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Em Pauta

Não podemos quebrar a parceria entre as gerações

Mário Sérgio Lorenzetto | 30/12/2016 07:50
Não podemos quebrar a parceria entre as gerações

O verdadeiro contrato social não é o contrato de Jean Jacques Rosseau entre o soberano e o povo, mas a parceria entre as gerações.

Só há comunidade e leis se os atuais detentores do dinheiro e do poder não sejam negligentes para com o que receberam de nossos ancestrais, como se fossemos os donos absolutos de tudo que há no Brasil. Não podemos sequer imaginar que temos o poder de desperdiçar a "herança" que recebemos. Não podemos deixar como nosso legado uma ruína sem solução.

A sociedade é, de fato, um contrato. O Estado é uma parceria não só entre os que estão vivos, mas entre os que estão vivos, os que morreram e os que estão por nascer.
Nos governos passados iniciou-se uma ruptura assombrosa, e possivelmente sem paralelos, dessa parceria. Em nome do contrato social com os mais pobres faliram o país.

Talvez, o maior desafio que temos de enfrentar é como restaurar o contrato social entre as gerações. Reconheço que os obstáculos são intimidadores. Um dos obstáculos é o fato que os jovens pouco participam do debate da Reforma da Previdência. Eles deveriam estar à frente e não no fundo da trincheira. É surpreendente que os jovens se deixem levar pelo barulho dos mais velhos, se deixem enganar de maneira tão fácil.

Tudo será muito pior para eles. Se os jovens brasileiros soubessem o que é bom para eles, estariam todos exigindo a reforma. Um segundo problema é que a nossa democracia, como a maioria das ocidentais, desempenham um papel tão grande na redistribuição de renda que os políticos que defendem cortes de gastos quase sempre trombam com a oposição, bem organizada, daqueles que recebem salários dos serviços públicos e os que recebem benefícios do governo.

Uma saída seria uma ampla reforma dos orçamentos que reduzisse a liberdade de ação dos legisladores para piorar as contas públicas. E como pioram. Outra, é dar liberdade para o Banco Central para impedir os desastres das políticas monetárias.

Talvez não seja surpreendente que a maioria dos eleitores de hoje apoie políticas de desigualdade entre gerações. Afinal, os eleitores mais velhos estão mais propensos a votar que os mais novos. E os políticos são movidos a voto.

Tudo se tornou muito difícil no país. Mas temos de encontrar uma saída da bagunça instaurada pelos governantes anteriores.

Não podemos quebrar a parceria entre as gerações
Não podemos quebrar a parceria entre as gerações

Começou a corrida pela aposentadoria usando o fator previdenciário.

As incertezas que pairam sobre reformas da Previdência sempre levaram a corridas desabridas pela aposentadoria. A história se repete ainda que o governo venha garantindo uma regra de transição e a promessa de não mexer nos direitos adquiridos. A alternativa é pelo fator previdenciário, mesmo que isso signifique um benefício de valor menor.

O fator previdenciário permite a aposentadoria por tempo de contribuição, independentemente da idade. Mas, quanto menos idoso, menor é o valor do benefício. De julho a dezembro do ano passado, o fator previdenciário foi aplicado em 55% das aposentadorias concedidas. Neste ano, com as notícias de mudanças nas regras, aposentaram pelo fator previdenciário 58% dos trabalhadores.

Além das preocupações com o futuro incerto, o brasileiro é mais imediatista que outros povos. Não quer esperar mais quatro ou cinco anos para se aposentar pela regra 85/95 apesar da diferença de dinheiro a receber ser grande. O valor médio das aposentadorias pelo fator previdenciário é de R$ 1840 e o pela regra 85/95 é de R$ 2798.

Não podemos quebrar a parceria entre as gerações

Juízes começam a proibir celulares nas audiências.

Os celulares e tablets estão por toda parte. Nas audiências trabalhistas viraram motivo de atritos entre advogados e juízes. Em algumas varas eles estão sendo proibidos, mesmo com parecer favorável para seus usos dado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A proibição é justificada pela possibilidade de os advogados poderem passar instruções a testemunhas por mensagens de texto e, assim, influenciar o resultado de um julgamento.

Não podemos quebrar a parceria entre as gerações

A tele lenta faz sucesso na Noruega. Uma televisão que passa 18 horas seguidas de pesca do salmão.

Foram 134 horas seguidas vendo um barco navegar por toda a costa norueguesa, além das 18 horas de pesca do salmão. Quer mais lentidão? Segundo o El País, a tele lenta, apelido da televisão da Noruega, também passou por horas seguidas o ninho pré-fabricado de uma ave e a confecção de uma roupa - desde a retirada da lã das ovelhas até a produção final.

E a tele lenta não se cansa. Ocupou as telas, no aniversário da Constituição, para que a lei maior fosse lida em sua totalidade, um por um dos artigos. Na TV também já foram lidos todos os salmos cantados por todos os corais da Noruega, mais uma centena de horas no ar. A ideia é transmitir qualquer atividade cultural que apele aos valores da nação, dure o quanto durar.

Esse é o conceito inovador da Sakte-TV, a televisão estatal da Noruega. A notícia que correu mundo é o sucesso que vem fazendo. Na contramão das ultra-velozes, e voltadas apenas ao comércio, sem qualquer carga de patriotismo, televisões do mundo ocidental e do Brasil.

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