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Em Pauta

O dia do Arrependimento. Como a gula virou pecado e ciência

Mário Sérgio Lorenzetto | 26/12/2021 09:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

O 26 de dezembro une religiosos e ateus. É o dia do Arrependimento. Depois do jantar e almoço de natal, nada melhor que as promessas - nunca cumpridas - do emagrecimento canônico. Emagrecer virou um dos pilares da sociedade ocidental. A luta entre o glutão e o raquítico é eterna. Mas como a gula virou um pecado? E mais incrível, como saiu da igreja e foi parar nas ciências.


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A glutonaria na Idade Media, alma acima de tudo.

Avareza, ira, preguiça, vaidade, orgulho e, principalmente, a dupla luxuria e gula são as palavras que formam discursos que impossibilitam os corpos de alcançarem a elevação da alma. A regra monástica criou a luta contra o glutão. Seja pelo excesso da comida e/ou bebida, o glutão passou-as ser considerado um ser abjeto, um indivíduo que desestabilizava o corpo social estabelecido pela igreja católica. Os homens que viviam no claustro se apoiavam na filosofia estoica de Santo Agostinho: as questões da carne necessitam ser controladas para haver a salvação da alma.


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Glutão é mal educado.

São Tomas de Aquino cria a ideia de "justa medida". O ideal deixa de ser a privação alimentar ou do jejum. O modelo a ser seguido passa a ser o da moderação e das primeiras preocupações pedagógicas sobre os bons hábitos à mesa. Nesse ponto, o glutão deixa de ser pecador e passa a ser mal educado. Era um discurso próximo ao ideal de utilidade, que teria mais ênfase com a Reforma Protestante. Lutero e Calvino fizeram dos maus hábitos alimentares uma importante ferramenta de luta contra a Roma católica e sua multidão de obesos.


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Surge a gula honesta e os gourmets.

À partir do século XVII, surge a gula honesta. Esse modo de praticar alimentação se tornaria uma marca de educação, transcendendo os umbrais religiosos. Passa a ser um sinal de distinção social. Era fundamental controlar o apetite e controlá-lo diante dos alimentos. Surgia uma codificação dos horários. Ninguém, nem as crianças, podia atirar-se nos alimentos, comer escondido ou fora do horário estabelecido. Glutão era doentio. Em oposição, surgia a figura do gourmet: sujeito bem educado e com bons costumes à mesa.


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Glutão e o discurso da saúde.

Em 1803, foi publicado o "Almanach des gourmands". O autor, Grimond de Lá Reyniére, casava alimentação com moral, pedagogia e medicina. Autorizava a exercer os "prazeres da mesa" de acordo com os padrões morais impostos pela pedagogia daquele século. O almanaque era uma espécie de "catecismo" da alimentação. Fornecia regras bem definidas para usufruir adequadamente da "arte alimentar".


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E surge a ciência gastronômica.

A alimentação passaria a ser mais do que uma pedagogia ou um braço da medicina no XIX. Passa a ser uma ciência. Os novos estudos amparavam-se na anatomia, química, fisiologia, história e etnografia. Criaram a ciência que hoje chamamos "Nutrição".

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