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Em Pauta

A marcha do ódio dos jalecos brancos

Mário Sérgio Lorenzetto | 06/02/2017 07:08
 A marcha do ódio dos jalecos brancos

Ódio ao petista, ódio ao esquerdista. Ódio danado, ódio mortal. Ódio que vá, contínua herança. De luto e dor. A morte de Marisa Letícia foi acompanhada com profundo pesar pelos seus. Com ódio por tantos outros. Odeiem ele, ela não. Apenas dona de casa, ele sim, um fanfarrão.

Ódio feroz, cilício ardente. De raiva e fel. Ódio estridente, ódio sem termo. Ódio sem lei. Deuses de jaleco branco, prontos para não salvar, talvez matar. Dois médicos praticando o ódio. Trocando as vestes brancas da solidariedade pelo manto da repulsa e desrespeito. No extremo adeus apenas fé e esperança.

 A marcha do ódio dos jalecos brancos

Lula somos nós. O capitalismo de compadrio

No passado, as contestações e críticas ao capitalismo, sempre partiam dos intelectuais de esquerda, simpáticos ao socialismo ou ao comunismo. Mais recentemente, após o claro fracasso do comunismo e da vida mambembe do socialismo europeu, os economistas liberais engrossaram o coro e passaram a criticar os erros e desvios do sistema capitalista. Não o capitalismo em si, mas a apontar suas evidentes falhas.

A possibilidade de ascender da pobreza à riqueza foi reduzida no mundo todo. Um punhado de indivíduos ricos detêm poder exagerado nos países. Em muitos países o temor do domínio econômico das empresas norte americanas criou um pretexto para conceder privilégios e proteção aos empresários incompetentes locais - com frequência em nome do patriotismo. Os grandes bancos capturaram os melhores especialistas e passaram a ditar a pauta econômica e política. Não são poucos os nossos desvios.

A base dos problemas está no "capitalismo de compadrio". A relação promíscua e incestuosa entre os empresários e os governantes. Isso corrompe os princípios do sistema que deveria ser baseado na competição. É esse aspecto do capitalismo que fomenta a raiva. Muitos se ressentem dessa versão do compadrio: algumas pessoas ficam com todo o lucro injustamente.

Temos de distinguir entre governos pró-mercado e governos pró-empresários. A diferença é que em um governo pró-empresário algumas empresas fortes capturam o governo, ao passo que um governo pró-mercado cria um ambiente justo em que todos podem competir. Se as pessoas pudessem ser convencidas de que o sistema é pró-mercado e de que elas podem participar desse sistema com base em suas capacidades, elas veriam o capitalismo de forma muito mais positiva do que na situação em que veem que só o "compadre" se beneficia. Não é só o Lula que apodreceu nosso sistema capitalista. Quase todos os empresários e políticos aderiram a esse sistema de compadrio. Sair dele é uma tarefa que não pode ser delegada apenas ao sistema eleitoral. Nada mudará com a eleição de um novo presidente se as regras que beneficiam alguns empresários não mudarem.

 A marcha do ódio dos jalecos brancos

Quem quer aparecer ao lado de Trump?

Só a Amazon se negou a aparecer ao lado de Trump dentre as maiores empresas do Vale do Silício. Apple e sua turma acorreram em massa para o ritual de beija pés do ditador laranja. Mas sempre foi assim. E assim será. Não podemos nos esquecer que nos anos 30, do século passado,

Hugo Boss, uma das marcas de roupas masculinas de maior vendagem na atualidade, assinou um vantajoso contrato para desenhar e costurar uniformes nazistas.
Ferdinand Porsche criou, a pedido de Hitler, o Carocha. Reza a lenda que foi o próprio Hitler quem apelidou o carro da Porsche de "besouro".

A Siemens usou trabalhadores escravos para construir as câmaras de gás que iriam matá-los durante o Holocausto.

A simpática Fanta foi criada pela Coca-Cola para abastecer de refrigerante as tropas alemãs durante a Segunda Guerra.

A lista de marcas com um passado de associações com atos condenáveis é imensa, infinita. Em boa verdade, a história não absolve quase ninguém dessa banda da humanidade.

O nosso contexto é o de hoje. Algumas coisas aprendemos com os erros do passado. Daí a resistência de muitas marcas, artistas e de empresários de aparecer ao lado Trump.
Quando Spielberg nos apresentou a obra prima "A Lista de Schindler", involuntariamente, apontou uma direção muito clara: no futuro como eles querem ser retratados na imprensa e no cinema?

Como os que ajudaram em carnificinas, os que se omitiram por ganância, ou os que se opuseram ao diabo em forma de gente? Schindler é também uma marca de elevadores. Cada vez que entro nesse cubículo, suspenso por cabos, e leio esse nome, sinto-me aliviado. Há humanidade no meio da ganância.

Mas não nos iludamos. Ainda veremos muita gente e muitas marcas virando casaca. Fazendo questão de ser clicado ao lado do laranja vociferante. Não existe dúvida: o diabo é muito otimista quando pensa que pode piorar os gananciosos.

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