Trem do Pantanal fracassa seis anos depois e empresa suspende passeio
Depois de reduzir o percurso do Trem do Pantanal na tentativa de torná-lo mais atrativo, a Serra Verde Express resolveu suspender a atração turística. A empresa não falou o motivo da desativação e afirmou que aguarda reunião com o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) para resolver questões "determinantes" para a retomada das atividades.
Na época da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a linha saía de Campo Grande com destino a Corumbá tendo seu apogeu entre as décadas de 1960 e 1980. Quando a ALL Logística assumiu a concessão dos trilhos, o trecho foi reativado em 2009, mas como passeio. A Estação Indubrasil recebeu R$ 1,6 milhão em investimento e tornou-se o ponto de partida. A inauguração foi uma grande festa e contou até com a presença do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Entretanto, desde o começo da “fase turística”, o Trem do Pantanal apresentava sinais de que não daria certo. Na primeira viagem comercial, porém, os vagões saíram com menos de 40% da capacidade total.
Além disso, a viagem terminava em Miranda e não chegava até Corumbá, como no itinerário original. Paulo Duarte (PT), atual prefeito desse município, debateu a questão quando era deputado estadual e essa sempre foi a grande reivindicação dele. “Para mim, o fim do Trem do Pantanal não é surpresa”, opina.
Segundo ele, outro problema era que a locomotiva não conseguia atingir alta velocidade, tornando a viagem cansativa. Várias pessoas que fizeram o roteiro resolveram voltar para Campo Grande de van ou de ônibus para ganhar tempo. “Sem recuperação da ferrovia, aumentando a velocidade e as condições de segurança, fazendo com que chegasse ao trecho mais bonito, era um projeto natimorto”, relata.
Decadência – Em setembro de 2014, Campo Grande saiu da rota do percurso, que passou a ir apenas de Aquidauana até Miranda. A justificativa da Serra Verde Express, que administra outros passeios de trem no Paraná e Espírito Santo, foi tornar a viagem mais agradável.
Enquanto isso, a estação Indubrasil ficou às moscas. O abandono abriu margem para ação de vândalos. A depredação pode ser observada logo na guarita, já sem os vidros, pichada, suja. O letreiro com o nome do local já perdeu algumas letras e parte do forro de PVC foi arrancado, expondo a estrutura metálica por baixo dele.
Dentro do local restam apenas uns bancos de madeira aparentemente usados pelos passageiros enquanto aguardavam o transporte. Na plataforma, grandes vasos de madeira já não ostentam mais plantas. Pelos trilhos, mato alto.
“Para mim é muito triste eu ver como está acabando essa estação. Acho um desperdício de dinheiro, até porque os custos saíram do nosso bolso”, diz a dona de casa Idalina Benites Rafael, 59 anos, que mora nas imediações do prédio.
Mesmo durante o funcionamento, segundo ela, nunca houve grande movimento de pessoas. “Nunca foi cheio. Acho que foi um projeto que fracassou”, opina. Ela chegou a viajar no trem na época em que ele realmente chegava até o coração do Pantanal. Agora, o abandono afeta até mesmo a vida da moradora. “Vêm cobras e aranhas do matagal. Usuários de drogas invadem e tem muito barulho. Acabaram com tudo”, afirma.
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