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Em Pauta

O tempo de TV para os candidatos e o perigo contábil

Mário Sérgio Lorenzetto | 14/06/2016 08:20
O tempo de TV para os candidatos e o perigo contábil

A nova lei eleitoral encurtou a campanha de TV. Serão dois programas de dez minutos durante 35 dias. Anteriormente, funcionava com dois programas de 25 minutos durante 45 dias. Mas engana-se quem imagina que a campanha de TV efetivamente diminuiu. O número de comerciais, aqueles spots que pegam o telespectador desavisado, aumentou enormemente. Eles somarão 70 minutos diariamente, mais do que o dobro da regra anterior.

Como cada spot terá duração de 30 a 60 segundos, os candidatos podem vir a aparecer no meio da programação da TV até 140 vezes por dia. E essa conta também é válida, parcialmente, para os candidatos a vereador. A lei reservou 40% do tempo televisivo para eles. Com isso, mais uma vez o Congresso enrolou a população.

Mas mais enrolados estarão os candidatos. A economia de custos que imaginavam foi anulada pelos gastos extras com o acréscimo de spots. Pelo contrário, via de regra, os spots são mais caros por serem mais elaborados. Os candidatos passarão por um pesadelo televisivo-contábil. A conta não fechará. Eles terão de limitar 70% dos gastos declarados em 2012. Não dá para cumprir sem caixa dois.

Hoje, um prefeito é cassado a cada oito dias por crime eleitoral. Imaginem o que ocorrerá no pós-eleição 2016...

O tempo de TV para os candidatos e o perigo contábil

O estágio final da democracia.

Há um antigo debate sobre a natureza dos diferentes sistemas políticos, sobre o modo como esses sistemas mudam ao longo do tempo, e como alguns deles podem, lentamente, acabar se transformando em outros. É provavelmente à partir da democracia, e de nenhum outro regime, que a tirania se estabelece. A democracia é o sistema político de máxima liberdade e igualdade, no qual todos os estilos de vida são permitidos. Quanto mais tempo durar a democracia, mais democrática ela se tornará. Suas liberdades, com o tempo, se multiplicariam. A igualdade se difundiria cada vez mais.

A deferência a qualquer tipo de autoridade ruiria. A tolerância a qualquer tipo de desigualdade ficaria sob intensa ameaça. O multiculturalismo e a liberdade sexual criariam uma cidade ou um país que seriam como um manto multicolorido.

Mas esse é também um regime essencialmente instável. À medida que a autoridade das elites se esvai, que os valores tradicionais cedem aos valores das massas, as visões de mundo e as identidades das pessoas podem terminar por se tornar tão diversas que acabam se esvaindo. Quando todos são iguais, quando as elites são desprezadas e se estabelece a plena licença de cada um fazer o que quiser, atinge-se, então o que se poderia chamar de "estágio final da democracia".

Os ricos passam a ser atacados. As hierarquias familiares são invertidas - o filho se habitua a ser como seu pai e a não ter vergonha nem temê-lo. O professor tem medo dos alunos e passa a bajulá-los. Os animais são considerados iguais aos humanos. Assim, muitas vezes, surge um aspirante à tirania e tira proveito do sistema político.

Essa é a ideia contida no "A República", de Platão, um trecho perturbante, surpreendente e atual após tantos séculos. Faz parte do diálogo entre Sócrates e seus amigos sobre a natureza dos sistemas políticos. É claro que o Brasil não o leu ou não soube entendê-lo.

O tempo de TV para os candidatos e o perigo contábil

O Partido dos Indignados.

Não há exagero em afirmar que vivemos em sociedades exasperadas. Por motivos mais que suficientes em alguns casos e por outros menos razoáveis, multiplicam-se os movimentos de rechaço, raiva ou medo. O alvo é qualquer "establishment" estagnado, que consideram alheio ao interesse geral e impotente na hora de enfrentar aos principais problemas que agoniam as pessoas.

Provavelmente tudo isso deva ser explicado pelas mudanças sociais que sofremos e nossa incapacidade de entende-las, bem como de governá-las. Assistimos a um conjunto de transformações profundas e brutais de nossas formas de vida. Há quem culpe essas transformações à globalização, outros à tecnologia ou a uma crise de valores. Há decepcionados por todos os lados e por muitos diferentes motivos, frequentemente contraditórios, na direita e na esquerda, aos que decepcionaram o povo pobre e a elite. Em todos os lugares cresce o Partido dos Indignados. As eleições escolhem aqueles que melhor representam a gestão do mal-estar. E não há nada pior que aparecer perante a opinião pública como quem se resigna ante o atual estado de coisas, o que provavelmente explica as dificuldades dos partidos tradicionais, que são mais conscientes dos limites da política, mas também se apresentam como os menos capazes de encarregar-se das novas agendas e ainda assumindo posições equilibradas que acabam soando incompreensíveis para quem está enfurecido.

Mas falta reflexão à indignação. Por outro lado, deveríamos começar reconhecendo a grandeza da cólera política. Também temos boas razões para desconfiar das cóleras majoritárias. Elas costumam falhar, estrepitosamente, quando se trata de construir uma responsabilidade coletiva. É fato, a indignação está mais interessada em denunciar que em construir. Isso é o que lhe confere a força, mas também explica seus limites na hora de traduzir-se em iniciativas políticas. Pela história, encontramos tantas outras sociedades exacerbadas que não conseguiu modificar nada, incluindo aquilo que suscitava tanta irritação. O principal problema que temos é como conseguir que a indignação não se reduza a uma agitação improdutiva e dê lugar a transformações efetivas de nossa sociedade. Muitos estão convencidos que nenhuma iniciativa transformadora é possível, desejam apenas a indignação pela indignação. Temos uma sociedade irritada e um sistema político inerte. Essa interação nada produz de novo, como teríamos direito de esperar dada a natureza dos problemas que temos de enfrentar.

A política foi reduzida a um caldo de interesses mesquinhos. A uma prática de gestão sem entusiasmo. E por outro lado, a paixões sem racionalidade. O confronto final entre gestores cinzentos da impotência e provocadores. Todos se esquecendo que nossas misérias deveriam ser governadas politicamente. Passou da hora de transformarmos essa amálgama de irritações em projetos e transformações reais.

O tempo de TV para os candidatos e o perigo contábil

Triplo C, uma nova crise econômica mundial.

A Pimco, maior gestora de fundos financeiros do mundo, alerta que haverá novos sustos nos mercados financeiros mundiais nas próximas semanas. Chama-se "Triplo C" e promete ser a nova ameaça aos mercados financeiros. A Pimco, no entanto, mantem uma visão de mercado de longo prazo moderadamente otimista. China, commodities (matérias primas) e central banks (bancos centrais) formam o Triplo C que, segundo a Pimco, representam os riscos que os mercados terão de enfrentar. Isso sem contar com a possível vitória no referendo que poderá ditar a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (o denominado Brexit). Perigo de alto risco que o Brasil insiste em não acompanhar.

Tudo indica que o Fed (Banco Central dos Estados Unidos) prepara-se para subir as taxas de juros, este mês ou o mais tardar em julho, enquanto a China está permitindo uma maior flutuação do yuan face ao dólar. No longo prazo, o cenário da Pimco é de uma economia e cenário estáveis, mas não seguros. O aumento da dívida mundial, uma política monetária cada vez menos eficaz e o aumento do populismo político poderão ser os fatores de instabilidade.

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