Fome e osso: plantar mangueiras e criar camelos
Alguém já disse que ser elite, no Brasil, é o mesmo que almoçar e jantar há várias gerações. Hoje, entre nós, ao menos 20 milhões de pessoas passam fome ou comem ossos. A alienação, a falta de sensibilidade do brasileiro diante da fome é histórica. O conde D´Eu, marido da princesinha Isabel, que foi senador vitalício pelo Ceará, sem nunca ter estado no Ceará, ao integrar uma comissão de combate à fome, fez a "brilhante" sugestão de plantar mangueiras e ainda sugeriu que se importassem camelos.
Os condes modernos.
E, à maneira dos condes modernos, não falta quem aponte a virtude de ossos na cocção dos molhos sofisticados da gastronomia francesa, ou as reservas nutritivas dos desperdícios da cozinha, que servem às minhocas nas compostagens, mas poderiam muito bem ser aproveitadas por humanos na extrema pobreza.
É o auxílio mútuo, seu insensível.
As ONGs que buscam atender os famintos dão o alerta da diminuição drástica das doações voluntárias. Não é republicano um país cujo grito em favor da civilização depende de apenas um padre, de nome Júlio. Mais do que a seleção natural, é o "auxílio mútuo" que constrói uma comunidade forte de viventes, e é dele, sobretudo, que depende a civilização, conforme Charles Darwin demonstrou em "Descent of Man" - algo como "A Descendência do Homem". Os vínculos solidários que constituem a nação se esfarelam diante de tamanha tragédia.