O incrível hotel para rãs e a grande extinção dos anfíbios
A cidade de El Valle de Antón, no Panamá, fica no meio de uma cratera vulcânica. A cratera mede quase sete quilômetros de largura. A cidade tinha uma rua principal, uma delegacia e uma feira de rua. Além dos chapéus-panamá, a feira abrigava o que devia ser a maior coleção mundial de esculturas de rãs douradas. Vendiam esculturas de rãs descansando em folhas, apoiadas nas patas traseiras, segurando celulares, usando saias de babados, em pose de dança e até fumando cigarro com piteira. Era considerada o amuleto de sorte do país. Sua imagem estava impressa nos bilhetes de loteria.
O córrego das Mil Rãs e o hotel salvador.
Um riacho próximo da cidadezinha foi batizado de córrego das Mil Rãs. Caminhando por suas margens era difícil não pisar em alguma delas. Então as rãs douradas começaram a desaparecer. Inicialmente, apenas nessa região. Os primeiros estudos pareciam que elas estavam saudáveis. Mas, em seguida, desapareciam. Um mistério. A calamidade se espalhou. Em um raio de oitenta quilômetros já não havia rãs. Um grupo de biólogos dos EUA e do Panamá concluíram que as rãs corriam sério perigo. Tentaram preservar o que restava. Removeram algumas dezenas de casais da floresta para criá-las em um abrigo. Mas não conseguiram construir o prédio a tempo. Todas morreram de causa desconhecida. Não havia outro lugar para preservá-las. Em um lance genial, puseram os bichos que restaram em um hotel. Na verdade era uma pousada que eles alugaram.
Os maiores sobreviventes do planeta.
Os sapos, rãs, pererecas, salamandras, cobras-cegas saíram da água há 400 milhões de anos. Estão na terra muito antes dos mamíferos e dos pássaros. Também há muito mais tempo que os famosíssimos dinossauros. São os denominados anfíbios. A palavra vem do grego e significa "duas vidas", na água e na terra. Os egípcios achavam que surgia. pela cópula da terra com a água. No início do desaparecimento das rãs do Panamá, poucos cientistas se preocuparam. Não dava para pensar em extinção de animais tão duradouros. Bem provável que muito mais que as baratas. Mas a mortandade das rãs e sapos se espalhou por todos os continentes. Já não podiam discordar de que a extinção em massa de alguns anfíbios estava ocorrendo.
Mama África e Sopa de Sapo.
O que estava matando rãs e sapos era um fungo, que se espalhou pelo mundo. Uma parcela desses fungos, foi carregada mundo afora por rãs africanas que carregavam grandes quantidades sem adoecer. Nos anos 1.950 e 1.960, essas rãs africanas eram utilizadas em testes de gravidez mundo afora. Espalharam o fungo. As rãs-touro-americanas completaram a transmissão da infecção fúngica. Em alguns países da Europa, da Ásia e nos Andes, essas rãs entraram na culinária da moda, levando o fungo. O que resta dessas rãs ainda vive no hotel. Virou a arca de Noé das rãs. Não há como devolvê-las para o meio ambiente de onde saíram. Os fungos matadores de anfíbios as esperam. Estamos à beira da grande extinção dos anfíbios. Só deles?