Maternidade e liberdade: o grito de mulheres que não querem ser mães
Tema é abordado no livro 'Não Quero Ser Mãe', da jornalista e psicanalista Eliene Smith
Desde pequenas, muitas mulheres escutam que nasceram para ser mães. Bonecas são dadas como presente, histórias infantis exaltam a maternidade como destino inevitável, e a sociedade parece ter um roteiro pronto: crescer, casar e ter filhos. Mas e quando essa narrativa não faz sentido?
O livro "Não Quero Ser Mãe", da jornalista, psicanalista e escritora Eliene Smith, se apresenta como um grito de socorro. Não apenas da autora, mas de inúmeras mulheres que por diferentes razões, questionam ou rejeitam a maternidade. Mais que um título provocativo, a obra mergulha em histórias de dor, abandono e dilemas vividos por aquelas que, muitas vezes, não tiveram escolha.
Eliene explica que o livro é uma obra de ficção que retrata uma realidade viva e comum. A história apresenta duas personagens centrais: Camila, uma adolescente de 16 anos da periferia, grávida e abandonada pelo namorado; e Fabiana, uma jornalista que, ao cobrir um caso de superlotação em uma unidade de saúde, acaba se deparando com o desespero da jovem.
"Eu não queria que fosse um livro que brigasse com os discursos polarizados sobre maternidade e aborto. Eu queria mostrar a mulher por trás de tudo isso. O que ela sente, o drama que enfrenta, o abandono emocional e social”, explica a autora.
A trajetória de Eliene como escritora começou com sua própria vivência. Formada em jornalismo, sempre esteve cercada de histórias impactantes. Com o tempo, percebeu que muitas dessas histórias precisavam ser contadas de outra forma.
O estalo veio quando duas sobrinhas engravidaram ainda adolescentes. "Foi quando percebi que não podia mais ser apenas espectadora. Eu precisava entender o que estava acontecendo e dar voz a essas mulheres", conta.
Ao longo dos anos, Eliene ouviu dezenas de relatos de adolescentes que enfrentaram gestações indesejadas. Algumas foram abandonadas pelos pais dos bebês, outras cogitaram o aborto, mas desistiram. Outras foram obrigadas a manter a gravidez, sem qualquer apoio.
"Eu sempre tive essa coisa de atrair confidências. As pessoas olham para mim e querem contar suas histórias", brinca. E foi dessas conversas que surgiu o desejo de transformar esses relatos em ficção carregada de verdades.
O peso da maternidade imposta - A discussão levantada no livro vai além da gravidez precoce. Ele questiona a ideia de que todas as mulheres nasceram para ser mães.
"Até para criar uma criança, a mulher precisa estar emocionalmente bem", defende a autora. "A gestação deveria ser uma escolha consciente, mas, muitas vezes, acontece sem planejamento e sem suporte da sociedade", acrescenta.
Para Eliene, a chave para mudar esse cenário está na educação. Ela reforça que o tema ainda é tratado como tabu dentro das escolas e das próprias famílias. "Perguntei para várias meninas se tinham debates sobre planejamento reprodutivo em casa ou na escola. A maioria respondeu que não", relata.
Nas pesquisas que dão norte ao livro, a jornalista conta que encontrou dados que comprovam a realidade alarmante. “Apenas entre janeiro e agosto de 2024, Mato Grosso do Sul registrou 3.370 casos de gravidez em adolescentes de até 19 anos. Desses, 149 envolviam meninas de até 14 anos”, afirma.
"O livro é um pedido de socorro para que a sociedade escute essas mulheres", explica Eliene.
Mesmo tocando no assunto sensível, a autora é mãe. Teve seu primeiro filho aos 20 anos, e a segunda aos 30. Apesar de nunca ter se arrependido, admite que, se tivesse mais informações na época, talvez tivesse esperado mais.
"Se eu tivesse recebido a instrução que tenho hoje, talvez tivesse me preparado melhor para a maternidade", reflete.
O que Eliene propõe com "Não Quero Ser Mãe" não é uma defesa contra a maternidade, mas sim a favor da escolha. Nem toda mulher sonha em ser mãe, e aquelas que engravidam precisam ter direito ao suporte necessário para decidir seus caminhos.
Serviço - O lançamento será na sexta-feira (14), às 19 h, na biblioteca do Senac Hub Academy, na Rua do Parque, nº 75 – Centro (em frente ao Horto Florestal). O evento é aberto ao público e tem entrada gratuita.
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