Médicos Sem Fronteiras e Cruz Vermelha, a medicina humanitária
Essa história começa durante as guerras napoleônicas. Dominique Larrey, barão e cirurgião-chefe da guarda de Napoleão, teve uma ideia inovadora: um ferido não tem uniforme, dizia. Para ele, um médico deveria tratar os doentes franceses em igualdade a um russo, um austríaco ou inglês. Visionário e humanista.
A generosidade o salvou.
Tudo que vai, volta. A ideia generosa desse barão salvou sua vida. Na batalha de Waterloo, o barão foi tomado prisioneiro pelos prussianos. Levaram-no para a execução. Em circunstâncias dignas de um romance, ele foi reconhecido por um marechal. Este lembrou, no último instante, que o barão salvara a vida de seu filho. O barão voltou para casa. A história merece ser contada....
A batalha de Solferino mudou o mundo.
Em junho de 1859, ocorreu a batalha de Solferino. Uma batalha desordenada, em condições difíceis, debaixo de um sol escaldante. Ceifou a vida de 40 mil soldados. O socorro foi mal organizado. As ideias do barão ainda estavam verdes. Milhares morreram por falta de atendimento. Mas um jovem banqueiro suíço visitou o campo de batalha e de lá, saiu horrorizado. Começou a organizar os primeiros socorros. Seu nome era Henry Dunant. Dessa experiência, publicou um livro que abalou a Europa. "Un souvenir de Solferino", uma lembrança de Solferino, virou um best-seller e mudou o mundo. Nascia a Cruz Vermelha.
Do fracasso do movimento estudantil de 1968 nasceu o Médicos Sem Fronteiras.
Seria preciso esperar até 1968 para que uma segunda onda de medicina humanitária viesse à luz. A crítica à Cruz Vermelha era que ela só atendia os feridos e doentes de países que solicitassem seus préstimos. E haviam muitos que não admitiam essa "ingerência ". O princípio do Médicos Sem Fronteiras é exatamente o de ingerir em todos os lugares que deles necessitassem, sem pedido algum. Biafra mudaria os rumos da medicina humanitária.
As crianças de Biafra.
Meia dúzia de jovens médicos, saídos das refregas do movimento estudantil francês de 1968, viram na televisão em preto e branco, as silhuetas de barrigas inchadas e dos membros descarnados das crianças de Biafra. Os olhos muito abertos das crianças do povo "Ibo", voltados para o horror de uma terrível guerra civil, não tinham como não mobilizar aqueles que não aceitam injustiças. Da desilusão nasceu a esperança. Max Récamier, Raymond Borel, Bernard Kouchner, Xavier Emanuelle e Philippe Bernier fundaram um grupo que faria a necessária "ingerência" na Biafra das crianças indefesas. E ainda socorreria as vítimas de uma inundação no Paquistão. Só faltava batizar essa associação de médicos. Surgiu um impasse entre eles. Alguns queriam denominar a associação de "Socorro Medico", outros, de "Urgências Internacionais". O toque de gênio veio de Bernier que sugeriu "Médicos Sem Fronteiras ".