocolada no Legislativo.
“Vítima de armação” – Ao Campo Grande News, Tucura Segatto negou ter proposto “rachadinha” do salário da ex-assessora, acusou Sandra de ter gravado a conversa e vazado os áudios e disse ser vítima de armação política.
Ontem, ele registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil contra a ex-assessora por calúnia e difamação e chamou as gravações de ilícitas. “Não vamos recuar, queremos muito que o MP apure todos os fatos porque temos certeza da nossa inocência”.
O vereador afirma que Sandra o procurou e insistiu para trabalhar com ele, “mesmo que fosse de graça”. Segundo ele, ela o ajudou por período de três a cinco meses sem salário e depois ficou mais oito meses nomeada no gabinete.
Tucura Segatto afirma que a “prova” da “armação muito grande” foi a nomeação da ex-assessora dele em cargo na prefeitura. O petebista é oposição à atual administração municipal.
Apesar de seu nome não ter sido citado pelo colega de Legislativo, o vereador negou ter cometido crime de homofobia contra Rodrigo Laboisier. “Nunca tive problema com isso e nunca terei. Um dos três amigos que tenho é dessa classe. Nunca irão achar um problema que eu tenha tido com esse pessoal, pelo contrário, tentei ajudar muito”.
Tucura disse que espera esclarecimento o mais rápido possível. “Não cometemos crime, somos vítimas de uma grande armação, mas o tiro vai sair pela culatra”, afirmou o vereador.
O publicitário Helysom Rodrigues também negou qualquer irregularidade, disse estar confiante que não cometeu crime e também citou o fato de a ex-assessora ter sido nomeada para cargo na prefeitura.
Segundo ele, Sandra os induziu à conversa sobre a suposta rachadinha e que ela teria divulgado apenas a parte "que a convém", para armar contra o vereador. "Ontem saiu a nomeação dela. Quem garante que ela não fez o que fez para conseguir emprego na prefeitura?", questionou. "Ela vai ter que provar na Justiça que passou dinheiro para alguém. Eu nunca peguei 1 real de ninguém".
*Matéria alterada às 12h40 para acréscimo das declarações do publicitário.