Pedido de refúgio a haitianos feito em MS é o 1º no País
Vai ser analisado pelo Conare (Comitê Nacional de Refugiados), ligado ao Ministério da Justiça, o pedido de refúgio feito pelos 14 haitianos que entraram ilegalmente no Brasil, pela fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia, e foram presos quarta e quinta-feira.
O pedido é o primeiro feito ao Brasil por haitianos fugitivos da miséria no País, arrasado pelo terremoto do dia 12 de janeiro.
O Conare informou, por meio da assessoria de imprensa, que não há prazo estabelecido para o pedido ser analisado. Enquanto não sai a decisão de concessão ou não do refúgio, os haitianos têm trânsito livre no País, podendo se movimentar para outras regiões, segundo a informação do Comitê.
A análise vai considerar principalmente a entrevista concedida pelos estrangeiros em que eles são indagados, entre outras coisas, sobre os motivos de terem escolhido o Brasil. A solicitação de refúgio, apresentada à Delegacia de Imigração da Polícia Federal em Campo Grande, seguirá para a PF em Brasília e de lá para o Conare, para a análise.
Segundo o Campo Grande News apurou esse processo pode levar mais de 6 meses.
Ajuda - Depois de terem recebido a ordem de deixar o País em 3 dias, os haitianos conseguiram ficar no Brasil após uma mobilização que envolveu a Aliança Francesa em Campo Grande e a organização não governamental Psicólogos Sem Fronteiras. As duas enviaram ontem representantes ao Cetremi (Centro de Triagem do Migrante), para onde o grupo de fugitivos do terremoto foi levado após a prisão. O Conselho Estadual dos Direitos dos Negros também enviou representante.
O psicólogo Getúlio Gideão explicou que a ONG Psicólogos Sem Fronteiras, de que faz parte presta atendimento no Haiti aos militares brasileiros, e para isso integrantes fazem aula de francês, língua falada no País. As aulas são na Aliança Francesa e por isso a mobilização conjunta.
Gideão acompanhou o grupo hoje cedo à Polícia Federal, junto com a cônsul honorária da França, Arlete Saddi Chaves. Segundo ele, os haitianos disseram ter gostado muito do Brasil e que procuraram o País por conta da convivência com os militares brasileiros em missão de paz na terra deles.
Também citaram o fato de se sentirem mais à vontade por haver muitos negros na população brasileira. O futebol foi outra característica do Brasil lembrada pelos haitianos, que foram às ruas aos milhares, quando o jogador Ronaldo esteve na terra por lá.
O grupo que está em Mato Grosso do sul viajou mais de 4,2 mil quilômetros. Saíram do Haiti, passaram pelo Panamá, pelo Peru e entraram no Brasil pela fronteira com a Bolívia, em Corumbá.
Por enquanto, a pretensão deles é de ficar em Campo Grande, conforme relataram. Nos próximos dias vão permanecer no Cetremi, onde têm autorização para ficar por cinco dias. Depois, ainda não há definição de onde serão abrigados.
As 14 pessoas, entre elas uma criança de 6 anos, chegaram a ficar sem comer por 3 dias, segundo contaram. Foi por isso que um deles, uma mulher, passou mal por inanição e foi levada para o posto de saúde do bairro Tiradentes ontem.
Acostumados a uma culinária bastante distinta da brasileira, agora eles receberam autorização para fazer as próprias refeições na cozinha do Cetremi.