Insulte com criatividade. O insulto une a humanidade
Você o sente nascer em um espaço do estômago. Lentamente. Pouco a pouco vai sendo composto, de maneira lânguida, deliciosa, polindo as arestas. Desenha o alcance e o impacto. Ascende desde tua mais profunda entranha. Tomar ar nos pulmões. Saca força no teu coração. Se encaminha para tua boca. Subglote, glote, epiglote, cordas vocais que timbram alegres. E chega até teus lábios. Esse é o insulto. Une a humanidade.
Do homem das cavernas ao astronauta, do pároco à puta: antologia do insulto.
Não conhecem a data, mas restam poucas dúvidas que as primeiras palavras professadas com clareza pela boca de um hominideo que podemos chamar homo sapiens tenha sido um insulto.
Podemos constatar sua existência desde os arbores da civilização. A Epopéia de Gilgamesh, a narrativa épica mais antiga que conhecemos, está abarrotada de insultos. Insultinhos, palavras como "hediondo", aparecendo aqui e acolá.
Surge, também, de forma paralela, a mímica para acompanhar os insultos. Desde os tempos homéricos colocavam a mão fechada com o dedo mais longo muito extendido. É como se o insulto tivesse uma segunda boca para ser expressado. A Grécia e a Roma imperial já se expressavam com esse dedo dirigido a quem se insulta.
Eram imprecações sem muita maldade, algo como desejar que "apodreça no inferno", uma das mais usadas também pelos párocos da Idade Media. Se eles podiam, elas também se sentiam libertas para dirigir insultos. Mesmo em sociedades onde as mulheres viviam enclausuradas, um dedo apontando ou um "vá para o inferno" era comum. As putas se regalavam com insultos. Criavam. Alguns, que até hoje usamos, " filho da puta", por exemplo, são crias dessa época. Mas os melhores estavam nos banhos e banheiros públicos. Os romanos, país de nossa civilização, nos legaram muitas criações na nobre arte do insulto. Coisas como " planíssimus" ( tonto, bobo), "verbero" ( que merece ser açoitado) ou o muito sonoro " furcifer" ( ladrão, não como acusação, mas como xingamento). Além do mais, foram os romanos que entregueram um insulto bem atual: "pathicus" é o nosso bastardo. Quando o " pathicus" viajou para o Brasil, passando por Espanha e Portugal, virou " viado", palavra hoje proibida e derrotada, que foi beber nos EUA e voltou "gay".
Viagem ao país do insulto.
Se há algo que une a toda a humanidade, por cima de credos, procedências ou ideologias é a tendência natural de insultar seus semelhantes. Cada cultura têm os insultos que merece.
Há algumas bases de dados dos insultos que são comuns em todo o mundo. Só mudam as palavras, mas aquilo que expressam, são universais. As palavras, que por exemplo, se referem ao pênis (cazzo), à vagina (figa) ou à vida pública da progenitora (figlio di puttana), todos em italiano, mas correntes em todo o mundo. Também, claro, as maldições familiares. O insulto sérvio "me cago em todos da primeira fila de teu funeral", é um clássico. Não há quem não se estarreça. Há os que te convidam, "amavelmente ", a ir a certos lugares ou realizar certas atividades. Em francês te dizem "va te faire mettre" (vai te fod...), como soa tão bem, custa a nos ofender.
Depois, há toda uma caterva de expressões idiomáticas e regionais que merecem destaque. Algumas, de tão repetidas, parecem ter perdido o significado original. Do inglês, "motherfucker" .
O mais terrível insulto vem da Dinamarca. Esse país que adora unicórnios e considerado exemplo de civilidade, criou o " es kors i røven" (que te metam uma cruz no ....). No educadíssimo idioma japonês vem "kuttabare" (suma daqui, morra, foda-se), um insulto para três xingamentos. São econômicos esses japoneses. Na área do econômico, os russos também têm vez. É do frio siberiano que vem "yob tvoyu mat " (que pode significar beijei tua mãe ou saia de minha vista). Para os que irão à Copa do Mundo, saibam que " júy", em russo, significa pênis ou imbecil.
Sejam originais em suas reuniões familiares ou de amigos. Insultem com criatividade.