O jacobinismo brasileiro
Muito se têm falado sobre jacobinismo no Brasil atual. Ele já existiu. O anti-estrangeirismo era sua tônica, mas era dirigido quase exclusivamente contra o português, no final do século XIX e início do passado. O português era o provocador da desordem econômica - especulador com gêneros alimentícios e ladrão nos pesos e medidas. São eles que aparecem como os grandes causadores de todos os males da vida republicana. Além da especulação no comércio de gêneros alimentícios, imputavam aos portugueses a especulação nos aluguéis de casas e casebres. Para os jornais daquela época, isso tudo era muito grave, especialmente porque eles estavam representados no Conselho Municipal. A solução apregoada pelos jacobinos era aquela repetida pelos quatro cantos do Rio de Janeiro: a violência.
"Galego, vai para tua terra".
Assim, a cada dia trilhado no Brasil, o grito de "galego, vai para tua terra" era renovado. O ódio ao português se reafirmava e penetrava capilarmente nos poros dos brasileiros. Eram "enganadores, ambiciosos, gananciosos, vilões, espertalhões nauseabundos e rotos". Escarnecidos nas ruas e até na poesia. Pregavam a guerra crua aos portugueses. "O antilusitanismo expressava-se através do jacobinismo", seu meio de comunicação era o jornal "O Jacobino". Para eles, o português era associado ao atraso, originário dos tempos coloniais e da época da monarquia. O português conspurcaria o País "gigante" e "poderoso", cujo destino seria o triunfo. Aspiravam a nacionalização dos negócios de portugueses, além do esforço de proibir-lhes de ocupar cargos públicos, que deveriam ser para os brasileiros.
O jornal "O Jacobino" listava uma série de atividades que era monopólio dos lusos: de retalhistas, de carris urbanos, de lenha e carvão, de carruagens, transporte de cargas, açougueiros e marchantes, fora as "duas terças partes dos prédios urbanos que pertencem aos portugueses". Eram considerados exploradores do povo, monopolizadores que atrapalhavam o progresso.
Não havia a internet, mas a poesia era a arma do jacobinismo.
"A letra mais infeliz do alfabeto é o P! / Com p se escreve: piolho, percevejo, pulga, praga, peste, porco, parvo, penhora, prostituição, perigo, pústula e... português!!! Que letra ruim!" E havia poesia ainda mais agressiva. O ódio fervilhava:
Trecho da poesia "Aos marotos"
(Para se cantar ao som da viola com a toada da "Mulatinha do caroço")
"Vamos, pois; todos unidos
Resolvidos.
Expulsar esses vilões
Desde o espertalhão padeiro,
O taberneiro
Até os grandes barões
Que se vão para Lisboa
Terra boa
Como dizem esses garotos
Que de lá vem imundos
Nauseabundos
Todos sujos, todos rotos
Se a sua terra tão bela
Vão para ela
Ganhar dinheiro por lá;
Nós aqui não precisamos,
Nem rogamos
Que eles venham para cá".