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Em Pauta

Descemos da árvore para tomar cerveja?

Mário Sérgio Lorenzetto | 16/02/2017 07:08
Descemos da árvore para tomar cerveja?

Os humanos já tomavam bebidas alcoólicas bem antes da invenção da escrita. Análises químicas demonstraram que os chineses já fabricavam uma espécie de vinho - feito com arroz, mel e frutas - há 9 mil anos. Também há inúmera comprovações que no Irã já produziam vinho com uva há 7 mil anos. O mesmo vale para os Andes. As civilizações pré-incaicas bebiam a "chicha", uma cerveja de milho. Há fortes indícios de fabricação de bebidas alcoólicas no mundo todo. Qual a data do cauim, a cachaça de caju, milho ou mandioca de nossos índios?

Para muitos estudiosos isso não é uma coincidência. Acreditam que à partir dos rituais da Idade da Pedra, as propriedades do álcool para alterar a mente têm despertado nossa criatividade e impulsionado o desenvolvimento da linguagem, das artes e da religião. Para eles, beber é parte tão indissociável da condição humana que a nossa espécie poderia ser denominada "Homo bebedorus", homem que bebe.

A tese desses cientistas é que descemos da árvore para tomar uma cerveja. E não é brincadeira. Argumentam que as leveduras, essenciais para a fermentação e, consequentemente, produção da cerveja, já fermentavam frutas silvestres há 120 milhões de anos, quando as primeiras frutas apareceram no planeta. Onde há fruta, há etanol. Para nossos ancestrais que viviam em árvores, comer frutas era essencial. Especialmente as frutas que caiam no chão, mais fáceis de apanhar.

Caídas, são frutas fermentando. Elas têm etanol. Ao comer frutas caídas, adquirimos o gosto pelo álcool.

Os primatas que se aventuraram a descer das árvores ganharam acesso a uma nova fonte de alimento. Quem deles era capaz de sentir o cheiro do álcool e chegar primeiro à fruta ficava em vantagem competitiva. Esse indivíduo começou a derrotar competidores pois obtinha mais calorias. Para os que comiam mais frutas, e bebiam álcool, portanto, aumentava as probabilidades de serem bem-sucedidos na reprodução. Também sentiam uma suave onda de prazer no cérebro.

Esse "barato", reforçava o atrativo do novo estilo de vida. Essa teoria foi defendida pela primeira vez pelo fisiologista Robert Dudley que a denominou de "hipótese do macaco bêbado".

Descemos da árvore para tomar cerveja?

A linha do tempo das bebidas alcoólicas

200.000 a.C. - surge o Homo sapiens, que muito provavelmente, consumia frutas fermentadas, portanto, etanol.
   8.000 a.C. - domesticação da cevada, arroz e trigo.
   7.000 a.C. - primeira bebida alcoólica de Jiahu, na China.
   6.000 a.C. - domesticação de uvas.
   5.500 a.C. - primeiro vinho de uva de Hajji Firuz, no Irã.
   4.000 a.C. - primeira cerveja de cevada de Godin Tepe, no Irã.
   3.000 a.C. - civilizações egípcia e mesopotâmica fabricam cerveja e vinho em larga escala.
   2.000 a.C. - fenícios, gregos e cananeus difundem a vinicultura pelo Mediterrâneo.
   1.500 a.C. - cacau fermentado (bebida alcoólica) em Honduras.
   1.200 d.C. - médicos de Salerno, na Itália, usam a destilação árabe para produzir as primeiras cachaças europeias.

Descemos da árvore para tomar cerveja?

Surgimento de bebidas alcoólicas nas Américas

13.000 a.C. - surgem batatas silvestres no Chile. Hipótese: chicha de batata teria surgido?
7.000 a.C. - chicha feita com milho fermentado
4.000 a.C. - cerveja de mandioca na Amazônia, uma bebida forte obtida mastigando a raiz.
1.400 a.C. - vinho de cacau na América Central. Sopravam ar dentro de um recipiente contendo cacau e, depois, bebiam a espuma e o líquido.
600 d.C. - vinho de pimenta. O fruto da pimenteira peruana é fermentado e gerava um vinho forte.

Descemos da árvore para tomar cerveja?

A quem pertence a taça de vinho?

A história vem da Grécia antiga. Uma parte importantíssima da vida espiritual e intelectual dos gregos ocorria no "simpósio", reuniões regadas a vinho. O anfitrião misturava vinho e água em vasos decorados denominados "cratera" e serviam os convidados masculinos. A primeira taça era dedicada à saúde. A segunda, para o prazer. A terceira, para o sono. A quarta, à violência. A quinta ao tumulto. A sexta, à orgia. A sétima era dedicada ao olho roxo. A oitava, à polícia. A nona pertence ao humor bilioso e a décima, à loucura e à quebra da mobília.

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