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Cidades

Só cinco municípios de MS têm UTIs e 68% das vagas ficam na Capital

Estudo do TCE aponta que oferta é insuficiente e mal distribuída

Anahi Zurutuza | 04/07/2016 19:29
Corredores do pronto-socorro da Santa Casa quase sempre estão lotados (Foto: Guilherme Henri/Arquivo)
Corredores do pronto-socorro da Santa Casa quase sempre estão lotados (Foto: Guilherme Henri/Arquivo)

Estudo elaborado pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) aponta que a oferta de leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) em Mato Grosso do Sul é insuficiente e mal distribuída. O Estado tem 363 vagas para pacientes em estado gravíssimo, concentradas em cinco dos 79 municípios – Aquidauana, Campo Grande, Corumbá, Dourados e Três Lagoas.

A maior parte, 68%, fica na Capital. Deste total, 245 são para pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).

Não é à toa que, diariamente, Campo Grande recebe inúmeros pacientes do interior, que os três principais hospitais públicos da cidade – Santa Casa, HU (Hospital Universitário), e HR (Hospital Regional) – operam sempre no limite e que UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) se tornaram local para a internação “improvisada” de pacientes por mais de 24 horas, quando não deveriam.

Dos 248 leitos de UTI existentes na Capital, 163 – ou 66% – são para pacientes do SUS.

O percentual de vagas por habitantes está abaixo do que recomenda a OMS (Organização Mundial da Saúde), tanto em Mato Grosso do Sul quando em Campo Grande. O ideal seria três leitos para cada 10 mil habitantes, mas na rede pública do Estado a proporção é de 0,92 e na Capital, de 1,91.

Idosa de 80 anos ficou em UPA por três dias antes de ser levada para o El Kadri (Foto: Direto das Ruas)
Idosa de 80 anos ficou em UPA por três dias antes de ser levada para o El Kadri (Foto: Direto das Ruas)

Caos – O reflexo da falta de leitos é sentido nos pronto-socorros e UPAs. Com os CTIs (Centros de Tratamento Intensivo) lotados, todos os dias, hospitais têm de manter pacientes graves na ala vermelha, que deveria ser usada apenas para estabilização do doente. A partir daí ocorre efeito cascata: a emergência fica cheia e macas têm de ser posicionadas nos corredores.

No fim de semana, mais uma vez a falta de vagas em hospitais, principalmente de leitos de UTI, estourou nos postos de saúde 24 horas. Na tarde de sábado (2), a ala vermelha de ao menos três UPAs estavam sobrecarregadas, médicos tiveram de socorrer pacientes da emergência e, por isso, pacientes que chegavam às unidades amargavam espera de até cinco horas.

O Campo Grande News também relatou o caso de Camile Mendes Godoi, 12, que ficou internada na UPA do Jardim Leblon – no sudoeste da Capital – do início da tarde de sexta-feira (1º) até a noite de sábado (2). A suspeita é que a criança tenha a gripe A (H1N1).

O irmão de Camile, Bruno Hallysson de Moraes Godoi, teve de procurar plantão da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul. No sábado à noite, um o oficial de Justiça determinou a transferência da menina para o CTI do Hospital Regional.

Outro caso retratado pelo site foi de Mariana Felícia de Souza, 80, que ficou internada em estado crítico por três dias na UPA da Vila Almeida – oeste da cidade – à espera de uma UTI. Ela morreu na noite de sábado no Hospital El Kadri.

‘Vaga zero’ – “Tem dia que não tem vaga, nem comprando”, afirmou a diretora de Assistência em Saúde da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), Rosimeire Arias, ao ser questionada sobre a atual realidade da Capital. A secretaria costuma pagar para internar pacientes em hospitais particulares quando os públicos estão lotados.

Como parte da solução para o problema, ela cita as mudanças nas regras para a regulação de pacientes do interior para a Capital. “Desde sábado, toda a regulação está sendo feita pela central municipal. O pessoal do interior fala com a central estadual, que tem de conversar com a nossa para disponibilizar um leito”.

O objetivo é tentar evitar o paciente chamado de “vaga zero”, que é enviado de ambulância para Campo Grande mesmo quando não há leitos disponíveis.

Em fevereiro, Sebastião Nogueira da Silva, 62, morreu após ficar oito horas dentro ambulância no estacionamento do HU. Ele era um paciente “vaga zero” transferido de Costa Rica para a Capital.

Ampliação – O secretário de Estado de Saúde, Nelson Tavares, admite que a situação é preocupante, mas anuncia que o governo do Estado vai custear as criação de mais 30 leitos de UTI no interior para desafogar os hospitais de Campo Grande e outros 20 no HU e no HR da Capital.

Serão abertas dez vagas ainda neste mês no Hospital Regional de Nova Andradina e outras dez no Hospital da Vida, em Dourados, no próximo mês. Neste segundo semestre, o secretário promete mais dez leitos em Ponta Porã, além das UTIs na Capital.

“O importante é melhorar a distribuição geográfica também. Nova Andradina é estrategicamente muito importante. Ponta Porã também. O sul do Estado ficará abastecido”, ressaltou Tavares.

Segundo o secretário, o governo investirá R$ 100 mil por mês na manutenção dos leitos – R$ 2 mil mensais para cada vaga.

O estudo do TCE foi publicado no livro "Indicadores de Saúde", lançado na semana passada.

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