Os Trads fazem parte da disputa entre palestinos e judeus
O componente chave - e pouco esclarecido no Brasil - na violência entre Israel e Palestina não é a religião, são as terras e as águas. Esse embate inicia no fim do Império Otomano quando o sionismo - um movimento judeu internacional - pressiona o mundo pelo estabelecimento, e depois pelo apoio, de um Estado Judeu. Na prática, isso significou a expropriação de terras da população árabe palestina.
O Fundo Nacional Judaico.
Desde a fundação, em 1901, do Fundo Nacional Judaico - uma organização que comprava terras para uma futura pátria judaica - o objetivo dos sionistas era comprar aldeias contíguas no que então eram as planícies da Palestina que pertencia ao Império Otomano. Os sionistas visavam uma área em forma de "N" formada pelas terras mais férteis da região. Esse acordo, em forma de "N", se tornou o modelo para o plano de partição da ONU, em 1947, entre a Palestina e aquele que seria o futuro Estado de Israel.
As terras em "N" pertenciam a famílias que viviam em Beirute.
As terras que os sionistas visavam comprar pertenciam a empresas chefiadas por famílias que viviam em Beirute: Trads, Khuris, Sursuqs, Bustruses, Debbases, Hajjars e Tueinis. Essas empresas familiares tornaram-se grandes empresas capitalistas globais durante o século XIX, investindo em manufatura e comércio na Índia, Alemanha e Inglaterra.
A narrativa sionista era de ocupação de terras "vazias".
A narrativa sionista - tanto no início do século XX quanto hoje - é a de que essas terras em "N", de famílias de Beirute, estava vazia e na mão de proprietários ausentes, que sequer as conheciam. Mas a propriedade dessas terras era um assunto mais sombrio, tinha mais de um reclamante.
Tecnicamente eram terras estatais do Império Otomano.
Em meados do século XIX, as terras agrícolas no Império Otomano eram tecnicamente de propriedade estatal, pertenciam ao governo otomano. As empresas e trabalhadores rurais árabes compraram muitas dessas terras, mas somente para o uso e não para terem a propriedade de fato. A encrenca é que os trabalhadores rurais as compraram e venderam como se fossem de fato proprietários com direito a compra e venda. O governo otomano havia reconhecido apenas o uso dessas terras para o plantio de olivais, árvores frutíferas, moinhos, casas e edifícios e até mesmo a direito de uso de águas. É dessa má interpretação de direito de uso e direito de compra e venda que nasce o grande conflito que se estabeleceu - e não terminará - entre israelenses e palestinos.