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Em Pauta

Como está o mundo após 10 anos de recessão?

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/07/2017 07:11
Como está o mundo após 10 anos de recessão?

Começou nos Estados Unidos. Estendeu-se para a Europa e atingiu o mundo. Como está o mundo após 10 anos da crise do subprime? Três conceitos para responder à questão. Diferente. Melhor, mas pouco. Estabilizado, mas com sérios riscos para o futuro.

Tudo começou em 17 de julho de 2007. Este foi o dia, há dez anos, em que foi dado o primeiro alerta aos mercados por parte do banco norte-americano Bear Stearns. Nesse dia, dois fundos de investimento, geridos pelo gigante financeiro, entraram em quebra irreversível, incapazes de garantir o reembolso do dinheiro investido pelos clientes. O seu valor era zero. Wall Street ignorou as evidências, apesar do Bear Sterns ter admitido a falência dos fundos.

Seguiu-se a aparatosa queda do Lehman Brothers, em 2008. A partir daí, uma onda de pânico, maior que o mais terrível tsunami, devastou as finanças do mundo todo. O Tesouro dos EUA teve de socorrer os bancos para evitar o colapso do sistema financeiro mundial. Pode soar estranho, mas um colapso no sistema financeiro brasileiro pode ocorrer ainda neste ano de 2017, na data em que o quase falecimento do sistema mundial é relembrado, basta o Pallocci contar toda a verdade, e não apenas parte dela. Mas retornemos ao planeta financeiro Terra.

Como está o mundo após 10 anos de recessão?

Um mundo diferente

As transações bancárias estão mais seguras, mais reguladas e fiscalizadas? Ou ainda corremos o risco de um novo colapso mundial? Os investimentos especulativos estão travados? Como serão os próximos 10 anos? A China representa o próximo grande risco a nível global? O sistema financeiro global assemelha-se ao Brasil. Muito foi escrito, um Everest de novas normas foram escritas, mas há pouca fiscalização. Muita lei e pouca ação para frear a loucura e ganância desenfreada dos mercados financeiros. Esse é um aparente ganho, mas só aparente.

O que há realmente de diferente é uma consciência maior dos riscos do mundo financeiro e de que há algumas questões de natureza ética também para essas mesas de roleta, para esse jogo de viciados alucinados. No outro lado dessa mesa, representando um grande risco, há uma massa monetária extraordinariamente maior. E com muito dinheiro em jogo, há mais espaço para asneiras. É verdade que os bancos estão mais regulados. Também é verdade que agora há alguma chance de pessoas serem responsabilizadas por qualquer grande crise que venha a surgir. Mas tanto dinheiro em cima da mesa de investimento é um risco enorme. Os investimento especulativos não foram erradicados. Sempre há investidores que gostam deles e deve ocorrer oferta crescente. Também é importante salientar que é "menos ruim" que invistam dentro desse sistema... pois, caso contrário, irão investir fora do sistema... o que é muito pior.

Como está o mundo após 10 anos de recessão?

Sistema financeiro chinês em poucas linhas

O gigante asiático é uma ficha diferente nessa roleta. Têm os quatro maiores bancos do mundo. Detêm as maiores reservas de dólares. Tanto dólar, que se os Estados Unidos fossem pagar suas dívidas para com esses bancos chineses, teriam de imprimir uma quantidade de dólar equivalente a dez florestas gigantescas. Não há dólar disponível no mundo para saldar essa divida. Os bancos chineses são os maiores investidores mundiais neste momento. Mas, felizmente, o governo chinês está forçando que ocorram em infraestrutura mundial e em consumo de sua população. Eles não estão livres para colocar suas montanhas de fichas em investimentos especulativos.

O sistema financeiro chinês está em um período de transição. Estão saindo dos investimentos públicos e em exportação para um modelo mais próximo do ocidental, onde o consumo privado é a maior rubrica do PIB. Essa transição é um dos fatores mais preocupantes para o sistema bancário mundial.

Como está o mundo após 10 anos de recessão?

Devagar, mas sem maiores obstáculos

A estabilização do sistema financeiro mundial foi essencial, mas implicou mais endividamento público. Hoje, com raras exceções, a economia mundial cresce a um ritmo lento e, apesar de todos os estímulos monetários em curso, revela ainda uma evidente dificuldade em subir a inflação para níveis recomendados, fruto do excesso de divida e da falta de investimento. O sistema bancário passou por muitas mudanças. Está mais capitalizado. É mais dependente dos bancos centrais que o fiscalizam com maior rigor. Sua atividade está mais segmentada, assim, é mais difícil encontrar um grande obstáculo que o derrube. E a relação com os clientes têm uma maior garantia.

A maior segurança vem de uma decisão: hoje, a almofada de capital das instituições financeiras pode absorver perdas 2 ou 3 vezes superior das que ocorreram em 2007.

Mas, tal como a China, o ocidente está em transição. Brevemente, os países ocidentais terão de se adaptar à normalização das taxas de juros que trará consequências para as seguradoras bancárias e para os orçamentos dos países.

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