As primeiras trilhas e caminhos no Mato Grosso do Sul
Ainda que não soubessem nadar, espanhóis e portugueses, viajavam pelos nossos rios. O mato era lugar misterioso. Temiam. Não só pelos grandes animais - onças e serpentes - como pelos diminutos pernilongos e aranhas. Era muito difícil que alguém não tivesse maleita, a doença causada pelo parasita plasmodium, transmitida pela picada das fêmeas dos mosquitos.
Os caminhos de Cabeza de Vaca.
O espanhol Alvar Nuñez Cabeza de Vaca foi o primeiro europeu a chegar ao Mato Grosso do Sul em 1.542. É certo que desembarcou de suas grandes lanchas entre Porto Martinho e Corumbá. Não é possível precisar o lugar exato. Também não sabemos quais caminhos percorreu em terra, mas com absoluta certeza, percorreu muitos quilômetros do Pantanal. Ainda que esse conquistador tenha deixado por escrito por onde andou, suas referências terrestres não podem ser colocadas nos atuais mapas.
Do Paraguai até Aquidauana e Miranda.
O próximo caminho a ser percorrido pelos espanhóis começará em Assunção, no Paraguai. Os espanhóis chegarão na região de Naviraí. Por lá, só encontraram a fome e os ataques indígenas. Desistiram. Mas tomaram conhecimento, ainda que mínimo, de outras terras. Será o terceiro caminho a ser percorrido, chegando as atuais Aquidauana e Miranda. Fundarão a primeira cidade do Mato Grosso do Sul que denominarão Santiago de Xerez. Suas ruínas estão em uma fazenda de Aquidauana. Ainda que muitas viagens tenham realizado entre Aquidauana/Miranda até o Paraguai, não é possível mapear com precisão as trilhas que esses espanhóis percorriam.
As monções paulistas.
Passados aproximadamente duzentos anos, chegam os portugueses de São Paulo. O caminho por eles percorrido é quase todo aquático. Saem de uma cidadezinha paulista denominada Porto Feliz, próximo à Sorocaba e Itu, na margem do Tietê, criada com o nome de Araritaguaba - Pedra de Arara. Esse caminho é razoavelmente conhecido enquanto estavam percorrendo em canoas. Saiam de Porto Feliz, passavam por mais de dez corredeiras, que precisavam ser evitadas, indo para terra e carregando nas costas seus barcos, e chegavam na região de Três Lagoas. Novamente com barcos nas costas, entravam no Rio Pardo, chegando nas proximidades de Camapuã. É um caminho que pode ser colocado nos mapas com alguns pontos de interrogação.
As “Derrotas” de Joaquim Francisco Lopes.
Ainda que alguns estudiosos locais traduzam a palavra “derrota” como “anotações ou relatórios” o significado correto é “caminho”. Joaquim Francisco Lopes, conhecido como “Sertanejo”, foi o primeiro descendente de europeu a mapear boa parte do território do Mato Grosso do Sul.
Uma picada. O primeiro caminho descrito.
A primeira exploração, a partir de 1.829, foi no sertão da atual Paranaíba. Em 1.836, recebeu a missão do governo do Estado de abrir um caminho de Paranaíba a Miranda e, no ano seguinte, de transpor o rio Paraná, começando uma “picada por onde pudesse passar um cargueiro, até a vila de Piracicaba”. Em 1.837, Lopes arrumou um porto na barra do Córrego Água Limpa e iniciou essa picada, concluída um ano depois. Trabalho que lhe valeu um tanto de dinheiro e cem cabeças de vaca. Esse é o primeiro caminho totalmente descrito do Mato Grosso do Sul.
Uma comunicação entre os rios Paraná e Paraguai.
O trabalho contratado seguinte foi ainda mais difícil. Lopes trabalhou na abertura de caminhos, compreendendo varias viagens, para abrir uma comunicação fluvial do Paraná até o Paraguai. Assim, em 1.847, Lopes e comitiva entraram pelo rio Ivinhema e chegaram a Albuquerque, anotando o percurso, com detalhes riquíssimos, principalmente os referentes aos primeiros povoadores e os indígenas. E ainda fez a terceira viagem. Nessa, que seria a ultima, criou aquilo que seria a futura Nioaque, chamado de “varadouro”.
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