“Reclamando do interior”, 89,5% de pacientes na Santa Casa são da Capital
Em março, foram apenas 2,1 mil atendimentos de pacientes do interior em mais de 20 mil
A sobrecarga de pacientes do interior de Mato Grosso do Sul, historicamente apontada como um dos principais motivos da superlotação na Santa Casa de Campo Grande, não se confirma nas estatísticas.
Segundo números do próprio hospital, de 1º a 29 de março, do total de atendimentos no hospital, 89,5% foram da Capital e apenas 10,4% de encaminhamentos de outros municípios.
Segundo informações da Santa Casa, este é o número oficial baseado nos encaminhamentos, mas, a quantidade de atendimentos pode ser maior por inúmeros motivos, alega.
Entre eles, está o fato de algumas pacientes virem para Campo Grande por conta própria e arrumam uma foram de comprovar que moram na Capital para conseguir o atendimento médico.
A assessoria do hospital informa que não há estimativa desse número extra-oficial e que não há como restringir este atendimento.
No período apontado, a Santa Casa de Campo Grande registrou 20.181 atendimentos e 18.078 são do município. Apenas 2.103 são de outras cidades.
Nos casos de urgência e emergência os números são menores ainda. Do total de 10.269 atendimentos, apenas 569 foram pacientes do interior.
As internações, que demandam procedimentos de maior complexidade, são um pouco maiores, ao todo, foram 2.046 e apenas 346 são de outras cidades do Estado.
Mesmo que pequenos em relação ao total de atendimentos, os casos de internações e emergência poderiam ser resolvidos em hospitais de referência de cada região.
Defesa - Em meio às dificuldades evidenciadas na saúde pública em Mato Grosso do Sul, o secretário adjunto da SES (Secretaria de Estado de Saúde), Eugênio de Barros, admite a falta de recursos, assim como há escassez de médicos para atendimento. “Mas não há como mudar a saúde pública da noite para o dia”, enfatizou Eugênio.
Para defender o setor público de saúde, Barros diz que, atualmente, a situação de atendimento não é diferente também em convênios particulares. “Se o paciente for para uma consulta num médico renomado, pode ficar na espera por dois ou três meses. Mas ninguém quer esperar no SUS”, critica.
Violência - Eugênio também cita que o aumento da população e os problemas relacionados à violência e acidentes de trânsito têm lotado os leitos de hospital, figurando como mais um fator para o colapso nos hospitais públicos.
“Às vezes um paciente fica dois ou três meses na Santa Casa por conta de um acidente de trânsito, o que gera tratamentos caros”, cita o especialista. A afirmação reforça a necessidade da criação de unidades especialistas em traumas, que geram grande demanda nos pronto-socorro dos hospitais públicos.
Embora admita as falhas, o secretário-adjunto faz questão de ressaltar que, no decorrer dos últimos anos, o setor também apresentou avanços.
“O atendimento no interior está longe de ser bom, mas simplesmente não existia há alguns anos. Hoje o Estado gasta R$ 1,1 milhão com medicamentos para tratamentos caros. A mortalidade infantil caiu e a expectativa de vida aumentou”, destacou.