Há pessoas predispostas geneticamente ao alcoolismo?
Há um livro publicado recentemente onde se analisa a relação entre a criatividade e as bebidas alcoólicas. Se intitula “El viaje a Echo Spring” e foi escrito pela reconhecida autora britânica Oliva Laing. Nele, encontramos o percurso de escritores como Ernest Hemingway e Scott Fitzgerald, mas, também encontramos uma ampla investigação cientifica sobre o processo que leva as pessoas a depender da bebida.
Interruptor cerebral.
Para compor seu trabalho, Olívia Laing entrevistou uma serie de médicos especialistas. Um deles - o doutor Petros Levounius - nos explica o mecanismo que ele denomina de “interruptor cerebral”. Esse é um dispositivo natural que põe em marcha o nosso próprio desastre. O citado interruptor se encontra no denominado “núcleo acumbens” do cérebro, grupo de neurônios encarregado do prazer e da recompensa. Um pequeno ponto localizado na região subcortical onde se controla a vontade que pode convertê-la em uma ação. Neste caso, a ação de beber. Segundo o doutor Levonius, há uma série de fatores sociais, psicológicos e a novidade - pelo menos para mim - genéticos. Esses três fatores unidos levam ao alcoolismo. Bem sei que a explicação do doutor Lavonius é complexa para quem desconhece a anatomia do cérebro. Basta lembrar que, conforme ele, a genética é importante para que alguém seja predisposto ao alcoolismo.
Bebida alcoólica altera o sistema nervoso.
Qualquer bebida alcoólica altera o sistema nervoso central. Essa é uma afirmação muito simples e de amplo conhecimento. Todavia, quando há predisposição - genética, social e psicológica - à medida que alguém vai dependendo da bebida cada vez mais, o cérebro tende a compensar os efeitos inibidores, aqueles efeitos que poderiam bloquear o consumo exagerado do álcool. Compensa, liberando neurotransmissores como a dopamina, mensageiro químico encarregado da excitação e do prazer. É por isso que quando uma pessoa deixa de beber se manifesta uma “erupção de ansiedade”, um vulcão interior pedindo pela bebida, pelo prazer. Nesse livro, há também um estudo do turco americano Zeynel Karcioglu que trata da afasia do bêbado. Os vazios que deixa na hora de falar. Essas lacunas, diz o doutor, "ocorrem como consequência do álcool no hipocampo”, mas essa é outra história.