Guerrilha em Aquidauana: o dia em que o "Gato que Ri", chorou
Quem viveu em Campo Grande na década de 60, lembrará do restaurante "Gato que Ri". Instalado à rua D.Aquino, frente às Lojas Americanas, pertencia ao paraguaio Ricardo Apolinário Granda, um exilado voluntariamente no Brasil. Era um centro cultural importante da cidade. Shows com Angela Maria, grupos paraguaios e mexicanos eram frequentes. Também era o ponto de encontro dos principais políticos da cidade. Os banquetes de posse do prefeito Mendes Canale e do governador Pedro Pedrossian foram realizados em seus salões.
Preso por emprestar a chácara a um grupo de guerrilheiros paraguaios.
Apesar da fama e prestígio, além de não se envolver com a política no Brasil, Ricardo Granda foi preso em 1.965 pelos militares brasileiros. A acusação foi a de ter emprestado sua chácara, em Aquidauana, ao coronel Arrua, dissidente do exército paraguaio, que também estava exilado por ter participado da Guerra Civil de 1.947, que dividiu o país vizinho. Gandra era um estudante "febrerista". Nessa chácara, ficaram mais de 20 paraguaios, todos exilados, treinando ações de guerrilha com o objetivo de derrubar a ditadura de Stroessner. Como tantos outros, esse grupamento não passava de sonhadores, só ofereciam perigo a pequenos animais que eventualmente abatiam no sítio.
12 meses de cadeia.
Julgado pelo Superior Tribunal Militar do Brasil, Ricardo Granda foi condenado a 12 meses de prisão. Logo mais, com o recurso do Ministério Público, a pena aumentaria para 18 meses. Quem o defendeu foi Wilson Barbosa Martins. Seria levado para a prisão em Cuiabá, mas um general de sobrenome Cardozo intercedeu por sua permanência em Campo Grande. Gandra recebeu o indulto natalino de 1.966. O Gato que Ri, chorou. Nunca mais seria o ponto de encontro cultural e de divertimento que embalou as noites de Campo Grande. O pedido de prisão foi feito por Stroessner.
A pauta da guerra.
A pauta que dividiu o Paraguai já era realidade em dezenas de países há duas décadas. Décimo terceiro salário e oito horas de trabalho não se afiguravam como problemas que levariam um povo às armas. Mas o país se dividiu ao meio. Exército, estudantes e trabalhadores se ombrearam com os "febreristas", os revoltosos. Aviação e "pinandy". a parcela mais pobre da população, apoiaram o ditador Higinio Morinigo. Com o apoio do ditador argentino Perón, Morinigo venceu a guerra. Seu coronel mais importante era Alfredo Stroessner, que logo a seguir, assumiria uma nova ditadura, e passaria a perseguir os 30.000 insurgentes exilados no Brasil e na Argentina.